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Criador de 'Seinfeld', Larry David é o mestre em não fazer nada na quarentena

Quem melhor do que o mais famoso misantropo dos Estados Unidos para nos guiar durante o isolamento?

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Maureen Dowd
The New York Times

Nossas vidas agora dependem de ficar em casa e fazer nada.

Estamos trancafiados por não se sabe quanto tempo e a cada dia ficamos mais irascíveis.

Por isso decidi consultar o maior especialista mundial na arte do nada –o sujeito incansavelmente irascível cujo mantra sempre foi “não vale a pena sair de casa, para quê?”.

Larry David estava trancado em sua casa em Pacific Palisades, um bairro de Los Angeles. “Aqui ninguém entra”, disse o mais famoso misantropo dos Estados Unidos. “Só em caso de uma catástrofe com o encanamento eu abriria a porta.”

Perguntei o que ele mais teme, e a resposta foi “anarquia e uma possível emergência dentária —e não necessariamente nessa ordem”.

Muito tempo atrás, quando era um humorista de stand-up amargurado em Nova York, David às vezes interrompia seu monólogo subitamente e dizia ao público “é isso que acontece quando seu estoque de nada acaba”. Mais tarde, ele produziria duas das melhores séries da história da televisão, “Seinfeld” e “Curb Your Enthusiasm”, as duas sobre nada.

E agora, nesta temporada de praga, as odes de David às atividades banais estão oferecendo consolo àqueles de nós que sentem nostalgia pela era em que nossas vidas não eram opressivas e expostas a tantas consequências.

“É um prazer escapista”, disse Daniel D’Addario, o principal crítico de TV da revista Variety, que vem assistindo a um episódio de “Curb Your Enthusiasm” na hora do almoço e outro antes de dormir, a cada dia.

Ele não acredita que David virá se tornar alvo do ódio de classes que está varrendo Hollywood, com ataques às celebridades sem noção que lotaram o Instagram com seu repulsivo vídeo de “Imagine” e fotos glamorosas das mansões, iates e banheiras repletas de pétalas de rosa em que vivem suas quarentenas.

“Larry David está dizendo que você pode ter tanto dinheiro quanto quiser e ainda assim ser não só infeliz mas infeliz sobre as coisas mais cretinas —inveja, ciúmes e todos aqueles pecados veniais”, disse D’Addario. “Isso é algo que me faz sorrir, em oposição às celebridades que aconselham as pessoas a serem felizes, falando de dentro de seus condomínios de luxo, o que causa raiva.”

Perguntei a David, crítico social feroz dos costumes de Hollywood e definido por seu amigo Larry Charles como “uma Edith Wharton selvagem”, por que todas aquelas celebridades pareciam tão sem noção.

“Não sei, essa é a pergunta de US$ 64 mil [R$ 333 mil]”, ele disse. “Imagino que o instinto seja o de ajudar, que os motivos delas sejam bons, mas que elas não consideram a impressão que suas mensagens podem causar.” Mas, ele acrescentou, “acho uma completa falta de bom senso ficar falando de seu estilo de vida em um momento como esse; é insano; é óbvio que as pessoas vão reagir assim”.

David só apareceu para gravar uma mensagem de utilidade pública a pedido de Gavin Newson, o governador da Califórnia, pedindo para os californianos não serem “covidiotas”, ficarem em casa e não causarem mal “a pessoas velhas como eu”. Ele ficou um pouco envergonhado quando surgiu a notícia de que tinha criado uma página no GoFundMe para os carrinhos de golfe de seu querido Riviera Country Club, que fica ao lado de sua casa.

Estamos falando pelo FaceTime —algo de que David aprendeu a gostar durante a quarentena— e ele apanha o iPad para caminhar pela casa e me mostrar o campo de golfe deserto, da janela de seu quarto.

É minha primeira conversa no FaceTime e estou nervosa, tendo assistido durante a semana toda aos programas jornalísticos de visual normalmente refinado que agora são todos gravados no porão como “Quanto Mais Idiota Melhor”. Para ganhar confiança, pedi conselhos a Tom Ford, meu guru de iluminação, e ele gentilmente me enviou as seguintes instruções, que vocês todos estão livres para seguir.

“Coloque o computador sobre uma pilha de livros, para que a câmera fique ligeiramente acima de sua cabeça —mais ou menos na altura do topo de sua cabeça. Em seguida, aponte-a para baixo, para seus olhos. Monte uma luminária alta ao lado do computador, do lado de seu rosto que você considera mais fotogênico. A luz precisa estar alinhada com o computador mas um pouco atrás dele, para que recaia suavemente sobre seu rosto. Em seguida, coloque um papel ou uma toalha branca sobre a mesa à qual você está sentada, mas não deixe que ele apareça no enquadramento. Isso preenche as linhas e reflete a luz. Empoe bem o rosto, et voilà."

Fobia a germes confirmada

O desengonçado David, usando um pulôver Zegna azul, calças cor de ferrugem e tênis, está ostentando uma barba descuidada. “Pelos faciais de qualquer tipo beneficiam o homem careca”, ele disse. “Melhoram muito a aparência do homem careca.” Ele parecia confortavelmente acomodado em uma grande poltrona azul, em um canto da casa. Eu não estava tão confortável.

“Só estou vendo metade do seu rosto”, ele reclamou. “Você sabia disso?”

Quando perguntei se ele estava acumulando estoques de alguma coisa, ele ficou indignado. “Não acumulo coisa alguma”, ele disse. “Na verdade, se eu entrar dentro de alguns meses na casa de alguém e encontrar 50 rolos de papel higiênico em um armário qualquer, vou deixar de ser amigo da pessoa. É o equivalente a ser ladrão de cavalos no Velho Oeste.”

“Eu nunca poderia ter vivido no Velho Oeste”, ele acrescenta. “Viveria completamente paranoico pensando que alguém roubaria meu cavalo. Não havia fechaduras. Você só amarrava as rédeas em algum lugar! Como entrar no saloon e se divertir se você sabe que seu cavalo pode ser roubado a qualquer momento? Verificando constantemente para ter certeza de que ele ainda está lá?”

Jerry Seinfeld observou que David é a maior prova de que “você é o que é”, porque ele continuou a ser ranzinza mesmo depois de se tornar rico e famoso.

Ainda que David, 72, pareça se sentir mais confortável hoje em dia. Sua perspectiva era tão sombria que um dos roteiristas originais de “Seinfeld” comentou que, se ele tivesse certeza de que não seria pego, David contrataria alguém para matar pessoas.

Mas agora ele vive satisfeito em companhia de sua filha mais velha, Cazzie David, 25; um filhote de pastor australiano chamado Bernie (em referência a Bernie Sanders, que David incorpora com perfeição em participações no programa “Saturday Night Live”) e da namorada Ashley Underwood, que foi produtora de “Who Is America?”, a série de Sacha Baron Cohen.

Underwood é amiga de Isla Fisher, a mulher de Cohen, que teve uma participação hilária na mais recente temporada de “Curb Your Enthusiasm” como uma mulher que chora profissionalmente e manipula David para que ele lhe dê um casaquinho de sua mãe.

David conheceu Underwood na festa de aniversário de Cohen em 2017. “Estávamos sentados um ao lado do outro, e acho que o objetivo era esse”, ele disse, sobre o encontro arranjado. “Para surpresa dela, fui embora antes da sobremesa. Eu estava me saindo tão bem na conversa que não quis correr o risco de ficar lá por tempo demais e estragar a boa impressão.”

Ele e Cazzie David, que escreve colunas sarcásticas para o semanário digital Air Mail, de Graydon Carter, têm fobia profunda de germes. “Essa talvez seja a única coisa sobre a qual já concordei com Trump. Precisamos acabar com o aperto de mão”, disse David. “E poderíamos acabar com as relações sexuais, ao mesmo tempo. Sempre causou muito problema.”

Ele também concorda com o presidente sobre os atrativos do desinfetante para mãos, que teve papel importante na trama da mais recente temporada de sua série. “Quem consegue resistir a Purell?”, ele diz. “Basta ver uma embalagem que você quer usar.”

Agora que David não pode sair e discutir com os vizinhos, amigos, desconhecidos e o seu pessoal sobre questões como limpar ou não os óculos na blusa de uma mulher ou o formato regulamentar de um “putter” de golfe, ele precisa ranzinzar dentro de casa.

“Não há um momento no dia em que não exista fricção entre pelo menos dois de nós”, ele disse sobre o trio confinado. “E, quando isso se resolve, os outros dois estão furiosos um com o outro, e é sempre sobre a louça. Reclamações de que alguém não lavou a louça ou não ajudou com a louça. Acho que essa reclamação está sendo gritada no mundo inteiro, agora.”

“Outro motivo de briga é alguém começar a ver um programa sem esperar os outros. Grande problema! Você precisa pelo menos perguntar. Ashley não pergunta. Ela começa, e aí fica impossível recuperar o atraso. E eu a pego em flagrante. Se entro na sala, ela desliga a TV rapidinho.”

Cazzie David diz que o verdadeiro Larry David não começa brigas o tempo todo. Na verdade, é praticamente o oposto. “Considero que seja até irônico, considerando o personagem dele na TV, mas ele não suporta animosidades com qualquer pessoa.”

Cazzie disse que quando ela entra em uma briga com alguém da casa, “ele não suporta por um segundo". "É dolorido para ele. Lembro-me de quando eu e minha irmã éramos crianças e brigávamos sussurrando, porque ele ficava muito chateado se nos ouvia brigando, como se fosse fim do mundo que duas pessoas se zangassem uma com a outra. E era quase um crime estressá-lo, porque ele é muito gentil e bonzinho, na verdade, e sempre evitávamos irritá-lo, a qualquer preço.”

Ainda que as séries que tornaram Larry David famoso sejam sobre personagens resmungões, ele não tolera esse comportamento em casa.

“Se há alguém capaz de fazer com que você se sinta idiota por reclamar, é ele”, disse Cazzie. “Se me queixo, mesmo que só um pouquinho, sobre alguma coisa, ele costuma perguntar minha idade e, quando respondo, ele faz aquela coisa que todos os pais fazem: ‘Sabe onde eu estava quando tinha 25 anos? Vendendo revistas em uma estação de metrô. E era reservista do Exército’. Ele não suporta queixas de qualquer espécie, especialmente agora, vindas de gente que está confortável em casa.”

“Ele é muito contra qualquer forma de autopiedade. Acha que isso é a coisa mais repulsiva do mundo. Ele não permite sofrência. Quando éramos pequenas, ele não gostava que nos sentíssemos mal ou deprimidas. Não é algo que desperte a simpatia dele. Por isso, se você está deprimido ou se sentindo mal sobre alguma coisa, o conselho dele é que tome um banho. É como que a cura dele para o estresse mental. E caso não funcione, ele diz: ‘Então tome outro’.”

O poder do não

Larry David se aventura em caminhadas solitárias pelo bairro deserto. “Atravesso a rua quando vejo alguém se aproximando, como fazia quando era menino no Brooklyn e os garotos italianos roubavam meus trocados”, ele disse. “E, se a outra pessoa atravessa primeiro, sei que não deveria levar para o lado pessoal, mas é inevitável. Como ela ousa?”

Imagino como ele está se saindo sem restaurantes, que servem de cenário a muitas das cenas de suas séries.

“A única coisa positiva a sair disso, para mim, é a decisão sobre o almoço, que em períodos normais em geral demora uns 15 minutos”, ele disse. “Agora, nada disso. É peru ou atum. Não temos mais nada em casa.”

Aponto outro lado positivo para o antissocial David: a vida social parou completamente. “Eu admito que a falta de convites, sim, reconheço, é fantástica”, ele concorda. “Sim, amo esse lado da coisa. Não precisar inventar desculpas.” Em “Curb Your Enthusiasm”, o personagem de David —uma versão mais irritante e exagerada de sua personalidade real— mente constantemente para escapar de ir aos lugares a que é convidado. “Dizer não é um talento especial, porque o não raramente é direto”, ele disse. “Precisamos refletir muito sobre como dizer não. E os emails e mensagens de texto com que você diz não ocupam muito tempo e exigem muito esforço para selecionar as palavras certas.”

Cheryl Hines, que interpreta a ex-mulher de David em “Curb Your Enthusiasm”, diz que “aposto que Larry está no paraíso, ele já vinha tentando o distanciamento social há anos”.

David diz que a melhor maneira de evitar comportamento autodestrutivo durante a quarentena é pensar nela como “o equivalente a deixar de fumar". "Você simplesmente acorda um dia e decide que não vai fumar. Na quarentena, você precisa acordar e decidir que não vai perder o controle. É o único jeito de fazê-lo."

A crise resultou num novo vocabulário, muito mordaz: covidivórcio, bebês do corona, isolância. E em Hollywood há os “caras legais da pandemia”, um termo cunhado por sujeitos irritadiços que se veem repentinamente envolvidos em cortesias chocantes, como cumprimentar os pedestres, da janela do carro, e agradecer os lixeiros e policiais.

Durante o que ele chama de “pausa para o caos”, David, como sempre faz, está anotando em seu celular observações sobre esse capítulo sombrio na vida ensolarada da Califórnia, caso ele precise de inspiração nem que para uma cena de flashback na série.

Larry David in Curb Your Enthusiasm (2000)
Larry David em 'Curb Your Enthusiasm' - Divulgação

“Curb Your Enthusiasm” surgiu há duas décadas e acaba de concluir sua décima temporada. David disse que a mais recente safra, um alegre churrasco da cultura da correção política, pode ser sua favorita. Como sempre, o personagem dele perambula pela cidade, se envolvendo em situações complicadas e que terminam em desastre, por causa de questões sempre irrelevantes.

Depois de comprar um café frio e um “scone” com gosto de “muffin” na cafeteria Mocha Joe, Larry abre uma “loja revanche” na porta ao lado, chamada Latte Larry’s. Isso leva Sean Penn a abrir uma loja de aves exóticas ao lado de uma loja na qual ele foi desrespeitado e Mila Kunis a abrir uma joalheria ao lado de uma joalheria que ela quer ver fechada.

A história, tipicamente, foi inspirada por um incidente real. “Fui a uma loja em Martha’s Vineyard e pedi um café; veio meio frio. Reclamei disso, e eles não me deram qualquer satisfação. Saí da loja e havia um barraco do outro lado da rua. Eu estava zangado, claro, e pensei que queria comprar aquele barraco e construir uma réplica da loja, mas com preços mais baixos, só para tirá-los do negócio."

Não foi o que ele fez.

“Não. Meu Deus, não.”

David ficou chocado quando o presidente Trump tuitou uma cena do episódio em que Larry usa um boné com o lema “MAGA”, um dos slogans do presidente, para escapar de compromissos entre os progressistas de Hollywood, e termina por usá-lo para acalmar a raiva de um motociclista eleitor de Trump que está tento um surto psicótico na estrada. Trump tuitou uma cena da briga com o motociclista, com a legenda “os durões votam em Trump!”

“O que foi aquilo, em nome de Deus?”, David me perguntou. “Foi louco, louco. Não entendo. Ainda não compreendo.”

O programa de David é amado por alguns simpatizantes de Trump por ser muito politicamente incorreto e por Larry estar sempre resmungando contra o sistema. Mas ele disse à audiência de uma palestra que pouco se importava caso alienasse os eleitores de Trump, com o episódio do boné MAGA. “Podem se alienar! Vão! Vão e se alienem! Vocês têm minha permissão.”

Quando falamos sobre o presidente, David expressa espanto. ”Olha, é uma coisa espantosa. O cara não tem uma qualidade redentora que seja. Tome alguns dos piores ditadores da história e tenha certeza de que era possível encontrar alguma qualidade decente em todos eles. Stálin talvez tivesse alguma qualidade decente, vá saber.”

Ele disse que fica furioso com os briefings de Trump, nos quais ele contraria seus assessores científicos ao vivo. “É a parte mais difícil do dia, ver o que sai da boca daquele sujeito”, ele diz. “Você vira um maníaco e começa a gritar com a televisão. De repente você se apanha gritando, como acontecia comigo nas ruas de Nova York, antes de ‘Seinfeld’, sempre que eu via casais felizes na rua.”

Ele acha que Trump pode ser engraçado?

“Ele é como um humorista ruim dos montes Catskills”, respondeu David.

Ele disse que está assistindo ao documentário de Hillary Clinton no serviço de streaming Hulu.

“Obviamente não sou a primeira pessoa a dizer isso, mas você nunca tinha a sensação de que realmente a estava vendo. Sentir alguma afeição por ela era difícil. Mas se você a vê no documentário, começa a amá-la.”

O momento de Hillary sobre o qual ele não consegue parar de pensar é que ela não tenha se virado na direção de Trump quando ele invadiu seu espaço em um debate e lhe dito para sair de seu quadro.

“Eu repeti aquele momento em meu porão vezes sem conta, fingindo ser ela e tentando frases diferentes para dizer a ele”, disse David. “Eu testei coisas como ‘mas que diabos você pensa que está fazendo?’, ‘o que você acha que está fazendo?’ e ‘ sai fora, cara, o que você está fazendo?’.”

Ele está aliviado por não precisar viajar a Nova York nos finais de semana para fazer sua imitação de Sanders no humorístico “Saturday Night Live”.

“Imagine se ele tivesse se tornado presidente. O que teria acontecido com a minha vida?”, diz David.

Depois de ter descoberto em “Finding Your Roots”, programa de Henry Louis Gates Jr. na rede PBS, que Sanders era seu primo distante, David se encontrou com o político no programa “Today”, e Sanders o cumprimentou o chamando de primo. “Quando o vejo, sinto que estou falando com alguém da família”, disse David.

Perguntei se ele levou para o lado pessoal quando Hillary disse, sobre a reputação de Sanders no Congresso, que “ninguém gosta dele, ninguém quer trabalhar com ele”.

“Foi meio rude, sim”, respondeu David.

Ele acha que é hora de seu parente abandonar a disputa?

“Acho que ele deveria desistir”, disse David. “Porque ficou muito para trás. Não vai conseguir a indicação. E acho que não é hora de bobear. Todos precisam se unir em apoio a Biden.”

O que mais ele tem feito durante o confinamento?

David disse que está assistindo a “Ozark” e “Nada Ortodoxa”, na Netflix. Tentou assistir ao passatempo favorito dos americanos, “A Máfia dos Tigres”, mas não conseguiu passar do primeiro episódio. “Foi muito perturbador”, ele disse. “Os leões e tigres me assustaram muito. Achei que eles iam atacar alguém. Que eles iam matar alguém. Eu não queria vê-los atacar, e aquelas pessoas eram tão insanas. Não consegui assistir.”

David, que estrelou em “Tudo Pode Dar Certo”, dirigido por Woody Allen em 2009, disse estar lendo “Apropos of Nothing”, as memórias de Allen, lançadas pela Arcade Publishing depois que o Hachette Book Group cancelou o livro, sob pressão de outro de seus autores, Ronan Farrow, filho de Allen, e de outros protestos.

“É, é muito bom, um livro fantástico –muito engraçado”, disse David. “Você sente estar na sala com ele, e, sim, o livro é ótimo; é difícil sair pensando, depois de lê-lo, que aquele cara fez algo de errado.”

Digo a David que discordo de uma declaração que ele fez no passado, de que as pessoas não gostam de ver nas telas caras solteiros neuróticos, ou homens mais velhos, depois de uma certa idade. Já eu assistiria “Curb Your Enthusiasm” pelo resto da vida.

“O que eu penso é que Buster Keaton envelheceu”, ele disse. “Não sei. Ele era um comediante excelente, mas de repente —ninguém mais queria vê-lo. Nem os velhos gostam de assistir a outros velhos.”

David precisava desligar. Ele precisava voltar a fazer nada.

Tradução de Paulo Migliacci

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