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Cinema

Dramalhão da Turquia, 'Milagre na Cela 7' é um dos mais vistos da Netflix

Longa tem bons momentos, mas que só existem por causa de fragilidades em seu roteiro

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Milagre na Cela 7

  • Onde Disponível na Netflix
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Aras Bulut Iynemli, Nisa Sofiya Aksongur e Deniz Baysal
  • Produção Turquia, 2019
  • Direção Mehmet Ada Öztekin


Ultimamente tem havido uma sintonia estranha entre crítica e público. Filmes que fazem sucesso são majoritariamente elogiados pela crítica. Como pode? Brincadeiras à parte, isso provavelmente se deve ao rejuvenescimento da crítica e ao aumento da qualidade de algumas produções destinadas ao grande público.

Um bom exemplo, entre muitos, é “Coringa”, legitimado no Festival de Veneza, endossado pela crítica e adorado por boa parte do público. Pode não ter sido um estouro como “Vingadores: Ultimato”, mas fez lá seu estrago e se tornou assunto obrigatório por algum tempo.

O longa turco “Milagre na Cela 7”, de Mehmet Ada Öztekin, no entanto, é uma das refilmagens de um sucesso sul-coreano de 2013 e tem tudo para trazer novos atritos entre crítica e público.

Foi o maior sucesso de bilheteria na Turquia no ano passado e tem um aspecto de folhetim (enquanto o original era mais cômico) que tende a agradar um grande número de pessoas e a fazer críticos espumarem.

Não à toa, está entre os mais vistos da Netflix, plataforma na qual estreou em março. É um filme que apela demais para o sentimentalismo, ultrapassando com frequência o limite entre um bom melodrama e o dramalhão açucarado.

Na trama, o deficiente mental Memo é injustamente acusado da morte de uma colega de escola de sua filha, Ova. A vítima, por sua vez, é herdeira de um alto comandante do Exército, que não pensa duas vezes antes de manipular jurados e oficiais para condenar Memo ao enforcamento.

Os momentos de Memo no presídio e o progressivo entrosamento com os demais presos dão um aspecto realista interessante, que se contrapõe aos exageros sentimentais.

Eis que no meio do mar de açúcar surge a magia desconcertante de uma criança, uma atriz muito bem escolhida, fundamental para que suas cenas mais fortes funcionem —Nisa Sofiya Aksongur. É ela que torna mágico, por exemplo, o momento em que Ova visita o pai clandestinamente, com a ajuda de um presidiário com certo poder e influência sobre alguns guardas.

Nesses momentos, o filme alcança uma força que vem do simples encontro proibido entre pai e filha. Sua fraqueza, por ironia, é que as circunstâncias que fizeram o encontro ser proibido são mal pensadas e desenvolvidas.

Ou seja, os grandes momentos só existem porque algo na construção narrativa falhou, o que torna esses momentos, em retrospecto, mais frágeis.

Há o óbvio destaque da menina, que corta nossos corações, mas é necessário apontar para o acerto da interpretação de Aras Bulut Iynemli, no papel muito difícil do deficiente mental. Sua atuação está no tom certo, entre o infantil e o sensível, respeitoso com pessoas nessa condição.

Outra grande atuação é a de Yurdaer Okur, como o comandante. É um vilão folhetinesco, uma pessoa totalmente do mal, que só não escorrega para o caricatural por causa do trabalho do ator.

Na corda bamba, o filme tem seu charme, sobretudo na maneira como mostra que os presidiários têm muito mais caráter que o comandante. Pena que tudo seja prejudicado por um acúmulo de clichês acima do tolerável.

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