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É impossível não maratonar a série sul-coreana 'Kingdom'

Produção na Netflix junta 'The Walking Dead', samurais e intrigas palacianas na história

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Kingdom

  • Onde Disponível na Netflix
  • Elenco Ji-Hoon Ju, Doona Bae, Kim Sungkyu
  • Direção Seong-hun Kim

“Kingdom”, série sul-coreana produzida pela Netflix, é Shakespeare misturado com “The Walking Dead” numa ambientação de filme de samurai. Parece muita coisa na receita, mas o diretor Seong-hun Kim consegue apresentar a trama de forma irresistível.

É praticamente impossível não maratonar as duas temporadas de seis episódios.

Essa divisão, aliás, acaba se relevando só protocolar, já que esta é uma narrativa única narrada em 12 capítulos. O sexto episódio termina quando uma das batalhas cruciais da série está prestes a acontecer, o que exige assistir ao seguinte imediatamente. Não existe um ciclo se fechando a cada temporada.

É uma superprodução. As paisagens naturais são belíssimas, mesmo que evidentemente muito melhoradas com computador. Cenários e figurinos impressionam, tanto nas casas dos nobres como nas miseráveis condições de sobrevivência da ralé. É um reino situado numa época indeterminada, mas com características feudais.

Os atores são ótimos. Só dois rostos podem ser classificados como “conhecidos”. Doona Bae, que apareceu na badalada série “Sense8”, interpreta a médica Seo Bi, figura essencial na trama. Ela descobre como se propaga a epidemia de zumbis.

O protagonista é Ji-Hoon Ju, que seguidores do cinema asiático podem reconhecer de filmes cult como “Along with the Gods” e “Antigue”. Ele faz o papel do príncipe Lee Chang, herdeiro do trono que precisa enfrentar um complô político para evitar ser tirado do poder ao mesmo tempo em que seu povo é dizimado por hordas de zumbis.

É possível separar as duas partes da narrativa, que correm entrelaçadas.

O rei está gravemente doente e não aparece em público. Lee Chang, filho bastardo do monarca, é reconhecido como herdeiro, mas a jovem rainha está grávida pela primeira vez. Se tiver um filho homem, Lee Chang perde seu lugar na linha sucessória. O pai dela, Cho Hak Joo, é uma espécie de primeiro-ministro e grande vilão da trama. Ele arma várias situações para matar o príncipe.

Enquanto isso, numa vila distante, mortos-vivos começam a vagar pela noite querendo morder quem aparece. Como reza a regra dos zumbis, quem é mordido se transforma rapidamente numa dessas criaturas. A praga vai se espalhando, e um grupo de sobreviventes une forças para resistir. O príncipe, fugindo dos soldados de Cho Hak Joo, acaba encontrando os resistentes e passa a liderar o bando.

A união da trama palaciana com as frenéticas caçadas de zumbis acontece porque tudo começou com o rei. Logo no início da série, é revelado que o monarca foi o primeiro a virar morto-vivo e está preso em seu palácio.

Além de uma ótima costura desses dois lados do roteiro, a série surpreende pela violência sem limites, devastadora e engenhosamente filmada. Nenhum filme de zumbi conseguiu ser tão perturbador desde os primórdios do gênero com o americano George Romero em “A Noite dos Mortos-Vivos”, de 1968.

As cenas são brutais. Velhos e crianças são mastigados sem piedade, uma mãe mata a própria filha, uma selvageria abundante. A maquiagem das chagas dos zumbis e das mordidas nos combates são primorosas.

O diretor Seong-hun Kim fez antes o incrível “O Túnel”, drama angustiante de um homem preso num desmoronamento. Em “Kingdom”, ou reino, em inglês, exibe talento para cenas de grandes massas em batalhas, na combinação de violência e beleza plástica.

Com ajuda de um enredo cheio de surpresas, “Kingdom” também se encaixa no momento atual do planeta, o que deve ter contribuído muito para o sucesso da série.

A proliferação dos zumbis é tratada como “pandemia”.

Nas legendas que a Netflix oferece sobre o áudio original sul-coreano, a palavra usada é exatamente essa.

Para combater o surto, eles vão aos poucos isolando os vilarejos do reino. Mas, em “Kingdom”, o movimento “fique em casa” não é páreo para os mortos-vivos.

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