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Péssima, 'A Máfia dos Tigres' é um santuário da baixeza humana nos EUA

Série da Netflix tem nome enganoso e mostra brigas entre grupos de criadores de animais selvagens

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A Máfia dos Tigres

  • Quando Disponível na Netflix
  • Direção Eric Goode e Rebecca Chaiklin

“A Máfia dos Tigres”, série da Netflix, tem um título inadequado. Máfias são fraternidades regidas por um código de solidariedade. Briga-se, de tempos em tempos, mas existe entre mafiosos uma espécie de ética. O que temos aqui é o inverso –um grupo de criadores de tigres que aplicam golpes baixos uns nos outros em tempo mais ou menos integral e concorrem entre si pela qualificação de protetores de animais selvagens.

A dúvida cruel –são realmente selvagens? Esses seres razoavelmente repulsivos acumulam atitudes duvidosas. Joe Exotic –o Tiger King do título original da minissérie com sete miseráveis capítulos–, por exemplo, tem como ponto forte o carisma, graças ao qual entope seus visitantes (uma gente estranha, tipo manequim 48 vestindo roupas de tamanho 40) de bugigangas, ao mesmo tempo em que vende a ideia de que protege os bebês tigres (que os visitantes podem pegar, acariciar e fotografar) e dá grande liberdade aos tigrões do seu zoológico privado, que fica no quinto dos infernos de Oklahoma, como alguém definiu. De passagem, ele também grava músicas country.

Já Doc Antle é de outro tipo. Embora proclame também amor irrestrito aos animais, surge magistral em cena, montado num elefante e vestindo um chapéu de caçador de filme colonial.

Doc não é de abrir muito o seu zoológico. Mas os visitantes são contemplados com a visão, além dos animais, de garotas supostamente sexy que animam shows. As garotas constituem uma espécie de harém –são suas nove mulheres, como ele próprio define. Mamadeiras em animais e todo o ritual estão à disposição dos visitantes, no fundão da Carolina do Sul.

Doc e Exotic fazem negócios. Quando os tigres e leões que tanto dizem amar e preservar crescem, eles os vendem a outros zoológicos. Exotic já os vendeu em 28 estados.

A alegação para essas atividades é que cada visitante (que paga a entrada a peso de ouro) se apaixona pelos animais e passa a defender as florestas. A natureza pode ficar tranquila, então, está salva.

Do outro lado do ringue, encontram-se Carole Baskin e marido. Ela se diz uma ativista pelos direitos dos animais e quer que os tigres cresçam soltos, com espaço, nunca enjaulados. Baskin argumenta que, por maiores que sejam as jaulas de seus rivais, estes são espaços são inadequados aos grandes felinos que protege (e cujas peles ornam mais ou menos todos os móveis de sua casa).

A internet é a arma de Baskin. Também há filas em seu santuário, no fundão da Flórida. Mas o grosso é de doações online. E que ninguém pense que Baskin também não tem cadáveres no armário. Aliás, não é bem no armário.

Na vida dela, existe um primeiro marido que sumiu do mapa misteriosamente, um crime nunca elucidado. Ela ficou com a herança. A primeira mulher do finado acusa Baskin de assassinato. Outros levantam a hipótese de que seus tigres devoraram a carne e os ossos do primeiro marido.

Ao longo da série, outros personagens não menos repulsivos participam. O atual marido de Baskin, que tem um ar de bom samaritano e não hesitou em celebrar com champanhe a prisão de Exotic, que já chegou a mandar uma cobra viva de presente de aniversário a Baskin. Há ainda o esperto Jeff Lowe, James Garretson, dono de boates de strip-tease, e Mario Trabaue, ex-traficante de drogas.

Bom, isso é, em linhas gerais, “A Máfia dos Tigres” –uma visita ao fundo do fundo da América profunda. Esqueça tudo de esquisito ou triste que viu a respeito de esquisitices de gente do sudeste e meio-oeste americano.

Esqueça os caçadores e Elza Martinelli salvando bebês elefantes em “Hatari”, ou ladinos tocadores de banjo de “Amargo Pesadelo”. Esqueça ainda os passeios de Ava Gardner e Grace Kelly pela selva, disputando o amor de Cark Gable em “Mogambo”. Ou Kurt Russell em “Breakdown” procurando desesperado pela mulher sequestrada por um fazendeiro com cara de boa gente.

Tudo isso são água de rosas. E, além do mais, são bem filmados. Neste documentário, a filmagem, para dizer o mínimo, vale tanto quanto os personagens. E esses constituem um santuário da "baixeza humana". Quem quiser deleite-se –consta como um dos mais vistos da Netflix nesta quarentena.

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