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The Strokes faz as pazes com o passado e com o pop em novo álbum

Em 'The New Abnormal', banda americana resgata estética dos primeiros álbuns, mas agora soa mais sutil e introspectiva

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The New Abnormal

  • Onde Nas plataformas de streaming, a partir de 10/4
  • Autor The Strokes
  • Produção Rick Rubin
  • Gravadora RCA Records

O Strokes de 15 anos atrás está de volta. Ou, pelo menos, depois de anos de reuniões para shows e lançamentos ocasionais, cada um indicando uma direção diferente, o quinteto parece estar se divertindo de novo.

O curioso é que até o lançamento de “The New Abnormal”, primeiro disco de inéditas do Strokes desde 2013, nada indicava que o grupo seguiria esse caminho. Depois de lançar três discos fundamentais para a música pop contemporânea –“Is This It”, de 2001, “Room on Fire”, de 2003, e “First Impressions of Earth”, de 2006–, a banda entrou em hiato e, desde que retomou as atividades, patina para reencontrar a sintonia dos primeiros anos.

Há cerca de 15 anos, o Strokes estava no ápice da fama e, ao mesmo tempo, entediado por ela. Cada integrante seguiu carreira solo ou fundou novos grupos, das estranhezas de Julian Casablancas com o Voidz até o cândido Little Joy, do baterista brasileiro Fabrizio Moretti com o ex-Los Hermanos Rodrigo Amarante e a cantora Binki Shapiro.

montagem com pássaro e grafite
Capa de 'The New Abnormal', sexto disco dos Strokes - Reprodução

“Angles”, de 2011, até tinha ideias interessantes, em um flerte com texturas do pop dos anos 1980, e foi provavelmente o último disco a valer da banda. Isso porque “Comedown Machine”, de 2013, soava como um álbum protocolar.

Vale lembrar, apesar do single “One Way Trigger” —famosa por soar como um tecnobrega e ter um clipe brasileiro não oficial com imagens da Carreta Furacão—, o disco não teve turnê e nem fotos de divulgação, nenhum clipe foi lançado, a banda não deu entrevistas, não apareceu na TV e até a capa estampava só a logomarca da gravadora deles, a RCA Records. A sensação era a de que o Strokes havia cansado de ser uma banda antes de o público se cansar dela.

De qualquer maneira, o Strokes que retorna em “The New Abnormal” vem de um passado já distante. “Why Are Sundays Always Depressing”, por exemplo, soa como uma versão introspectiva de “You Only Live Once”, um dos hits do grupo. A introdução de “The Adults Are Talking” lembra a de “Hard to Explain”, faixa do já clássico “Is This It”, estreia em disco do Strokes.

Os riffs precisos, como a banda cansou de fazer —de “Last Nite” a “Juicebox”, de “Someday” a “Reptilia”—, assim como as guitarras no estilo Television, voltam a aparecer . Os guitarristas Albert Hammond Jr. e Nick Valensi retomam o entrosamento, o baixista Nikolai Fraiture consegue ser o escape de balanço em meio às levadas retas de Moretti (como em “Eternal Summer”).

Mas o resgate está muito mais no sentimento geral do que nas referências literais. Mesmo com uma introdução pouco comum para o grupo, “Not The Same Anymore” tem um refrão que poderia ter saído de uma sessão de 2001.

O Strokes de “The New Abnormal”, contudo, é um retrato amadurecido daquilo que marcou o nome da banda na história. Saem a raiva e o entusiasmo festeiro juvenil, entram a sutileza, reflexões existenciais e alguma dose de introspecção.

Casablancas não está gritando como “Juicebox” ou “New York City Cops”, mas trabalhando graves e agudos para traçar melodias vocais que só ele sabe fazer. Em “Selfless”, canta com delicadeza rara, enquanto em “Bad Decisions” evoca —descaradamente, mas dando os créditos— “Dancing With Myself”, de Billy Idol, em um arranjo que lembra o LCD Soundsystem.

Na dançante “Brooklyn Bridge to Chorus” e em “At the Door”, os sintetizadores dão o tom, e Casablancas reflete sobre tédio e o passado. Em muitos momentos, parece que o vocalista está falando consigo mesmo nas letras. “E as bandas dos anos 1980? Para onde foram?”

Para o público, vários versos devem soar como tentativas de reconciliação. Casablancas parece abrir mão de convicções –“estou tomando decisões erradas por você”, de “Bad Decision”–, admitir o desejo frustrado de renovação –“quero novos amigos, mas eles não me querem”, de “Brooklyn Bridge to Chorus”– e até um certo isolamento –“como um cisne, não sinto falta de nadar/ todos os meus amigos me deixaram, e eles não sentem minha falta”, em “Why Are Sundays So Depressing”.

montagem com pássaro e grafite
A banda de rock The Strokes - Reprodução

Em 2016, quando o Strokes lançou “Future, Present, Past”, não era possível saber, mas o EP era como uma ponte. Enquanto “Drag Queen” era suja e experimental, “Threat of Joy” era uma busca pela sonoridade clássica do quinteto. Com “The New Abnormal”, agora sabemos, a ponte levou o Strokes diretamente para o começo dos anos 2000.

De maneira geral, discos autorreferentes são o caminho para uma banda já estabelecida chegar à obsolescência. Neste caso, o resgate não soa redundante, porque não é como se o Strokes estivesse tentando fazer isso há muito tempo.

Não é difícil imaginar como “The New Abnormal”, caso fosse lançado 15 anos atrás, teria um impacto muito maior na música. Por outro lado, o disco perderia o clima nostálgico, de quando o indie rock despontava como trilha sonora dominante para toda uma geração.

Em “The New Abnormal”, o Strokes soa tanto como o Strokes que o fato de ter sido produzido pelo experiente Rick Rubin é quase irrelevante. Emocionalmente, é um disco de reconciliação —com o passado, com os amigos, consigo mesmo, com o pop. Artisticamente, é uma obra de afirmação —de uma estética que só o Strokes é capaz de reproduzir, mesmo depois de tantos anos de bandas tentando copiá-los.

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