Conheça as obras de Abraham Palatnik, meio artista, meio inventor

Precursor da arte cinética no país, ele morreu neste sábado, aos 92 anos

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São Paulo

Precursor da arte cinética no país, o artista potiguar Abraham Palatnik morreu neste sábado (9), vítima da Covid-19, aos 92 anos.

Conheça, abaixo, as principais fases de sua produção, que atravessou sete décadas e pertence a coleções como as do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, e o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, o MAC.

Pinturas figurativas

Palatnik se interessa por arte ainda adolescente, quando, morando em Israel, nos anos 1940, se matricula em aulas de arte no Instituto Municipal de Tel Aviv. Então, desenvolve uma prática centrada em retratos e paisagens.

Ao chegar no Brasil, no final daquela década, no entanto, Palatnik começa a conviver com artistas ligados à abstração geométrica —com quem, mais tarde, em 1954, fundaria o Grupo Frente. A influência deles, combinada ao encantamento de Palatnik com o trabalho dos pacientes da psiquiatra Nise da Silveira no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro o afasta dos motivos figurativos em direção a composições mais abstratas.

Cinecromáticos

O objeto, uma espécie de teatro de sombras invertido, com luzes coloridas, vem de experimentos com máquinas iniciados em 1949, contou Palatnik numa entrevista ao Itaú Cultural de 2010.

O pulo do gato para a sua gênese aconteceu quando uma queda de energia obrigou o artista a usar velas. "Observando as sombras se movendo tive a imediata ideia de usar luz em meu trabalho. Fiz algumas pesquisas com luz e descobri que a ordem cromática da luz é muito diferente dos pigmentos."

Inscrito na primeira Bienal de São Paulo, em 1951, por insistência do crítico Mário Pedrosa, o trabalho acabou ganhando um menção honrosa do júri internacional. Foi Pedrosa, aliás, quem batizou o objeto.

Objetos cinéticos

Criados em 1964, os objetos podem ser descritos como móbiles de Alexander Calder que, em vez de se moverem ao sabor do vento, giram numa coreografia planejada, acionada por motores e ímãs —cada combinação de fios metálicos com formas de madeira pintadas tem uma velocidade diferente.

'Objeto Cinético', obra de 1986 de Abraham Palatnik exibido em sua individual 'A Reinvenção da Pintura', no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2014 - Divulgação

Interação com o público

No final da década de 1950, Palatnik começa a investigar campos magnéticos, usando ímãs de formas que as obras chamassem os visitantes à participação —aproximando, assim, a sua produção do neoconcretismo, em que o público ativa e interage com os trabalhos.

Em 1965, ele retoma esses primeiros experimentos com "Objeto Lúdico". Nele, um vidro serve de base para peças geométricas de várias cores. Com a ajuda de um bastão magnetizado, o público cria diferentes composições com elas.

Outro trabalho que demanda interação é o "Objeto Rotativo", de 1975, uma pequena peça de resina de poliéster. Quem dá o primeiro impulso para ela girar é o visitante. Depois, ela inverte o lado para o qual se move e continua girando.

Até um jogo Palatnik inventou, o "Quadrado Perfeito". Criado para os filhos, ele acontece num tabuleiro que parece com o do xadrez, mas com mais quadrados. O objetivo é posicionar os cubos existentes de modo que eles formem os vértices de um quadrado.

Relevos Progressivos

A partir da segunda metade da década de 1960, Palatnik desenvolve um procedimento aplicado em diferentes materiais, como madeira, metal, cartolina, resina de poliéster, cordões sobre telas e até um composto de gesso e cola.

'Relevo Progressivo', obra de 1970 de Abraham Palatnik exibida em sua individual 'A Reinvenção da Pintura', no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2014 - Divulgação

Em comum, todas os "Relevos Progressivos" criam a ilusão de movimento a partir dos contrastes entre padrões, formatos e cores. Mas enquanto as primeiras brincam com os diferentes padrões dos veios dos troncos das árvores, formando composições gráficas, as últimas, da série "W", realizada já nos anos 2000, é formada por pinturas sobre madeira que, cortadas em tiras, são rearranjadas de modo que pareçam vibrar.

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