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Coronavírus faz emissoras criarem programas possíveis de gravar na quarentena

Produções precisam inovar em formatos e apostam em gastronomia como saída para o momento

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São Paulo

Clichê antigo, a história de que televisão é trabalho em equipe continua valendo em tempos de pandemia, mas o negócio não necessariamente significa aglomeração de gente. No esforço de criar ideias capazes de ultrapassar a mesmice das reprises e das lives de shows, canais como Discovery Home & Health e Multishow se sobressaem ao inventar programas possíveis para o isolamento.

Em 60 dias de quarentena, o pessoal do canal Discovery Home & Health criou e começou a gravar um novo formato de programa, não por acaso, uma competição culinária, batizada “Tem Chef em Casa”, que estreia em 26 de junho.

“Trabalho em TV há 20 anos e esta foi a primeira vez que eu dirigi um piloto [programa teste] no [aplicativo] Zoom [de videoconferência]”, diz Adriana Cechetti, diretora de produção da Discovery Networks Brasil.

A escolha pelo fogão como foco se justifica pela presença que o canal já tem nesse território, mas com razões extras para o contexto da quarentena. “As pessoas nunca cozinharam tanto em casa nos últimos anos como agora”, lembra Cechetti.

Carol Fiorentino apresenta remotamente o 'Tem Chef em Casa'
Carol Fiorentino apresenta o 'Tem Chef em Casa' - Divulgação

Além disso, a comida é a última coisa que as pessoas cortam em uma crise econômica, o que se estende portanto ao consumo do segmento e aos seus anunciantes, os últimos a sucumbirem. A mais de um mês de sua estreia, o "Tem Chef em Casa" já tem contrato assinado com três marcas dispostas a bancar a produção.

O programa põe dois chefs diferentes para duelar a cada um dos cinco episódios da série. Cada um fica na sua casa, contando com um ajudante na cozinha –vale marido, mulher, irmão, pai ou filho. O titular da competição só pode orientar, sem botar a mão na massa, tendo como missão produzir dois pratos em uma hora a partir de uma cesta de ingr edientes que a produção entrega na porta da casa de cada um.

A cesta contém ainda um kit de três recados, como bilhetinhos da sorte, que só poderão ser abertos no meio do processo, quando a apresentadora, Carol Fiorentino, autorizar.

Assim como ela, talento do canal Food Network, do grupo Discovery, a maioria do time de chefs é formada por grifes que já são do elenco da casa, como Emanuel Bassoleil, Carlos Bertolazzi, Danielle Dahoui, Luíza Hoffmann e Pedro Bonoliel.

Ao final do episódio, cada chef deve ser honesto em relação ao resultado dos pratos feitos sob sua batuta. A distância, sem poder dar aquela garfada de jurada, Fiorentino avaliará o visual da obra, a higiene, a paciência do chef com o ajudante, a criatividade e o aproveitamento dos ingredientes. Mas prêmio físico não há –só o prazer de um chef derrotar o outro na fogueira de vaidades da cozinha.

E não se engane –embora a conexão entre eles seja feita por videoconferência, a finalização técnica pede mais do que os recursos de uma live na web. “Se fosse um programa para plataformas online, tudo bem filmar só no celular, mas a televisão ainda pede uma qualidade técnica maior e o problema mais delicado é sempre o áudio, ainda mais em conexões via internet”, conta Cechetti.

“Deu um trabalhão, fizemos vários testes. A Carol filmou vários ângulos da casa dela e a gente ia dizendo ‘esse sim’, ‘aquele não’, ‘troca isso por aquilo’, foi tudo desse jeito.”

Cada chef recebeu um kit de produção próprio, o que incluiu um celular bom para filmar, microfones e uma câmera Go-Pro, que cabe na palma da mão, contando ainda com uma equipe técnica remota disponível para ajudar na hora de testar conexão, luz, som e imagem.

Cechetti acredita que a finalização da produção para a TV continua a exigir qualidade extra em relação às produções de internet, mas concorda que as descobertas desse momento provavelmente promoverão meios mais simples para a produção de TV no futuro.

É certo que a ostentação de grandes equipes e a complexidade perderão espaço. Afinal, descobriram que é possível fazer algo com menos estrutura, mas, como diz a profissional, “ninguém sabe como será depois da pandemia, em que momento e proporção isso pode mudar”.

A criatividade de criar formatos fora da curva também teve boas demonstrações no Multishow, que neste mês lançou o "Anitta Dentro da Casinha", todo gravado pela cantora em sua casa.

Ainda na primeira quinzena de abril, em tempo recorde, o Multishow pôs no ar o “Vai Passar!”, programa de humor feito de modo totalmente remoto, com cada um na sua casa, mas igualmente com cuidados de TV assessorados pela produtora Floresta.

Atores, roteiristas e produtores se juntaram de modo voluntário para criar 15 minutos de esquetes sobre o isolamento, tema que também motivou os primeiros esquetes da era da quarentena do Porta dos Fundos, canal de humor na internet, com finalização que em nada deixa a dever para os padrões de TV.

Marcelo Adnet vem fazendo o mesmo com "Sinta-se em Casa", série de esquetes diários gravados em casa em que ele, sozinho, se desdobra em vários personagens inspirados no noticiário das 24 horas anteriores –dia sim, dia também, tem paródia de Jair Bolsonaro. A série está no Globoplay e é aberta a não assinantes, mas tem plenas condições de ganhar espaço na TV.

Em todos esses casos, convém notar, um bom trabalho de edição trata de dar acabamento profissional a cada criação.

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