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Documentário sobre Michelle Obama esbarra na autoajuda e no clichê

'Minha História', da Netflix, é salvo por carisma e inteligência, mas edição é um pouco piegas

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Minha História

  • Quando Disponível na Netflix a partir de quarta (6)
  • Direção Nadia Hallgren

A autobiografia de Michelle Obama, “Minha História”, foi um dos grandes fenômenos de venda do mercado editorial do ano passado. Agora, a Netflix lança um documentário de mesmo nome em que acompanhamos a ex-primeira dama dos Estados Unidos nos grandes eventos da turnê de divulgação do livro.

Entre uma e outra conversa com gente como Oprah Winfrey, Stephen Colbert e Reese Witherspoon em estádios e arenas abarrotados, a história de Michelle é contada por ela com a ajuda de fotos, vídeos, capas de revistas e de relatos de sua mãe, seu irmão e de membros de sua equipe, como a assessora pessoal e o segurança.

Assim como o livro, o filme se beneficiaria, no Brasil, de um título mais próximo do original “Becoming”, ou se tornar, de inspiração, creio, beauvoiriana. Pois é disso que se trata, da ideia de formação. No prefácio do livro, Michelle diz ser inútil perguntarmos a uma criança o que quer ser quando crescer, como se crescer fosse finito, uma meta que se alcança e, então, se fica ali parado.

Além de mostrar sua história de vida, de filha de uma família da classe trabalhadora de Chicago a moradora da Casa Branca, Michelle busca, em primeiro lugar, mostrar que é uma pessoa que existe e tem importância para além de seu marido ex-presidente dos Estados Unidos e, em segundo lugar, encontrar seu caminho depois dos oito anos sob fortes holofotes.

Da mesma forma que grande parte da humanidade agora pensa sobre a vida pós-pandemia e o novo normal, Michelle está ali lidando com suas memórias para criar, segundo ela diz, um novo caminho, já que voltar para o anterior, da vida antes da presidência de Barack Obama, não é possível.

Não fosse o enorme carisma e a inteligência da ex-primeira dama, o documentário, editado e sonorizado de forma bastante tradicional e um pouco piegas, seria insuportavelmente mais um produto de autoajuda cheio de conselhos de empoderamento feminino. Mas Michelle consegue transformar o filme numa reflexão sobre os anos Obama e numa crítica à era Trump, sem deixar de pôr o dedo em feridas, como quando reclama da abstenção de jovens progressistas, mulheres e negros nas urnas.

Um dos momentos mais interessantes do filme, que não deixa de ser, contudo, um produto de autopromoção de Michelle, é quando ela questiona e rejeita a ideia da América pós-racial. Elencando o nome de jovens negros inocentes mortos em ações da polícia e falando do medo que os americanos sentiam em ter uma família negra no comando do país, Michelle insiste na presença do racismo e na necessidade de lembrar que é de uma família de pessoas que foram escravizadas. Uma reflexão clara e profunda em meio a todo o cenário de superstar.

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