Morre Christo, o artista que embrulhou em tecido pontes e palácios, aos 84 anos

Com a mulher, búlgaro radicado em Nova York criou algumas das obras mais impressionantes da arte contemporânea

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São Paulo

O artista plástico Christo, famoso por trabalhos de escala gigantesca criados ao lado da mulher, Jeanne-Claude Denat de Guillebon, muitas vezes embrulhando monumentos no mundo todo, entre eles o Reichstag, em Berlim, e a ponte Neuf, em Paris, morreu neste domingo (31), aos 84 anos, de acordo com seus assistentes em seu perfil no Facebook.

Nascido Christo Vladimirov Javacheff, na Bulgária, e depois naturalizado americano, ele morreu de “causas naturais”, segundo o comunicado, em sua casa em Nova York.

A dupla formada com sua mulher, que morreu em 2009, se tornou uma das mais famosas do mundo da arte por trabalhos site-specific, ou seja, criados a partir do lugar onde seriam montados. Suas peças de natureza acachapante, muitas vezes efêmeras, podiam levar anos de planejamento e custar milhões de dólares para serem executadas.

Desde a década de 1960, Christo e a mulher se tornaram nomes incontornáveis num universo da arte que extravasava e implodia todos os limites impostos à escultura, em sintonia com vanguardas como a land art, que ganhava corpo nos Estados Unidos.

Eles se tornaram famosos no mundo todo em 1985, quando embrulharam a ponte Neuf em tecido brilhante, um trabalho que levou dez anos para ser elaborado e consumiu 100 mil metros quadrados de material reluzente, que se espelhava nas águas do Sena.

Há 15 anos, Christo, como ele e também a dupla ficaram conhecidos, estendeu 7.500 retalhos de tecido laranja gigantescos pelas alamedas do Central Park, em Nova York —o trabalho levou mais de 20 anos para driblar toda a burocracia antes de ser concretizado.

Outro embrulho, o do Reichstag, em Berlim, há 25 anos, também consumiu quase um quarto de século de
negociações e US$ 15 milhões, em valores da época, para sair do papel. Christo transformou a atual sede do Parlamento do país num grande fantasma assombrando os dois lados da capital alemã, até poucos anos antes separada ao meio pelo muro.

Nos anos depois da morte da mulher, Christo se dedicou a realizar alguns dos planos elaborados pelo casal. Um de seus maiores sucessos de público foi uma instalação num lago no norte da Itália onde ele construiu enormes passarelas douradas flutuantes —270 mil espectadores foram caminhar sobre as águas ali ao pé das montanhas.

O projeto italiano ecoa uma obra da década de 1980 em que o casal construiu em Miami uma série de ilhas de plástico cor-de-rosa na baía de Biscayne, considerado um marco na revitalização urbana do balneário americano.

Há dois anos, em Londres, ele ergueu sobre um lago uma enorme estrutura com 7.000 barris de petróleo coloridos inspirada na forma das sepulturas do Egito antigo.

Um dos primeiros trabalhos ao lado da mulher, marroquina que conheceu em Paris depois de ter estudado em Viena, aliás, também usou barris do combustível para bloquear uma rua da capital francesa em protesto contra a construção do Muro de Berlim.

Seu último projeto seria embalar o Arco do Triunfo parisiense em tecido, aguardado como a grande atração da temporada de outono das artes em Paris. Agora, segundo seus colaboradores, o projeto deve seguir adiante, mesmo que abalado pela pandemia do coronavírus.

Ele deixa o filho Cyril Christo, fotógrafo e cineasta e ativista dos direitos dos animais.

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