Descrição de chapéu The New York Times

Museus da Europa começam a reabrir, com novas regras para a era da Covid-19

Uso obrigatório de máscaras, postos de desinfecção e percursos de mão única são traços comuns

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Thomas Rogers
Berlim | The New York Times

Elli Gericke, 20, esteve entre os primeiros visitantes da Berlinische Galerie em sua reabertura na segunda-feira (11), depois de oito semanas de fechamento. De acordo com as novas regras do museu de arte, ela estava usando uma máscara de tecido azul e mantendo distância de pelo menos um metro e meio dos demais visitantes.

Ela disse que tinha gostado da principal exposição —uma retrospectiva do fotógrafo vanguardista alemão Umbo— e expressou alívio por poder ver arte em pessoa, depois de meses passados quase que integralmente dentro de casa. Mas ela acrescentou que se sentia restringida pelas novas regras.

“Não há como relaxar quando você você olha as imagens, não dá para respirar”, ela disse. “Não é mais como era antes.”

Com o número de infecções pelo coronavírus em queda na Europa, nas últimas semanas, diversos países anunciaram planos para reabrir museus, e a Alemanha foi um dos primeiros dentre eles. Os diretores de museus se tornaram pioneiros em calcular de que forma reativar instituições culturais em meio a uma pandemia e em reinventar a experiência de visitar um museu, adaptando-a à era da Covid-19.

Os 16 estados da Alemanha estabeleceram seus próprios cronogramas para aliviar as medidas de confinamento. Os museus de Berlim foram autorizados a reabrir em 4 de maio, mas muitos deles continuam fechados.

Alguns, como a Berlinische Galerie, precisaram de uma semana adicional para reorganizar a logística e adotar novos procedimentos de segurança e decidiram reabrir na última segunda-feira. Grandes instituições como a Gemäldegalerie e o Altes Museum reabriram na terça-feira.

Ainda que o governo estadual de Berlim tenha imposto normas básicas de higiene e distanciamento social, coube em geral às instituições decidir os detalhes, entre os quais decidir se máscaras seriam obrigatórias. Para os diretores de museus, isso envolve balancear a segurança pública diante do desejo de permitir que as pessoas se envolvam livremente com a arte; para os visitantes, isso significa respeitar um conjunto desconexo de regras novas.

A maioria dos museus, mas não todos, requer que os visitantes usem máscaras. Alguns instalaram placas instruindo os visitantes a seguir determinados percursos, ou criaram sistemas online de vendas de ingressos que dispõem horários escalonados de entrada, para prevenir a formação de multidões.

Outros eliminaram os guias em áudio, ou solicitaram que os visitantes tragam seus fones de ouvido pessoais. Muitos locais instalaram barreiras de plástico transparente para proteger os funcionários, e as visitas em grupo foram canceladas.

Na Berlinische Galerie, os visitantes são informados ao chegar de que devem usar máscaras e respeitar as regras de distanciamento social, e são encorajados a usar as estações instaladas recentemente para desinfecção das mãos.

Thomas Köhler, o diretor da Berlinische Galerie, disse em uma entrevista por telefone que o novo protocolo “não era agradável, mas é necessário”. Ele acrescentou que “acredito que a alegria que as pessoas sentirão por estarem de volta ao museu será maior do que os inconvenientes”.

Os governos da Áustria, da Bélgica, da Dinamarca, da Grécia e da Itália anunciaram datas em maio ou junho na qual esperam que seus museus possam reabrir, com medidas de segurança semelhantes às adotadas por Berlim.

Alguns museus da Espanha, da França, da República Tcheca e da Suíça reabriram nesta semana ou estão se preparando para fazê-lo nos próximos dias. Na França, alguns museus locais de menor porte foram autorizados a reabrir na segunda-feira, mas o governo ainda não anunciou as datas de reabertura de grandes instituições como o Louvre.

A exemplo da Alemanha, muitos museus não reabriram as portas no primeiro dia em que isso poderia ter acontecido; em lugar disso, administradores cautelosos estão adotando mudanças e retreinando funcionários antes de permitir que o público retorne.

A Staatliche Museen zu Berlin, uma organização que coordena 17 museus da cidade, entre os quais alguns dos maiores e mais prestigiosos, decidiu começar modestamente, reabrindo apenas quatro das instituições que controla, na terça-feira (12).

Christine Haak, a diretora geral assistente da organização, disse em entrevista por telefone que queria observar como os visitantes se comportam nos espaços públicos antes de decidir sobre os demais. O museu será uma experiência inevitavelmente diferente para muitos visitantes, ela afirmou.

“As pessoas estão cientes de que não podem se aproximar demais da arte, porque isso dispara um alarme”, disse Haak, “mas agora terão de manter a distância umas das outras, e essa é uma experiência nova”.

Com o turismo paralisado, no entanto, muitos museus estão antecipando números de visitantes inferiores aos usuais. É provável que isso ajude no distanciamento social, mas também significa que os espaços que dependem pesadamente de visitantes internacionais encaram um futuro financeiro incerto.

Em uma semana normal, o Museu da República Democrática Alemã (DDR, na sigla em alemão), um espaço privado de exposição que oferece uma experiência interativa sobre a vida na Alemanha Oriental da era comunista, atrai até 2.000 pessoas por dia, a vasta maioria das quais não vivem em Berlim.

O diretor da instituição, Gordon Freiherr von Godin, estima que o número tenha caído a menos de 50 visitantes diários desde a reabertura do museu em 4 de maio. “Não estamos faturando”, ele disse por telefone.

O conceito interativo do Museu da DDR, que convida os visitantes a manipular os itens em exposição e a abrir armários, é admitidamente complicado de vender em um momento de pandemia. O lema da instituição, “história que você pode tocar”, provavelmente não está ajudando, tampouco.

O museu instalou estações de desinfecção e sugeriu que os visitantes usem máscaras, ainda que elas não sejam obrigatórias. Um membro da equipe também limpa continuamente as superfícies da área de exposição, usando um spray desinfetante, disse Godin.

Charlie Goldsmith, 26, e Paz Diman, 39, os dois de Berlim, eram os dois únicos visitantes do museu na tarde de segunda-feira. Diman disse que ela não estava segura sobre que equipamento de proteção deveria usar.

“Achamos que precisaríamos trazer luvas”, ela disse, ao desembarcar de um Trabant, um carro típico da Alemanha Oriental, no qual ela tinha feito uma simulação de direção, “mas é meio que um alívio não precisar fazer isso”.

Goldsmith, que estava comemorando seu aniversário, disse que se sentia confortável em tocar os objetos com as mãos nuas. A falta de outros visitantes tornava irrelevantes as preocupações com o vírus, ele disse.

A alguns quarteirões de distância, uma fila estava se formando na porta do Museu Histórico Alemão, onde uma nova exposição sobre a vida e obra da intelectual americana de origem alemã Hannah Arendt seria inaugurada. A mostra exibia itens pessoais de Arendt e numerosas gravações de áudio e vídeo.

O museu adotou o uso obrigatório de máscaras e oferece lenços de papel com desinfetante para limpeza das estações de escuta, mas decidiu não criar um percurso obrigatório pela exposição.

“Ficamos nervosos porque as medidas adotadas só funcionarão se as pessoas seguirem as regras”, disse Uleike Kretzschmar, vice-presidente do museu, na segunda-feira. “Mas todo mundo está sendo extraordinariamente disciplinado.”

Ainda que na segunda-feira o espaço tenha recebido um público próximo à sua capacidade reduzida de 65 visitantes —ante os 200 que admite normalmente—, as pessoas estavam se movimentando calma e cuidadosamente. Kretzschmar disse que os visitantes estavam passando em média duas horas na mostra.

De fato, para alguns dos presentes à exposição, as novas medidas eram mais uma vantagem do que um inconveniente. Katrin Neuburger, 40, disse que a conscientização dos demais visitantes quanto ao ambiente que os cerca havia criado uma experiência mais concentrada e harmoniosa de visita ao museu.

“Hoje em dia, você sente que tudo está se desacelerando, de qualquer forma”, ela disse. “O que na verdade é agradável.”

Tradução de Paulo Migliacci

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