Descrição de chapéu The New York Times

National Gallery dos EUA devolve Picasso a herdeiros de perseguido por nazistas

O quadro em pastel, de 1903, é parte do período azul do pintor e mostra uma mulher de cabelo escuro e expressão sóbria

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Catherine Hickley
The New York Times

A National Gallery dos Estados Unidos anunciou que restituirá uma pintura de Pablo Picasso, “Cabeça de uma Mulher” aos herdeiros de um importante banqueiro judeu alemão que foi perseguido pelos nazistas.

O quadro em pastel, de 1903, é parte do período azul do pintor e mostra uma mulher de cabelo escuro e expressão sóbria —não se sabe a identidade da modelo—, e é uma das pelo menos 16 obras-primas que o banqueiro Paul von Mendelssohn-Bartholdy vendeu nos meses posteriores à tomada do poder pelos nazistas, e antes de sua morte em 1935.

Descendente da família do famoso compositor Felix Mendelssohn e do filósofo iluminista Moses Mendelssohn, Mendelssohn-Bartholdy foi expulso da Associação Central dos Bancos e Banqueiros Alemães em 1933 e do conselho do Departamento de Seguros do Reich em 1934. O banco da família foi “arianizado” —transferido a proprietários não judeus— em 1938.

O quadro foi vendido ao negociante de arte Justin Thannhauser em 1934. A Galeria Nacional de Arte anunciou que o recebeu como doação em 2001.

O museu disse ter decidido que transferiria o quadro em um acordo extrajudicial “para evitar o custo pesado de um litígio”. A decisão, afirmou a organização, “não constitui reconhecimento do mérito ou validade da reivindicação”.

Um representante dos herdeiros, entre os quais Julius Schoeps, historiador e cientista político em Berlim, disse que não há dúvida de que a obra foi vendida como resultado da perseguição. Mendelssohn-Bartholdy foi sujeitado a boicotes, desapropriação de propriedades e à perda de muitos de seus postos, disse John Byrne, advogado dos herdeiros em Washington.

“Em 1934, sua renda havia caído a 14% do valor atingido em 1932”, disse Byrne. “Seus pagamentos de pensão alimentícia eram duas vezes maiores que sua renda. Isso prova que ele agiu pressionado por problemas econômicos.”

Em 2009, pouco antes da data marcada para o início de um julgamento num tribunal federal americano, o Museu Guggenheim e o Museu de Arte Moderna, os dois de Nova York, chegaram a acordos com os herdeiros de duas outras peças de Picasso que Mendelssohn-Bartholdy vendeu a Thannhauser em circunstâncias semelhantes.

Os museus haviam tentando resistir às reivindicações, anteriormente, afirmando que elas “não tinham base”, e havia solicitado à justiça federal dos Estados Unidos em Nova York que confirmasse sua propriedade das peças. Os termos finais do acordo sobre as duas obras, “Le Moulin de Galette” e “Menino Puxando um Cavalo”, não foram revelados, mas os dois quadros continuaram a fazer parte do acervo dos museus.

Outro Picasso, uma pintura que também havia pertencido a Mendelssohn-Bartholdy, foi adquirida pela Fundação Andrew Lloyd Webber em 1995. Depois de chegar a um acordo com os herdeiros, a fundação vendeu a peça de 1903, “Retrato de Angel Fernández de Soto (O Bebedor de Absinto),” por US$ 51,8 milhões, ou R$ 298 milhões, em um leilão na Christie’s, em Londres, em 2010.

Tradução de Paulo Migliacci  

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