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Cinema

No premiado filme 'O Pai', diretores mostram grande noção de ritmo

Novo longa do casal búlgaro Kristina Grozeva e Petar Valchanov traz família envolta na morte da mãe

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O Pai

  • Quando Disponível a partir de 7 de março na plataforma Belas à La Carte
  • Elenco Ivan Barnev, Ivan Savov, Tanya Shahova
  • Produção Bulgária/Grécia, 2019
  • Direção Kristina Grozeva, Petar Valchanov

​​A carreira do casal búlgaro Kristina Grozeva e Petar Valchanov seguia de perto os caminhos dos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne –a procura por um realismo contemporâneo, tramas com comentários sociais, atenção especial para as interpretações dos atores e câmera radicalmente solta.

"O Pai", premiado como o melhor filme no tradicional festival de Karlovy Vary, na República Tcheca, é o quarto longa assinado por eles, e o terceiro a ultrapassar as fronteiras da Bulgária (e a chegar ao Brasil). Com esta obra de maturidade, o casal parece ter encontrado sua assinatura (curiosamente, um dos filmes mais célebres dos Dardennes se chama "O Filho").

Acompanhamos o recém enviuvado Vasil, papel de Ivan Savov, desde o funeral até os momentos em que ele luta para sair do luto, temendo a saudade, a culpa e a expectativa da solidão. Mas de uma coisa ele se não esquece –sua mulher queria falar algo importante quando a ligação foi encerrada abruptamente. Antes de retomar contato, ela morreu, levando o assunto ao túmulo.

Quando uma mulher afirma ter recebido uma ligação no meio do funeral, Vasil, desafiando a lógica, procura comunicação por meio de um médium, desagradando o filho Pakva, vivido por Ivan Barnev, com quem tem um relacionamento conflituoso, mas que, ao mesmo tempo, o acompanha.

O ponto de vista é de Pavka, o filho, que mentiu para a mulher e se afunda cada vez mais em outras mentiras para sustentar a primeira delas. Enquanto o pai é sonhador, ele é cético. Além disso, o personagem é publicitário, metódico e burguês, diferente do pai, que é pintor, libertário, intempestivo.

Esse relacionamento vai crescendo conforme um entende melhor os valores do outro, e a impressão é de que o filme é bem mais crítico para os valores de Pavka do que para os de Vasil.

O estilo de câmera que paira no ar como uma mosca varejeira ainda não diz a que veio no cinema da década de 1990 em diante, exceto por poucos momentos em alguns filmes de Alexander Sokurov. O casal, no entanto, a usa menos neste novo longa e traz ainda alguns trunfos na manga.

Em primeiro lugar, a noção precisa de ritmo, seja quando trabalham na comédia (como em "Glory", de 2016), ou no drama social ("A Lição", de 2013). Aqui, predomina o drama familiar, exceto no melhor momento da obra, tanto do ponto de vista da direção quanto do aspecto cômico –o roubo de uma carroça.

Depois, a sensibilidade na escolha do elenco, sempre um ponto essencial que, por descuido ou circunstâncias de produção, pode representar um fracasso inevitável em algumas produções.

Por fim, há qualquer coisa na confecção do roteiro, escrito pelo próprio casal, e nos diálogos adicionais escritos por Decho Taralezhkov, que passam para a realização de forma muito feliz, como geralmente acontece quando diretores competentes escrevem bem os roteiros de seus filmes.

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