Procuradoria quer explicação por indicação de amiga dos Bolsonaros a chefia do Iphan

Nomeação de servidora formada em hotelaria é contestada por parlamentares, arquitetos e historiadores

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São Paulo

O Ministério Público Federal questinou o Ministério do Turismo sobre a nomeação de Larissa Rodrigues Peixoto Dutra para a presidência do Iphan, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

A solicitação de explicações sobre a escolha foi feita, na última segunda (11), após arquitetos e historiadores apontarem que Dutra não tem formação nem qualificação para ocupar o cargo. Foi dado ao Ministério do Turismo o prazo de cinco dias para responder aos questionamentos.

O documento do MPF pede o currículo, diplomas de graduação e de cursos de pós-graduação da nova presidente do órgão. Na semana passada, a procuradoria já havia solicitado ao Ministério do Turismo o esclarecimento sobre a nomeação de 17 ocupantes de cargos de direção e assessoramento superior do Iphan. Também são investigadas as capacidades técnicas dos nomeados para ocupar esses cargos.

Escolhida para o cargo de presidente do Iphan (Instituto de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Dutra tem laço de amizade com a família de Jair Bolsonaro. Ela se casou em 2013 com Gerson Dutra Júnior, mais conhecido como Patropa, agente da Polícia Federal que trabalhou na segurança de Bolsonaro em 2018. Desde então, Dutra é próximo de Leonardo de Jesus, o Leo Índio, primo dos filhos do presidente.

Formada em hotelaria, Dutra já tinha carreira dentro do Turismo, órgão que agrega o Iphan, com cargo no Departamento de Desenvolvimento Produtivo. Antes, ela chefiou o Gabinete da Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Competitividade do Turismo, no Ministério do Turismo, e também exerceu o comando do Gabinete da Secretaria Nacional de Qualificação e Promoção do Turismo.

Larissa Peixoto, nomeada para a presidência do Iphan por Jair Bolsonaro
Larissa Peixoto, nomeada para a presidência do Iphan por Jair Bolsonaro - Divulgação/Iphan

Sua nomeação é contestada por parte dos servidores do Iphan, por causa de conflitos gerados entre os interesses do órgão e a associação de Dutra com interesses comerciais do turismo.

A leitura que se faz é de que ela não tem formação para exercer o cargo e que foi escolhida para dar campo à ideia de pôr bens históricos e artísticos a serviço do setor turístico.

Algo similar aconteceu na área ambiental. Bolsonaro defende, por exemplo, a tranformação da Angra dos Reis em uma Cancún brasileira, com atração de grandes redes de hotéis e shoppings, o que é contestado por ambientalistas, político e moradores da região.

Em março, o Ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio, visiou cidades histórias de Portugal para assumir parceria de preservação de bens culturais a partir de interesses similares com o Brasil, partindo também de uma uma visão comercial.

Foi assinado um protocolo de cooperação entre o Ministério do Turismo do Brasil e do Ministério da Economia de Portugal, com a intenção de criar formas de aproveitamento dos bens para geração de emprego e estímulo ao turismo de diversas cidades brasileiras.

Criado em 1937, o Iphan é uma autarquia federal responsável pela preservação e promoção dos bens culturais do País. Está subordinado à Secretaria Especial da Cultura e conta com 27 superintendências espalhadas pelos estados, 37 escritórios técnicos e unidades especiais.

O decreto de nomeação de Dutra não tem nem a assinatura do ministro do Turismo nem da secretaria da Cultura, Regina Duarte, o que seria comum, segundo assessores das pastas.

É importante salientar que o Iphan é responsável pelo embargo de diversos empreendimentos imobiliários pelo país, o que chegou a derrubar Geddel Vieira Lima, ministro-chefe da Secretaria de Governo na gestão de Michel Temer. Ele tinha envolvimento com um empreendimento em Salvador que havia sido suspendido pelo Iphan por violar normas de tombamento.

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