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Documentário esclarece como Hollywood não soube retratar os trans

Feito com carinho pela história das personagens, 'Revelação', da Netflix, traz ponto de vista de atores e cineastas transgênero

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Revelação

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Junho é o mês do Orgulho LGBT, quando ocorrem as paradas pelo mundo. Neste ano, por causa da pandemia, essa foi mais uma comemoração que não aconteceu. Mas um documentário da Netflix faz o que os desfiles deixaram de fazer, celebrar os transgêneros.

“Revelação” é feito com maestria, cuidado e carinho pela história das personagens. Entrevistando atores trans, entre eles Laverne Cox, de “Orange Is the New Black”, atriz que é linha condutora do longa e sua produtora, a obra mergulha na história da representação de transgêneros no audiovisual.

Um dado surpreendente revelado na obra é que 80% dos habitantes do mundo não conhecem nenhuma pessoa trans. E isso também é verdade para as próprias trans, que procuram referências sobre as suas identidades no cinema e na televisão.

E, até há pouco, esses meios usavam atores cisgênero para interpretar personagens trans. “Revelação” mostra vários exemplos, entre eles Hillary Swank, que ganhou o Oscar fazendo um garoto trans em “Meninos Não Choram”, e Jared Leto, que também levou uma estatueta pelo papel de travesti em “Clube de Compras Dallas”. Eddie Redmayne foi indicado por seu papel em “Garota Dinamarquesa”.

Só isso reforça a sensação de que uma pessoa trans é alguém fantasiado de outra pessoa.

Numa passagem, a atriz e escritora Jen Richards relata que uma amiga perguntou se ela era como o serial killer Buffalo Bill, de “O Silêncio dos Inocentes”, quando ela contou que iria começar sua transição.

O time de entrevistados é grande, quase todo mais conhecido nos Estados Unidos. Estão lá as atrizes Alexandra Billings, Sandra Caldwell, Jazzmun e Trace Lysette, os atores Chaz Bono (filho de Cher), Elliot Fletcher e Brian Michael Smith, além da cineasta Lilly Wachowski (de “Matrix”). Todos são trans, não há um cisgênero. É o ponto de vista deles que o filme quer mostrar.

Como as imagens de outros grupos marginalizados, a maioria das descrições de transgêneros tem sido ofensiva. Prostitutas, vítimas de estupro e assassinos psicóticos formam a maior parte dos papéis dos trans até agora. O documentário chega a afirmar que essas narrativas tiveram seu papel na violência contra pessoas trans, especialmente as negras.

Nas comédias, personagens trans são piada. O escritor Zeke Smith lembra o horror que sentiu ao rever um dos filmes favoritos da infância, “Ace Ventura: Um Detetive Diferente”, pela cena em que o personagem de Jim Carrey nota que a mulher com quem contracena é trans e tem ânsia de vômito. Mais que isso, ele tira toda a roupa, joga num balde e bota fogo em tudo. E a comédia não foi a única a fazer isso.

Mas também houve alguns pontos iluminados, como “Victor ou Victoria”, “Ma Vie en Rose” e “Yentl”. Até o personagem Pernalonga merece elogios por um especial em que finge ser uma coelha.

A conclusão do filme é que, apesar das coisas terem melhorado nos últimos anos, existe ainda muito trabalho a ser feito. Uma obra bem acabada como “Revelação” vai certamente ajudar a causa.

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