Descrição de chapéu Artes Cênicas

Era digna da loucura de uma atriz, diz Zé Celso sobre Maria Alice Vergueiro

Conhecida como dama indigna do teatro, ela morreu nesta quarta (3), aos 85 anos, por causa de uma pneumonia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Personalidades do teatro e da cultura brasileira homenagearam a atriz Maria Alice Vergueiro, morta nesta quarta (3) devido a uma pneumonia.

Aos 85 anos, conhecida pelo despudor e pelas atuações performáticas no teatro brasileiro, que lhe renderam o apelido de dama indigna, ela tinha Parkinson e estava internada no Hospital das Clínicas desde 25 de maio.

Diretor do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa diz à ​Folha que a alcunha faz sentido quando se leva em conta todas as aventuras de Maria Alice —ele cita momentos como aquele em que ela entrou no mar no dia de Iemanjá em pleno inverno europeu, ou quando os dois alugaram uma kombi para fugir dos militares na época da ditadura.

"Nesse sentido, ela era uma dama indigna. Mas digna da loucura que deve ter uma atriz", afirma Zé Celso, que discorda de outro título, o de "dama underground". "Ela está no rol das grandes atrizes, pois nunca obedeceu a convenção."

O diretor diz que o melhor trabalho teatral da atriz talvez tenha sido "Why the Horse", de 2015, em que ela encenava a própria morte no palco. Mas que ela sempre brilhava cantando Brecht, "uma coisa", nas palavras de Zé Celso.

A atuação de Maria Alice como Mãe Coragem na peça homônima de Brecht, em 2002, aliás, foi lembrada por diversos colegas nas redes sociais. Sergio Ferrara, que a dirigiu na época, afirmou que o espetáculo era um sonho da atriz. "Fica o legado de uma das maiores atrizes com que pude conviver e aprender nessa vida."

O ator José Rubens Chachá, que contracenou com ela na montagem, também recordou da experiência. "Maria Alice Vergueiro, nossa Maria Mãe Coragem, nossa dama indigna se foi. Foi sem o nosso último aplauso, sem os amigos cantando ao seu redor, como era seu último desejo. Cantemos cada um em sua casa a canção mais alegre que se lembrar. Alegre como foi a Maria que nos encantou por tantos anos."

O apelido de dama indigna também foi lembrado pela atriz Christiane Tricerri, segundo quem a atriz trouxe ao teatro brasileiro uma "alma revolucionária, poética e apaixonada". "Ela podia dizer de boca cheia: eu sou o Teatro", escreveu Tricerri.

Cacá Rosset, com quem Maria Alice fundou o Teatro do Ornitorrinco, responsável por um dos repertórios mais populares do teatro brasileiro dos anos 1970, lembrou quando a conheceu no Colégio de Aplicação, aos 11 anos de idade. "Partiu minha querida mestra e companheira de incontáveis estripulias teatrais", ele disse. "Maria Alice foi uma das maiores atrizes brasileiras! Um furacão! Uma força da natureza!"

O ator e diretor Ivam Cabral, um dos criadores do grupo Satyros, chamou a atriz de "nosso oráculo" e lembrou a importância de Vergueiro tanto na sua vida pessoal como para a companhia e a SP Escola de Teatro. "Seus ensinamentos sempre foram além da cena. Cabiam nas nossas vidas", escreveu.

O ator Armando Babaioff, famoso por papéis na televisão e por trás de uma premiada encenação de "Tom na Fazenda", definiu Maria Alice como uma "operária no teatro". "Obrigado por tudo, pela coragem, pela ousadia, pelo talento. O teatro agradece, nós agradecemos e sentiremos a sua falta", afirmou.

Outro a agradecer a convivência com ela foi o ator Matheus Nachtergaele. "Sem palavras. Gratidão por cada gênio do Brasil com S que tive a honra de amar", disse.

Também nas redes sociais, a apresentadora e diretora Sarah Oliveira lembrou o vídeo "Tapa na Pantera", com uma personagem idosa usuária de maconha, que viralizou no início dos anos 2000, além de citar um outro curta-metragem com ela, o primeiro de Esmir Filho, "Ato 2 Cena 5". "A vida é breve mais intensa. Viva Alice", escreveu Oliveira.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.