“Vamos ouvir um sonzinho do final dos anos 1960?”, convidam Wood e Stock, os dois velhos e adoráveis hippies de Angeli. Os personagens são as estrelas do terceiro volume da série da Companhia das Letras com as estrelas do quadrinista, "Todo Wood&Stock". Já saíram “Toda Rê Bordosa” e “Todo Bob Cuspe”, com material reunido de tiras de jornais e histórias publicadas em revistas.
Na mesma série, a editora planeja o álbum dos Skrotinhos. E, para o ano que vem, comemorando as cinco décadas de carreira do autor, um livro com entrevistas e rascunhos. Um volume com suas charges também está nos planos.
Alheio a toda essa movimentação está Angeli, cada vez mais recluso em seu apartamento em Higienópolis, na região central de São Paulo. Abriu uma exceção para comentar o lançamento de "Todo Wood&Stock", mesmo dizendo que não sabe mais responder perguntas, nem quer fazer isso mais.
Sobre o livro de seus 50 anos de carreira, por exemplo, disse que “estava programado para sair no final deste ano, ficou para depois”, diz, com um humor típico das tirinhas que o fizeram famoso. "Espero sobreviver até lá."
E quanto a Wood e Stock? Tiveram alguma inspiração real? “Todos os meus personagens retratam uma época, um grupo, um comportamento. Nenhum deles é baseado em uma pessoa”, afirmou Angeli.
“Todos foram surgindo da necessidade diária de retratar o que vivia, o que via, o que estava acontecendo naquele momento. Meu trabalho todo é assim, baseado em observação do cotidiano. E, na maior parte das vezes, procuro um olhar crítico e ácido.”
“O Wood e Stock nasceram dessa observação, ali pela década de 1980. São personagens que falam do sexo livre, drogas e rock n’roll. A trinca”, explica. A dupla, aliás, chegou às telas em 2006, num longa de animação do cineasta Otto Guerra, chamado “Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll”.
De fato, orégano, drogas e rock n’roll, além de uma pitadinha de arroz macrobiótico, é o que não falta nas 264 páginas dessa edição em capa dura, em formato grande. Restaurados digitalmente, há quadrinhos desde a época de sua revista “Chiclete com Banana”, que chegou a vender 100 mil exemplares por mês nos anos 1980.
“O livro vem nessa batida, de ter as obras completas, o todo. Algumas tiras que estão lá são até singelas, outras não caberiam mais na sociedade de hoje. Nem gosto. Mas vale o registro da época, do traço. Acho que os fãs vão gostar mais do que eu”, disse.
Com Beatles e Rolling Stones saindo das páginas de “Wood&Stock”, surge a dúvida se isso é o som que também sai da vitrola de Angeli em Higienópolis.
“Meu trabalho sempre foi permeado por música. Sempre produzi ouvindo músicas de todos os estilos e inclui nos desenhos essas referências. No 'Wood&Stock' isso cabia ainda mais. Os clássicos, Hendrix, Stones, Dylan, Beatles, Bowie, a tropicália, a onda psicodélica. Escuto todos.”
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