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Eterno capitão Picard, Patrick Stewart se descola de franquias de herói em drama

Britânico vive pianista com síndrome de impostor no filme 'A Última Nota', que chega ao streaming nesta sexta (31)

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São Paulo

Quem conhece o ator britânico Patrick Stewart das franquias “Star Trek” e “X-Men” talvez estranhe o seu personagem em “A Última Nota”, filme que estreia agora nas plataformas de streaming. Depois do diplomático comandante Jean-Luc Picard e do calculista professor Xavier, no drama ele vive um pianista inseguro, num roteiro que, contido, passa longe dos efeitos especiais.

Foi justamente essa diferença de tom que atraiu Stewart ao longa, conta o ator de 80 anos, por telefone, da sua casa em Los Angeles, onde passa a quarentena. “Interpretei super-heróis e homens muito, muito maus, e este não era nenhum dos casos”, diz.

“Além disso, sempre amei música clássica, embora não saiba tocar”, continua o ator, acrescentando que passou quatro meses treinando sob a orientação de dois pianistas famosos para parecer o mais convincente possível. “Prefiro o clássico ao pop.”

De fato, a trilha sonora, pontuada por melodias mais e menos conhecidas do grande público —há desde Beethoven, Bach e Chopin a Scriabin, Scarlatti e Rachmaninoff—, é um dos grandes trunfos de “A Última Nota”, estreia do roteirista canadense Claude Lalonde na direção.

Na trama, Stewart é Henry Cole, pianista renomado que se afastou do instrumento depois da morte da mulher. Por insistência do agente, ele ensaia um retorno triunfal, com direito a uma turnê pelo globo.

Mas, a cada vez que sobe no palco, suas mãos tremem, as notas somem da memória. “É por isso que o público vem, sabe? Eles podem até apreciar, mas é o desastre iminente que deixa a coisa especial”, desabafa o músico ao seu agente, ainda no início do filme.

A síndrome de impostor, como os psicólogos chamam o sentimento irracional de ser uma fraude, só arrefece quando Cole é abordado por uma jornalista e pianista frustrada, interpretada por Katie Holmes. Se dizendo fã do músico desde a juventude, ela o convence a dar uma entrevista, o que logo evolui para uma relação de cumplicidade.

Stewart conta que, apesar de ter testemunhado colegas paralisarem diante da plateia, ele mesmo nunca passou por nada do tipo em suas muitas décadas de teatro —antes de enveredar por Hollywood nos anos 1980, ele se consagrou como ator da tradicional Royal Shakespeare Company. A bagagem, aliás, foi revivida nesta quarentena, com o ator declamando todo dia sonetos do bardo inglês nas redes sociais.

“Sempre achei o palco muito seguro. Tinha 12 anos quando comecei a atuar, e me sentia mais a salvo ali do que na minha casa”, afirma o ator.

É o tipo de experiência que Stewart, que ganhou o título de “sir” da rainha Elizabeth 2ª, deve narrar na autobiografia que escreve nesta quarentena. Ele afirma que a pandemia do novo coronavírus trouxe a “oportunidade perfeita” para se debruçar sobre o projeto, e que já passou da página 80.

“Estou profundamente imerso na minha história, e todo dia anseio sentar na cadeira e deixar as lembranças ocuparem a minha mente”, diz. “Tem sido praticamente uma terapia, me senti mais calmo em relação à pandemia.”

Nesse sentido, ele se aproxima do personagem que interpreta em “A Última Nota”. No derradeiro capítulo da sua vida, ele é a todo tempo confrontado com o passado —o título original do filme, “Coda”, se refere ao símbolo que marca o trecho final de uma canção nas partituras.

Ao contrário do pianista inseguro, no entanto, Stewart diz estar ansioso para voltar aos palcos e telas. “Definitivamente quero voltar a trabalhar."

A Última Nota

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