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Maratona

Filme com Octavia Spencer foge de debate profundo sobre racismo

Diretor de 'Luce' parece não querer abraçar a oportunidade da discussão e conduz o filme para um ritmo esquisito de thriller

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Luce

  • Onde Disponível no Telecine
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Julius Onah

Um aluno exemplar, com as melhores notas, popular entre os colegas e professores, capitão da equipe esportiva do colégio, protagonista de uma história incrível de superação fruto de uma infância traumática. Um belo dia, seu comportamento muda para pior, e ele vira alvo de graves suspeitas de uma professora.

Se o garoto fosse branco, talvez este argumento não passasse de um roteiro típico da "Sessão da Tarde". Mas dado que o protagonista de “Luce”, vivido por Kelvin Harrison Jr., é um jovem negro, a oportunidade de aprofundar o debate sobre preconceito racial se abre, promissora.

O problema, no entanto, é que o diretor, Julius Onah, parece não querer abraçar a narrativa por inteiro, seja por falta de coragem de enfiar fundo o dedo na ferida, seja por uma opção editorial, que visa, por fim, conduzir o filme para um ritmo esquisito de thriller.

Esquisito porque Luce sofre uma transformação pouco verossímil. Não pela mudança em si, mas pela forma abrupta com que ela acontece. Não há uma construção, e, mesmo que a justificativa seja a de que o recorte retratado já traz Luce neste momento, é inaceitável que nenhum outro personagem tenha flagrado indícios sutis da metamorfose antes que ela acontecesse.

É depois de ler um trabalho do aluno que a professora Harriet, papel de Octavia Spencer, fica com a primeira pulga atrás da orelha. Ainda que com a proposta de redação que permitia certa liberdade ficcional, o exercício que Luce entrega dá margem à ideia de que ele pode um dia apresentar comportamento agressivo.

Ao vasculhar o armário de Luce, e lá encontrar fogos de artifício ilegais, Harriet tem, então, a certeza de que alguma coisa está muito errada, e resolve comunicar a descoberta aos pais do rapaz.

Enquanto Peter, papel de Tim Roth, embarca na dúvida, Amy, interpretada por Naomi Watts, fecha olhos e ouvidos para quaisquer dados que possam desfazer a imagem do filho perfeito, “construída”, como ela diz, às custas de muito esforço seu desde a adoção do menino, aos dez anos de idade, vindo de um país destruído pela guerra.

Os problemas de “Luce” passam longe do forte elenco e das primorosas direção de arte e trilha sonora. Eles moram na opção de não aproveitar melhor as questões que ele próprio levanta, e que vão desde a discriminação da mulher negra, de meia idade, proletária e com uma irmã doente, até a divisão em castas que faria de Luce “menos negro” que os amigos arruaceiros.

Não surpreende que, tomando tantos atalhos no desenvolvimento das coisas, o filme pareça correr do meio para o fim, e acabe bem antes do que poderia.

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