Shows virtuais catapultam brasileiros à lista de artistas mais assistidos do mundo

Escutar música é quase unanimidade entre os paulistanos no confinamento

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Denise Meira do Amaral
São Paulo

As lives viraram fenômeno mundial durante a pandemia e no Brasil ganharam ainda mais força. O país lidera com folga o ranking dos shows virtuais: entre os 10 mais assistidos no YouTube, 8 são de brasileiros.

No topo da lista está Marília Mendonça, com um pico de audiência de 3,3 milhões de visualizações simultâneas com seu show de 11 de abril.

“O brasileiro tem uma relação visceral com a música. Se faltou um show para ir, a gente vai aonde o show está. Sempre damos um jeito. Esses dispositivos tecnológicos tornam isso possível. Agora o palco é eletrônico e em casa”, afirma Gilberto Gil, que movimentou a internet com uma live para comemorar seus 78 anos, no mês passado.

A música foi quase unanimidade no lazer dos paulistanos durante a quarentena. Pesquisa Datafolha mostra que 91% ouvem música durante o confinamento. O índice chega a 98% na faixa dos mais jovens, de 16 a 24 anos.

Para 37% dos moradores de São Paulo, o tempo dedicado às canções aumentou no isolamento social.

“Nossa poética musical se desenvolveu ao longo da história do Brasil. A música está permanentemente fazendo uma crônica da vida real. Ela traduz essa qualidade efusiva, que gosta de festa e de celebração”, afirma Gil.

Com lives diárias e cheias de espontaneidade, Teresa Cristina, 52, tem causado burburinho nas redes. Feitas em sua casa no Rio, as Noites de Teresa conquistaram uma plateia virtual fiel.

“As notícias sobre o coronavírus começaram a ficar cada vez mais fortes e sérias. Não conseguia dormir. Todo mundo estava fazendo live, pensei: “Acho que vou fazer alguma coisa para falar sobre música”, explica a cantora, que já soma mais de 150 apresentações virtuais.

Cada dia um artista é homenageado. Ela já dividiu a tela do Instagram com Caetano Veloso, Alcione, Chico Buarque, Daniela Mercury, entre outros famosos.

Além de cantar, Teresa conta histórias, dá risadas e chora de emoção. “A arte sai mais forte dessa pandemia. A música cura”, afirma.

Isolada desde março em seu apartamento, a produtora audiovisual Gisella Cardoso é frequentadora assídua das lives de Teresa Cristina. Para ela, o espaço é uma forma de se preservar a vida social na quarentena.

“Comecei a me divertir, encontrar amigos e conversar com as pessoas. Já fiquei até as sete da manhã numa ‘after live’”, conta.

Fafá de Belém, 63, também entrou na onda dos shows virtuais. Sua primeira transmissão foi feita na sala de seu apartamento, só com temas de novelas. Ela tem mais de 60 músicas em trilhas sonoras.

“Você já está recolhido, seu universo vai diminuindo fisicamente e emocionalmente, você se sente muito represada. A arte nos ajuda a voar”, diz.

Uma pesquisa feita pelo Google em junho aponta que as lives já foram vistas por mais de 85 milhões de pessoas no Brasil. O levantamento, realizado online com 1.007 pessoas, mostra que 38% dos entrevistados assistiram a seis ou mais lives.

Para Walter Venício, gerente de parcerias musicais do YouTube, os shows virtuais são uma evolução natural do gosto do brasileiro por música em vídeo.

“O fato de estar ao vivo deixa tudo mais palatável. Quem não tinha acesso, seja pela questão financeira ou por distância, pode estar no show de um artista”, diz.

Não é à toa que a lista das lives mais ouvidas no Brasil só inclui artistas sertanejos, segundo o antropólogo e especialista no estilo musical Allan de Paula. “A música sertaneja é o retrato do país. Ela representa a mobilidade social e a imersão de uma camada da população no mercado de consumo”, afirma.

O gerente de logística Benjamim Feldamn é fã assíduo das lives sertanejas e já perdeu a conta de quantas passaram pela sua tela. Ele diz gostar do clima intimista dos shows virtuais e reclama da profissionalização dos eventos ao longo da pandemia.

“No começo as lives eram mais legais, caseiras. Depois foram ficando plastificadas, com grandes cenários, quase como um DVD.”

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