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'Barretão' exibe vida de um dos maiores nomes do cinema brasileiro

Documentário é autorretrato oficial de Luiz Carlos Barreto, com trajetória tão polêmica quanto fascinante

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Barretão

“Barretão” começa com uma desnecessária sessão de elogios vindos das mais variadas partes do mundo —ou seja, dá para esperar pelo pior. Isso dura uns dois minutos, felizmente, depois dos quais entram os créditos e, enfim, Barretão em pessoa. Ou Luiz Carlos Barreto.

Quem já passou na porta de um cinema no Brasil sabe de quem se trata. Quem der uma olhada em seu currículo perceberá sua importância. Mas é raro ter a oportunidade de o ver discorrendo sobre si mesmo, o cinema brasileiro e o cinema em geral.

Tudo, é verdade, começa pela questão, formulada aliás por ele mesmo –o que é um produtor? O que faz? Não há uma resposta conclusiva ao longo do filme, mas não é impossível notar, ao longo de suas falas, que um produtor é, em linhas gerais, o que é Barretão. O sujeito que vai atrás de dinheiro, que faz política de cinema ou não, que monta toda a estrutura física e financeira (também intelectual) para que um filme exista.

O produtor Luiz Carlos Barreto no quintal de sua produtora, no Rio
O produtor Luiz Carlos Barreto no quintal de sua produtora, no Rio - Ricardo Borges - 12.dez.2019/Folhapress

Desfeita, mais ou menos, a dúvida, o espectador terá a vantagem de acompanhar uma prosa agradabilíssima e sedutora (o que não deixa de ser função de produtor), ao longo da qual ficamos sabendo desde o básico —a saber, que Barreto é um nordestino que se vê como sobrevivente. Dizendo isso, explica, em parte, o partido do filme “Lula, o Filho do Brasil”. De certo modo, Barreto vê em Lula uma espécie de duplo, de sobrevivente, também, que insiste em continuar vivo contra todas as previsões.

Mas “Lula” é um detalhe entre tantos outros. De sua prática de repórter fotográfico (na verdade, se entendi bem, repórter e fotógrafo) nos tempos da revista Cruzeiro, que trouxe a ele o convívio com pessoas que eram ou seriam importantes para o Brasil. Portanto, para o cinema brasileiro e para Barreto como produtor.

Depois, o convívio com Glauber Rocha e o pessoal do cinema novo, movimento do qual ele se tornaria personagem exponencial, seja por seu peso como produtor, seja como o fotógrafo de vanguarda de “Vidas Secas” ou “Terra em Transe”. Nesse setor, vale a pena acompanhar a descrição dos recursos (mínimos) que usa para chegar a resultados por vezes assombrosos. Ou alguns embates com a censura pós-1964, mais bem-humorados do que se poderia imaginar.

Tudo isso, no entanto, gravita em torno das ideias-chave de Barreto, que conformam um nacionalista clássico sem nenhum pudor de lutar, a partir de certo momento, por um cinema de mercado. Ou seja, alguém que se bate pela conquista do mercado interno, que busca enfrentar o quase monopólio do cinema americano em nossas telas, que acredita em suas ideias.

A virtude essencial de “Barretão” consiste, portanto, em ser antes de mais nada um “Barretão por Barretão”, que oferece uma visão geral da vida e obra do produtor tal como contada por ele mesmo.

Impossível não dizer que se trata de um filme oficial. É isso o que pretende ser —o autorretrato de um homem central no cinema brasileiro moderno, com trajetória tão polêmica quanto fascinante.

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