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Demissões recentes na Globo também envolveram tensão política e assédio sexual

Roteiristas, diretores e atores, entre eles Aguinaldo Silva, José Mayer e Regina Duarte, tiveram atritos com grupo

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São Paulo

De Bruna Marquezine a Cleo Pires, passando por Débora Nascimento, José Loreto, Otaviano Costa, Zeca Camargo e Malvino Salvador, nem toda grife dispensada pela Globo de 2013 para cá compõe as justificativas de renovação e diversificação de elenco. Há aqueles a quem as circunstâncias não permitiam mais uma parceria feliz após décadas de trabalho.

Os casos mais evidentes são José Mayer, que se envolveu em uma acusação de assédio sexual com a figurinista Su Tonani em 2017, e Regina Duarte, que teve de abrir mão do contrato de longo prazo ao aceitar o convite do presidente Jair Bolsonaro para assumir a Secretaria Especial da Cultura, cadeira que ela nem sequer teve tempo de esquentar.

Por meio de sua assessoria de comunicação, a Globo desmente que haja, no momento, qualquer conversa com Regina para sua volta. Nem há clima para receber a atriz novamente naqueles corredores. Autores, diretores e atores expressaram publicamente, em mais de um manifesto, a insatisfação com sua postura à frente da pasta federal de Cultura durante a pandemia.

Outros casos de dispensa determinados pelo desgaste de relações entre contratados e contratante são o do autor Aguinaldo Silva e o do diretor Luiz Fernando Carvalho. Nos dois casos, os bastidores indicam o que se pode chamar de saudável insubserviência a determinações da empresa, ao fazerem valer para suas últimas obras —Carvalho em “Velho Chico” e Silva em “O Sétimo Guardião”— ideias nas quais acreditavam, contrariando orientações superiores.

É irônico que Silva tenha sido dispensado pela emissora quase às vésperas de ver uma novela sua, “Fina Estampa”, salvar o buraco da faixa nobre imposto pelo recesso das gravações de “Amor de Mãe”. Assíduo frequentador do canal Viva e da faixa "Vale a Pena Ver de Novo", ele tropeçou na audiência só em sua última novela, “O Sétimo Guardião”, que foi ao ar em 2018 e no ano passado.

Mas a audiência frágil não foi o ponto central de sua saída. O trabalho foi cercado de problemas desde a pré-produção, quando um dos ex-alunos do curso de roteiros de Silva, Silvio Cerceau, entrou na Justiça para reivindicar coautoria da sinopse, já que a trama nasceu dentro da sala de aula, com participação de todos os alunos.

O autor chegou a oferecer outra sinopse à emissora, mas o diretor de teledramaturgia, Silvio de Abreu, preferiu apostar em “O Sétimo Guardião”.

Ao longo da trama, no entanto, nem todas as orientações da direção da Globo e do diretor Rogério Gomes, o Papinha, sobre os rumos da história foram acatadas pelo autor.

Além disso, por mais de uma vez o autor foi às redes sociais questionar a punição da empresa a José Mayer, ator que esteve em quase todas as suas novelas e que ele também queria que estivesse em “O Sétimo Guardião”.

Ao dispensar o autor, a Globo argumentou que Silva não tinha novos projetos e seu contrato não seria renovado, mas ele já começava a planejar outras histórias.

A Globo não teve a mesma pressa com Manoel Carlos e Gilberto Braga, ambos fora do ar há seis e cinco anos, respectivamente, e ainda sob contrato. Já Benedito Ruy Barbosa e Walther Negrão se aposentaram.

Já a saída de Carvalho é uma contradição, visto que o diretor sempre se esmerou em revelar novos rostos, com diversidade de cores e sotaques, para o elenco da emissora, justamente um dos pilares hoje priorizados pela Globo.

Mas em “Velho Chico”, de 2016, o diretor teria provocado a saída de Edmara Barbosa, que escrevia a novela juntamente com o sobrinho, Bruno Luperi, sob supervisão de Benedito Ruy Barbosa, pai dela e avô dele. Em várias ocasiões, Carvalho deixou de seguir orientações de Abreu e de diagnósticos de pesquisas de público, alinhando a história em conjunto com Luperi, sob anuência de Barbosa.

Não foi a primeira vez que Carvalho discordou de seus superiores, mas os bons resultados que o diretor sempre trouxe à imagem da emissora, com produções que faziam a diferença no portfólio da Globo, compensavam sua desobediência, e os atores, em geral, adoravam trabalhar com ele.

Dessa vez, no entanto, o diretor acumulou outros adversários ao seu modo de operar e perdeu a queda de braço.

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