Descrição de chapéu

Design de Zalszupin revolucionou a vida do Brasil, da casa à escola

Polonês fugido do nazismo, ele construiu no Brasil peças icônicas que mesclaram influências escandinavas e tropicais

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​Maria Cecília Loschiavo dos Santos

A obra de Jorge Zalszupin, morto nesta segunda-feira, constitui um importante capítulo da história do design moderno brasileiro. Nascido em Varsóvia, em 1922, ele deixou a Segunda Guerra para trás e, depois de uma longa viagem de navio, desembarcou no ensolarado Rio de Janeiro, num dia de Carnaval, ao som de Chiquita Bacana.

O arquiteto e designer se notabilizou pelo design de produtos inovadores e pelas incursões no universo de novos materiais, plásticos, fibras de vidro, além, é claro, do emprego predominante das encantadoras e diferentes espécies de madeiras brasileiras e do uso do metal.

Sua produção é longeva e diversa, teve início na década de 1950 e várias de suas criações são hoje reeditadas.

Em entrevista que fizemos há 40 anos ele lembrou o início de suas atividades no âmbito do design de mobiliário.

“A única coisa que tinha era Cristais Prados que importava móveis de madeira clara, e de bom desenho. Tinha a Casa Menck, que vendia roupa de cama, tinha o Mappin que era muito refinado, mas não vendia móvel. Tinha muita cópia de móveis antigos”, ele disse.

“Eu me lembro da Lina Bo Bardi, da cadeira de auditório para o Masp, ainda na Sete de Abril; tinha o Tenreiro e mais tarde a Móveis Branco & Preto. Enfim era tão pouco e as pessoas não tinham acesso, tanto assim que voltavam para mim. Aí eu comecei a desenhar móveis para as residências que eu projetava. O problema era desenhar para quem executar. Tinha a marcenaria do Mahlmeister, o outro era o Giovanni, que ficava ali no início da rua da Consolação.”

Ponto alto na carreira de Zalszupin foi seu esforço de industrialização do setor moveleiro, tarefa nem um pouco fácil, num Brasil que se iniciava nesses desafios.

Mas a criação da empresa L’Atelier foi uma oportunidade extraordinária para Zalszupin manifestar sua grandeza, inteligência de projeto e capacidade de gerenciar equipes de jovens designers, dentre os quais se destacam Julio Katinsky, Oswaldo Mellone, Paulo Jorge Pedreira e Marcelo Rezende.

No país da madeira, a L’Atelier introduziu a cadeira de plástico. Em 1968, a empresa passou a fabricar a cadeira Hille, com design e tecnologia britânicos, peça icônica que rapidamente conquistou o mercado brasileiro. Assim começou uma longa incursão de Zalszupin no domínio dos plásticos, revolucionando a
vida brasileira, das casas às escolas e aos escritórios.

Mas é claro que a paixão pela madeira é traço essencial de sua obra. A poltrona Dinamarquesa, por exemplo, era feita de jacarandá e tinha como inspiração para o desenho dos braços e pés as colunas do Palácio da Alvorada, de Niemeyer. Seu carrinho de chá, criado no mesmo ano de 1959, é também uma forma escultural, que se impõe pela leveza. São peças que manifestam sua apreciação do design moderno escandinavo, que foi muito divulgado por revistas de arquitetura.

Hans Wegner, Finn Juhl e Bruno Mathsson foram os grandes inspiradores de toda uma geração de designers brasileiros —entre eles, estavam o próprio Zalszupin, Sérgio Rodrigues e Bernardo Figueiredo. Na obra de todos esses designers se verifica o apreço e o diálogo com as tradições artesanais do trabalho com a madeira.

Jorge Zalszupin trabalhou ao longo da vida, sem preconceitos, com quase todos os materiais, acolheu jovens designers e nos legou o prazer estético, o acerto ergonômico e a força criativa de seus móveis.

Maria Cecília Loschiavo dos Santos é professora da USP e autora do livro ‘Jorge Zalszupin - Design Moderno no Brasil’

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