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Livro sobre Luiz Melodia é mais informativo do que apaixonante

Toninho Vaz detalha vida e obra do artista em biografia que carece de fluidez

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Meu Nome É Ébano – A Vida e a Obra de Luiz Melodia

  • Preço R$ 55 (336 págs.)
  • Autor Toninho Vaz
  • Editora Tordesilhas

“Meu Nome É Ébano – A Vida e a Obra de Luiz Melodia” faz jus ao subtítulo. A biografia escrita pelo jornalista Toninho Vaz detalha os passos pessoais e profissionais dados pelo artista. Mas não é um livro apaixonante.

Em seu louvável acúmulo de informações, a narrativa resulta num catálogo que se torna, a partir de agora, fonte fundamental de consultas para quem quiser conhecer melhor Melodia ou escrever sobre ele.

Não se sabe se só por escolhas de estilo do autor ou, também, pelos cuidados que costumam cercar uma biografia autorizada (a viúva, Jane Reis, detém parte dos direitos sobre a obra), o livro não vibra enquanto busca retratar a complexidade e a originalidade do compositor de “Pérola Negra”.

Estas ficam, em grande parte, a cargo de exaltações redundantes e superficiais. Algumas opiniões abalizadas se salvam, como as de Jards Macalé e, fruto de pesquisa, de Waly Salomão.

Há longas citações de reportagens, o que reforça a sensação de catálogo. Há a preocupação de se recordar os contextos político e musical dos anos abordados, mesmo que sem relação direta com o biografado. E há respeito em excesso à participação dos entrevistados, deixando ficar comentários desnecessários como “o Luiz era um ser humano incrível, uma pessoa muito boa”.

Em dez dos 15 capítulos, a relevância ganha da redundância. Estão neles, por exemplo, que o pai rigoroso não queria o filho envolvido com música. Curiosamente, Oswaldo Melodia ganhou esse apelido por ser violonista e compositor diletante. Luiz Carlos dos Santos, nascido em 7 de janeiro de 1951, herdou o sobrenome artístico.

De família moradora do morro de São Carlos, no bairro do Estácio, na zona norte carioca, Melodia precisou trabalhar para ajudar na casa. Foi, por exemplo, vendedor, tipógrafo e atendente no bar de uma academia de halterofilismo. Não conseguiu completar o que é hoje o ensino fundamental. Tudo isso é bem registrado por Vaz.

Figura carismática, Rose do Estácio foi quem falou do jovem Melodia para Waly Salomão, que compartilhou a informação com Hélio Oiticica, Torquato Neto e outros. O carioca de “poesia elíptica, fragmentada”, segundo Waly, fascinou a turma. Daí chegou a Gal Costa, que lançou “Pérola Negra” em 1971 no show “Fa-tal”, e a Maria Bethânia, que gravou “Estácio Holly Estácio” em 1972.

Quando saiu o instantaneamente histórico LP “Pérola Negra”, em 1973, Melodia já era um sucesso para além dos artistas de vanguarda. Vaz recorda um interessante relato do biografado –uma moça de apelido Deda foi a musa de três marcantes faixas do disco, “Magrelinha”, “Vale Quanto Pesa” e “Farrapo Humano”.

O jornalista aponta como, na década de 1970, Melodia viveu em meio a sexo, drogas e rock’n’roll (misturado com samba, reggae e tudo o que sua mente aberta captasse). Por algum tempo, não teve documentos nem conta bancária, gastando sem cerimônia o que ganhava em shows.

De acordo com o livro, foi a baiana Jane Reis, um amor que durou 40 anos, quem começou a organizar sua vida profissional. Mas Melodia nunca deixou de ser boêmio feroz. Passou por clínicas de desintoxicação e desenvolveu, por excesso de álcool, uma séria lesão hepática.

Soube desse quadro em julho de 2016, quando recebeu um diagnóstico de câncer na medula. Morreu em 4 de agosto de 2017. Teve dois filhos.

Há algumas histórias divertidas, como a de Tim Maia cortando o cabelo do amigo —e destruindo, para sempre, uma parte. Ou o que ele dizia quando a mulher ameaçava sair de casa. “Se você for, eu vou também.” Mas o livro não tem em fluidez o que tem em informação.

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