Longa autobiográfico de Almodóvar tem muita dor e pouca glória, dizem debatedores

'Dor e Glória' foi tema no Ciclo de Cinema e Psicanálise desta terça-feira (11)

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São Paulo

Em comparação com as outras obras de Pedro Almodóvar, “Dor e Glória” se destaca por um tom melancólico e por ter menos excessos ou humor extravagante, característicos dos filmes do diretor espanhol. Essa foi uma das conclusões do debate sobre o longa, promovido na terça-feira (11) pela Sociedade Brasileira de Psicanálise, com apoio da Folha e do MIS.

"Dor e Glória" é mais profundo do que produções anteriores. O diretor alcança isso de maneira discreta, a partir de uma narração mais contida e de uma tonalidade melancólica e introspectiva", afirma o crítico de cinema Alexandre Agabiti.

O filme, com tons autobiográficos, conta a história do cineasta Salvador Mallo (Antonio Banderas), que se encontra melancólico e cheio de dores que o envelhecimento trouxe. O longa se divide em dois tempos, o presente decadente de Mallo e sua infância, ilustrada por flashbacks que o levam a refletir sobre sua sexualidade, criatividade e laços afetivos.

Para Agabiti, a descoberta do primeiro desejo, no caso homossexual, tem um efeito libertador. “A criação está totalmente ligada ao desejo. Sem ele, só existe dor.”

A psicanalista Luciana Saddi, que mediou o debate, considera o filme uma jornada de Salvador às suas origens, que levanta questões existenciais. “Enquanto mergulha nas águas do passado e faz uma imersão, o que vem é uma força de vida. Isso vai resultar num belo e interessante resgate da capacidade dele de amar e de criar.”

Ela faz um paralelo entre esse processo de lembrança e o trabalho do psicanalista. Segundo Saddi, embora uma sessão pareça ser um encontro com o passado, é sempre um encontro consigo mesmo que acontece no presente.

Na visão da psicanalista Miriam Tawil, a questão das dores físicas é muito bem trabalhada no filme. Ela questiona se a dor de cabeça de Salvador se restringe a uma dor neurológica ou se relaciona às diversas culpas que carrega, de um débito com a mãe e da impossibilidade de ajudar o ex-namorado. “Quando temos uma dor física, muitas vezes é uma emoção que não está podendo ser narrada, representada ou dita. Tem dores emocionais que são tão difíceis de digerir ou pensar, que são colocadas no corpo.”

Agabiti aponta que a glória do cineasta quase não é narrada no filme. Ela está em um período da vida que não é recordada por ele. “Salvador teve seus dias de sucesso, mas essa glória já não tem mais sabor. Na verdade, ele tem muita dor e pouca glória.”

Para os debatedores, é quando Salvador se volta para seu passado que encontra a redenção. As lembranças da mãe, os objetos que ela deixou e o reencontro com o ex-amante Federico, assim como a carinhosa despedida entre eles, lhe dão força para despertar e continuar vivendo e exercendo o seu ofício e seu amor pela arte.

O Ciclo de Cinema e Psicanálise é promovido quinzenalmente pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e pode ser conferido na íntegra no canal do MIS no YouTube. O próximo debate a distância será no dia 25 de agosto, às 20h, sobre o filme​ "Parasita". ​

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