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Televisão Maratona

'Away' é previsível e retrata viagem a Marte com falsas encrencas

Série da Netflix com Hilary Swank tem personagens cativantes, mas roteiro é mal construído

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Away

  • Quando Disponível a partir de 4 de setembro
  • Onde Netflix
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Hilary Swank, Josh Charles e Vivian Wu
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Andrew Hinderaker

A primeira missão tripulada a Marte será com certeza a maior aventura da história da humanidade. E aí escolhem um bando de pessoas psicologicamente instáveis em uma nave mal construída para a empreender. Pode isso, Arnaldo?

Essa é a sensação inicial que os primeiros episódios de "Away", nova série protagonizada por Hilary Swank, deixam naqueles que são um pouco mais familiarizados com a cultura da exploração espacial. Mas, mesmo que você se inclua nesse grupo, resista ao impulso de a pôr de lado logo na largada. Até porque o programa fala exatamente disso –resiliência e superação diante das adversidades.

Ao longo dos dez episódios da primeira temporada, a série criada por Andrew Hinderaker pode ser usada como evidência de que os fins justificam os meios, pelo menos em Hollywood. Embora a jornada em si seja cheia de patetices e falsas encrencas, chegamos ao destino desértico do planeta vermelho com um quinteto de personagens cativantes e uma grande aventura marciana pela frente.

"Away" conta a história de Emma Green, interpretada por Swank, astronauta americana escolhida para liderar uma equipe internacional na missão Atlas I, destinada a levar os primeiros humanos ao planeta vermelho.

Ao lado dela, há o experiente e calejado cosmonauta russo Misha Popov, o novato ganense-britânico Kwesi, o entusiasmado indiano Ram e a estoica chinesa Lu.

A jornada começa na Lua, de onde a espaçonave partirá a caminho de Marte. Mas um acidente a caminho do satélite terrestre deixa a tripulação em dúvida sobre as habilidades de sua comandante. E o que começa como um mistério de versões logo vira uma guerra aberta entre os tripulantes.

Mesmo sem ser versado em voo espacial, é difícil imaginar que uma tripulação que treinou junta por dois anos para uma missão não formou laços de lealdade que transcenderiam uma crise às vésperas da viagem.

Conhecendo um pouco mais, salta aos olhos quanta coisa dá errado nessa nave maluca. Vemos desde um vazamento de um composto inflamável e tóxico na cabine até a falha de um sistema de reprocessamento de água cujo sistema reserva é incapaz de substituir. Qualquer entusiasta de exploração espacial, para não falar em engenheiros de verdade, seria capaz de projetar um veículo com mais redundância e segurança.

Sem falar que não é preciso ser um gênio da dramaturgia para saber que qualquer perigo que ameace a missão está fadado a merecer o rótulo de falsa encrenca —o óbvio destino da temporada é chegar a Marte.

O principal problema dessas escolhas narrativas é, para além da previsibilidade, a mensagem implícita, a de que uma missão marciana razoavelmente livre de grandes incidentes e com uma tripulação que se comporte de maneira profissional, numa nave bem construída, não tem como ser dramaticamente interessante. Faltou acreditar na própria premissa.

Nos momentos em que a série faz isso, por sinal, brilha mais, mostrando o passado dos tripulantes e suas atuais relações familiares.

O fato de que Green acaba indo para Marte ao mesmo tempo em que seu marido Matt tem um derrame e quase morre, deixando a filha adolescente do casal Alexis sob risco de perder ambos, tem drama real e crível.

Em contraste, uma caminhada espacial destinada a consertar a abertura de um painel solar na partida da Terra é falsa encrenca pura, de rolar os olhos.

As crises de bordo funcionam melhor quando envolvem “plantão médico”, explorando efeitos documentados de voos espaciais prolongados sobre os astronautas.

Entre trapalhadas, incompetência e tristes incidentes, a tripulação vai aos poucos formando o esperado senso de camaradagem que se esperaria dela já na largada. É o que salva. Terminamos realmente gostando deles e enxergando ali uma equipe com quem gostaríamos de passar mais tempo.

Com isso, a despeito de todas as forçadas de barra, chegamos ao final com a sensação de uma promessa –o segundo ano será melhor. Dá vontade de saber o que acontece depois que finalmente, após as primeiras pegadas sobre Marte, a previsibilidade poderá ser posta de lado.

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