Descrição de chapéu Cinema DeltaFolha

Guerra do streaming turbina novidades e faz clássicos sumirem das plataformas

Levantamento do DeltaFolha mostra que mais da metade dos filmes nos principais serviços foram feitos na última década

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A atriz Janet Leigh em cena de 'Psicose', de Alfred Hitchcock, filme de 1960

A atriz Janet Leigh em cena de 'Psicose', de Alfred Hitchcock, filme de 1960 IMDb

São Paulo

Na atual era do streaming, qualquer pessoa disposta a pagar uma mensalidade para assinar alguma plataforma de filmes sob demanda tem à sua disposição, a qualquer momento do dia, uma imensa galeria de produções de diversos gêneros e países. Esses serviços representam hoje uma forma prática de consumir cinema e deixaram para trás DVDs, discos Blu-ray, canais pagos e as já finadas locadoras.

Mas com o superaquecimento desse jovem mercado, plataformas como a Netflix e a Amazon Prime Video perceberam que, para manter a dianteira nessa disputa, seria necessário investir massivamente em conteúdo original e arrematar os direitos de distribuição de sucessos recém-saídos das salas de cinema.

Com isso, os catálogos desses serviços passaram a ostentar títulos inéditos com amplo apelo popular e também blockbusters, pondo em segundo plano toda uma gama de filmes antigos, com público mais restrito e, portanto, menos potencial de seduzir novos assinantes.

De acordo com levantamento feito pelo DeltaFolha entre julho e agosto, Netflix, Amazon Prime Video, Telecine Play, Globoplay e HBO Go tinham, todas, mais de 50% de seu acervo cinematográfico ocupado por produções lançadas nos últimos dez anos.

A pesquisa levantou os catálogos completos desses cinco serviços no Brasil, excluiu dos resultados séries e outros programas de televisão e concluiu que é raro encontrar por lá longas lançados no século passado —e, como se já não bastasse a escassez, esses títulos costumam ficar escondidos, longe das categorias principais e das páginas iniciais das plataformas.

Vale ressaltar que os acervos analisados mudam diariamente, com entradas e saídas de conteúdos que podem causar variações nos resultados apresentados.

A plataforma menos preocupada com os filmes lançados entre 2010 e 2020 é a HBO Go, com 51% de seu acervo originado no período. Mas essa particularidade pouco tem a ver com uma intenção maior de contemplar anos longínquos.

O filme mais velho da HBO Go é de 1958, enquanto todas as outras plataformas analisadas têm pelo menos um título que data de anos anteriores. A única exceção é a Globoplay, que inaugura sua lista com “Perseguidor Implacável”, de 1971. Nela, 77% dos longas foram produzidos entre 2010 e 2020.

Clint Eastwood em cena do filme "Perseguidor Implacável", dirigido por Don Siegel em 1971
Clint Eastwood em cena do filme 'Perseguidor Implacável', dirigido por Don Siegel em 1971 - Divulgação

Mesmo que seja irmã do streaming da Globo, a Telecine Play, no entanto, já valoriza mais as primeiras décadas do cinema. Ela é, entre os serviços analisados, quem vai mais longe no passado, com o drama “Intolerância”, de 1916. Ela também é a única com alguma produção dos anos 1920. Além disso, a Telecine Play ostenta alguns bastiões do cinema, como longas de Fellini e Hicthcock.

A dupla com os maiores acervos de filmes analisados é formada por Netflix e Amazon Prime Video, com mais de 3.000 títulos cada uma. Ambas têm as maiores quantidades de filmes produzidos em 2020 e uma avassaladora maioria concentrada nos anos 2010 —no caso da Netflix, 80% de seu cardápio, e no da Amazon, 67%.

Nos cinco casos analisados, os anos 2000 também aparecem com certa força, mas basta voltar o milênio para que os resultados das buscas comecem a rarear. A média de espaço dedicado a lançamentos dos anos 1990, 1980 e 1970, ao juntar os cinco streamings, é de 7%, 3% e 1,5%, nesta ordem.

Os resultados levam a questionar para onde estão indo aqueles filmes considerados clássicos, de diretores cultuados nos dias de hoje, mas aparentemente esquecidos pelas novas tecnologias. Com a escassez de DVDs e discos Blu-ray no mercado, ficou difícil encontrar essas obras.

Marilyn Monroe em cena de "O Pecado Mora ao Lado", dirigido por Billy Wilder em 1955
Apesar de ter uma das cenas mais clássicas de Hollywood —e ser estrelado por uma de suas atrizes mais icônicas, Marilyn Monroe—, 'O Pecado Mora ao Lado', dirigido por Billy Wilder em 1955, não está presente nos streamings por assinatura brasileiros - Divulgação

Alguns estão em serviços de streaming considerados de nicho —aqueles com seleção mais refinada, mas com alcance limitado. No Brasil, os principais exemplos são o Belas Artes à la Carte e o Mubi, onde o preto e branco é por vezes mais frequente que os efeitos especiais coloridos.

Já outros podem ser comprados digitalmente, em plataformas como a Apple TV. Mesmo assim, pode ser difícil reencontrar um Akira Kurosawa ou um Billy Wilder por aí.

O levantamento do DeltaFolha ainda mostra que a quantidade total de filmes produzidos por ano não explica esse fenômeno.

De acordo com o IMDB, maior base de dados online do audiovisual, nunca se produziu tanto filme como atualmente. Mas, mesmo assim, de todas as estreias que já ocorreram desde a invenção do cinematógrafo, 35% foram entre 2011 e 2020. A quantidade é alta, mas não reflete a realidade dos catálogos analisados, que chegam a ter o dobro dessa porcentagem dedicada aos anos recentes.

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