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Estrela de 'Ratched', Sarah Paulson gosta de comer cookies veganos com leite

A atriz, colaboradora frequente de Ryan Murphy, fala sobre o que a inspira, como os filmes de John Cassavetes

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Kathryn Shattuck
The New York Times

Segundo Sarah Paulson, mesmo as pessoas mais frias e cruéis já foram vulneráveis um dia.

Como protagonista de “Ratched”, de Ryan Murphy, a história da origem da tirana enfermeira Ratched de “Um Estranho no Ninho”, Paulson não quis simplesmente tentar recriar a performance de Louise Fletcher. Em vez disso, sua ideia era trazer à tona o interior de uma personagem que ela nunca encarou como vilã.

Mulher segura leque
Sarah Paulson em capa da revista Elle - Reprodução/Instagram

Na versão atual, Mildred Ratched chega em 1947 a um hospital psiquiátrico do norte do estado americano da Califórnia, onde os médicos realizam experimentos mentais inquietantes com os pacientes. As lágrimas escorrem por seu rosto antes de ela pegar um picador de gelo e um martelo para realizar uma lobotomia.

“Pensei que se vamos voltar no tempo e inventar o passado de 20 anos atrás, quem Ratched poderia ter sido e o que pode ter explicado a calcificação de alma e espírito que vemos em ‘Estranho no Ninho’?”, disse Paulson, ela própria virtuose do terror graças a seu trabalho em “American Horror Story”, de Murphy.

Foi a espécie de mergulho corajoso e profundo que ela fez em seu retrato de Marcia Clark em “O Caso de O. J.: American Crime Story”, que rendeu a ela um Emmy (o próximo papel em que ela se arriscará desse modo será o de Linda Tripp). E Paulson admira as atuações destemidas e sem afetação de Gena Rowlands e Kim Stanley, duas de suas influências culturais.

“Se você só vai oferecer ao público aquilo que ele já viu”, disse ela por telefone, às vezes tecendo palavras de carinho a sua cadela Winnie, “poderíamos todos simplesmente ficar assistindo imagens da Court TV [emissora que transmite julgamentos reais ao vivo]”.

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Lisa Eisner

Com o passar dos anos, comecei a colecionar peças dela. Foi o momento que me senti adulta —senti que possuir um objeto como este era um sinal de que estou realizada, em termos de fazer de minha casa um reflexo de meu estilo e gosto próprios.

Tenho um prato —pode ser um porta-incenso— que é uma concha de abalone cujo interior é um rosa lindo, opalescente. Há uma borda em volta dele, quase como a espinha de um animal feito de esporos e bronze. Parece que veio do mar, e é claro que a base dele veio, sim, mas o modo como Eisner o trabalhou é tão belo e parece tão puro e natural. Gosto de ter em minha casa esse tipo de elemento que me põe em contato com a terra, porque sempre me sinto como se eu estivesse prestes a sair flutuando.

Cookies DeLuscious com leite

Isso é muito importante, o cookie vegano com gotas de chocolate. Não sou vegana, mas quero que você entenda que esta é uma versão superior dos cookies mágicos da DeLuscious. Uma coisa tão deliciosa assim deveria ter muita manteiga, ovos e laticínios. Mas este é um cookie que não precisa de manteiga.

Acho que foi Renée Zellweger quem me apresentou esses cookies. Fizemos um filme juntas, “Abaixo o Amor”. Ela nunca se esquecia do meu aniversário. Todos os anos havia uma garrafa grande de leite geladinho e estes cookies da DeLuscious. Juro por Deus, parecia que ainda estavam mornos, recém-saídos do forno. Como não sou vegana, posso tomar aquele leite com meu cookie vegano. Gosto dessa incongruência.

'Noite de Estreia', de John Cassavetes

Não é nada original ser atriz e adorar Cassavetes. Mas esse filme calou fundo em mim antes mesmo de eu ter chegado à idade em que estou enfrentando seu tema fundamental. Gena Rowlands é uma atriz que se depara com o fato de estar envelhecendo. Isso faz meu sangue gelar por causa do que reconheço em mim aos 45 anos.

Acho Gena Rowlands a atriz mais espetacular do mundo, e esta é a performance de sua vida. É tão destituída de vaidade que tem valor enorme para mim, porque às vezes esta indústria dita que você preste muita atenção à sua aparência externa. Isso infiltra o trabalho de uma maneira que pode ser realmente perigosa. Pensei “esta é uma atriz que não tem medo de ser odiada, que não tem medo de ser humilhada, não tem medo de ficar feia, é assim que eu quero ser como atriz”.

Kim Stanley

O filme “Frances” foi um dos momentos que mais me definiu. Eu me lembro de ter 14 anos e ter visto o filme na televisão. Era uma cena em que Jessica Lange está sentada em seu carro, olhando para sua casa. Pensei “o que é isso, quem é essa?”. Mas Kim Stanley foi a coisa mais espantosa.

Isso é algo que provavelmente só minha analista vai conseguir entender, mas o fato é que curto atuações que não envolvem a atriz fazer o público gostar dela ou se solidarizar com ela.

Quando trabalhei em “12 Anos de Escravidão”, eu me lembro de pensar “será que devo me incomodar com o ódio que os espectadores talvez venham a sentir por mim?”. Mas havia algo que me pareceu tão verdadeiro e tão vulgar, em termos de a personagem de Kim Stanley em “Frances” viver indiretamente através do sucesso, da beleza e da coragem de sua filha. Nunca consegui me esquecer disso.

'Heaven', de Joan Armatrading

Para mim, é a canção de amor mais bela já escrita. Cresci com todas as minhas amigas adorando Madonna. Enquanto isso, eu adorava Joan Armatrading, Laura Nyro, Joni Mitchell, The Pretenders e toda essa música da qual minha mãe tinha discos.

Quando ela não estava em casa, eu punha os discos para tocar e ficava chorando, como uma boa artista mirim que queria virar poeta-cantora. Eu nunca ouvira alguém cantar o amor de uma maneira que tinha todos os elementos da experiência real da paixão, uma coisa empolgante, tristonha e celebratória. É minha ideia do paraíso.

'Uma Vida Pequena', de Hanya Yanagihara

É o livro mais belo sobre dor que já li na vida. Mas, na realidade, ele trata da amizade e dos caminhos tortuosos que ela às vezes segue. Para mim, há algo profundamente emocionante e doloroso na história de amor entre esses amigos, ela me fez chorar. E estou falando de ficar soluçando incontrolavelmente na cama, à noite, antes de desligar a luz.

'Throughline', da National Public Radio

Esse podcast revê momentos de nossa história, num esforço para lançar mais luz sobre a situação em que estamos hoje. Em vista do que estamos enfrentando politicamente, além do ponto de vista da justiça social, acho importante rever o que considerávamos ser a verdade e quem sabe contextualizar essas histórias.

Ele me dá uma oportunidade real de ouvir sobre a história de uma maneira inventiva, clara e criada por jovens. Acho muito bom mesmo.

'I May Destroy You'

Não sei como Michaela Coel conseguiu criar uma série que trata de agressão sexual, mas também fala de todo o resto que acontece na vida das pessoas. E ela nos desafia a confrontar tantas de nossas ideias preconcebidas.

Arabella é uma personagem de quem a gente às vezes não gosta muito. Enxergo muita coragem na criação de uma personagem como ela, com quem a plateia não necessariamente tem vontade de passar tempo. Mas no instante seguinte você se apaixona por ela novamente. E, no momento depois desse, você chora por ela. E, logo depois disso, está gargalhando. Sem falar que o título da série é imbatível.

​​'Ann', na PBS Great Performances

Sim, sou enviesada porque isso foi escrito pela pessoa com quem compartilho minha vida. Mas sinto que há algo de muito profundo em amar uma pessoa do jeito que eu amo Holland Taylor, sem nunca ter tido conhecimento de “Ann” [a peça-monólogo Holland Taylor, indicada ao Tony, sobre a ex-governadora do estado americano do Texas Ann Richards], que eu só fui ver quando já estávamos profundamente mergulhadas em nossa história de amor. E então, estar sentada na plateia, vendo a pessoa que você ama mais que qualquer outra no mundo fazer algo espantoso.

É se dar conta, basicamente, que a pessoa que você ama é um gênio amalucado e uma artista verdadeira, dotada de senso de dever cívico e responsabilidade. Sentir respeito e admiração tão grandes por uma pessoa que eu já sentia que conhecia plenamente. E reconhecer como é difícil conhecer alguém plenamente.

As fotos de Sam Shaw

No instante em que eu soube que seria dona de uma casa minha, a coisa que eu mais quis adquirir foram essas fotos de John Cassavetes e Gena Rowlands. Acho que são meus bens que eu prezo mais que quaisquer outros.

Tenho uma foto de “Noite de Estreia” que estava amassada e danificada, mas insisti em ficar com ela, mesmo assim, porque mostra um momento muito belo de Gena Rowlands encolhida no chão. Isso me dá um senso de estar ligada aos atores. E é uma maneira de lembrar a mim mesma do tipo de trabalho que quero fazer.

Quando Cate Blanchett e eu estávamos trabalhando em “Mrs. America”, eu dei de presente a ela, quando as filmagens terminaram, uma foto original de Sam, um close muito grande do rosto de Gena. É uma coisa que tem significado trocado entre atrizes que curtem e admiram as mesmas atrizes.

Tradução de Clara Allain

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