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Livro destrincha a angústia dos jovens em Flaubert, Joyce e outros

Franco Moretti investiga protagonistas criados por autores nos clássicos romances de formação

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Maria Esther Maciel

O Romance de Formação

  • Preço R$ 74,90 (416 págs.); R$ 44,90 (ebook)
  • Autoria Franco Moretti
  • Editora Todavia
  • Tradução Natasha Belfort Palmeira

Se a juventude, com sua inquietude e seu dinamismo, foi um signo vigoroso da era moderna, ela encontrou o seu espaço simbólico por excelência no chamado romance de formação, o "Bildungsroman" europeu, surgido na Alemanha em 1795, com a publicação de "Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister", de Goethe.

É o que sustenta o crítico e professor italiano Franco Moretti no livro "O Romance de Formação", ao discutir os desdobramentos dessa forma literária em diferentes países da Europa a partir do final do século 18 até o início do século 20.

Para tanto, ele não só percorre alguns acontecimentos sociopolíticos emblemáticos da história europeia, como a Revolução Francesa, a restauração pós-napoleônica e a apoteose do capitalismo nas novas metrópoles, como também analisa, com um olhar arguto e matizado, um leque de obras que tiveram como protagonistas jovens em conflito íntimo com a realidade e as convenções sociais de seu tempo.

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Lançado originalmente em 1987 e agora publicado no Brasil pela editora Todavia, em ótima tradução de Natasha Belfort Palmeira, o livro já é um dos clássicos sobre o tema. Além de imprescindível para quem se dedica às teorias do romance, é também uma referência importante para os estudos contemporâneos sobre a história da literatura moderna em suas múltiplas configurações.

Partindo de uma sólida base teórica e uma ousada investigação crítica, Moretti reavalia as reflexões de Lukács, Bakhtin, Auerbach e Lotman sobre o "Bildungsroman" e faz uma leitura matizada da modernidade europeia à luz dessas incursões.

Segundo ele, se Goethe e Jane Austen estabeleceram as diretrizes iniciais do romance de formação, outros escritores como Stendhal, Púchkin e Balzac flexibilizaram seus princípios, dando a ele um outro arranjo. Já Flaubert e George Eliot o levaram ao seu ponto máximo, enquanto autores posteriores, como Joseph Conrad, Thomas Mann, Robert Musil, James Joyce e Franz Kafka marcaram o seu fim.

Entre idas e vindas temporais, Moretti se concentra na investigação de protagonistas jovens criados por esses e outros autores, comparando enredos, cenários e estratégias narrativas presentes nos romances, sempre atento às diferenças de cada geração e cada contexto histórico-geográfico.

Flagra, dessa maneira, as contradições que definiram, ao longo dos tempos, essa modalidade romanesca marcada pela juventude e, por extensão, avalia alguns dos paradoxos que incidiram sobre a própria noção de modernidade, evidenciando que todo processo evolutivo possui seus inevitáveis becos sem saída.

Ainda que inteiramente centrado na literatura europeia, o livro não deixa também de contribuir —graças ao seu caráter multifacetado e sua instigante abordagem crítica— para os estudos contemporâneos sobre o romance de formação em literaturas de outras partes do mundo, incluindo o Brasil.

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