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Na contramão do streaming, reality shows dão lucro e fôlego à TV tradicional

Brasil tem sido polo infalível de programas neste formato, da cozinha do 'MasterChef' às pegações do 'De Férias com o Ex'

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São Paulo

Na contramão da TV sob demanda, que permite ao espectador ver o que quiser quando quiser, a TV ao vivo encontrou um filão que mantém o público conectado na hora da transmissão, mérito que, com tal potencial, só se encontraria no noticiário urgente ou no esporte.

O reality show, espetáculo de uma realidade roteirizada, já mostrava seu poder de sedução no “Show de Truman”, filme de 1998, com Jim Carrey.

Com uma TV tão forte, o Brasil tem sido um polo infalível de todo tipo de reality, da cozinha do “MasterChef”, da Band, às pegações do “De Férias com o Ex”, da MTV, com uma premissa coroada pelo “Big Brother Brasil”, que já segue para a 21ª edição. Guardadas as proporções, o “BBB” é uma versão menor da telenovela, programa que o público ama odiar desde a primeira edição —as pessoas assistem para achincalhar e desopilar.

Mas o “BBB” também pode furar bolhas e abrir fronteiras para reflexões que os debates acadêmicos não alcançam, como aconteceu neste ano com a questão do racismo, levantada dentro da casa por Babu Santana e Thelma Assis, a vencedora.

Ou como se deu no “BBB 5”, que levantou a bola para Jean Wyllys mostrar os vilões responsáveis pela homofobia que nos cerca, apoiado pela fada sensata da ocasião, ninguém menos que Grazi Massafera.

Também como a telenovela, o que é próprio de fórmulas que afetam a emoção do espectador, os realities geram um poder de engajamento recorde nas redes. Afora assuntos políticos, não há formato de TV que renda mais conversa no Twitter, que prioriza comentários em tempo real e por isso vale como um termômetro da tela em domicílio.

Daí o interesse dos anunciantes no negócio. Os realities fogem do conceito de consumo passivo de TV, porque geram a tão desejada interatividade buscada pelas marcas.

A brincadeira aqui começou com “No Limite”, game de sobrevivência na natureza selvagem, parente do “Survivor” americano, com gente comendo até olho de cabra.

Mas foi a “Casa dos Artistas”, do SBT, em 2001, que entrou para a história. Primeiro representante do formato de confinamento no Brasil, o programa foi lançado como carta escondida na manga de Silvio Santos até a hora em que entrou no ar, já que se tratava de um clone do “Big Brother”, cujos direitos haviam sido oferecidos ao SBT antes da Globo.

Sem divulgação prévia, numa época em que nem rede social havia, “A Casa” bateu o Fantástico logo na estreia.

O dono do SBT se deu muito bem durante toda a primeira temporada, que juntou Alexandre Frota, Mari Alexandre, Supla e Bárbara Paz sob o mesmo teto, mas começou a azedar a própria receita na segunda edição, ao tentar criar novas regras no meio do jogo. O público rechaçou.

Supla, Mari, Alexandre Frota e Bárbara Paz, que participaram do programa "Casa dos Artistas", durante gravação de comercial do Ponto Frio, em Jacarepaguá, Rio, em 2010
Supla, Mari, Alexandre Frota e Bárbara Paz, que participaram do programa "Casa dos Artistas", durante gravação de comercial do Ponto Frio, em Jacarepaguá, Rio, em 2010 - Publius Vergilius/Folhapress

O confinamento do SBT também acabou sepultado por decisão da Justiça, a pedido da Globo e da produtora do formato, então Endemol, sob a alegação de plágio.

Foi assim que Silvio Santos deixou de ter o que se tornou um dos maiores faturamentos da Globo e, hoje, da Record, com “A Fazenda”, dirigida pelo mesmo profissional que fez “A Casa dos Artistas”, Rodrigo Carelli.

Na Globo, Boninho, filho do mais respeitado executivo de TV do país, o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), assumiu a tarefa de comandar versões nacionais de formatos consagrados lá fora e de criar novas receitas, o que ele fez com “Mestre do Sabor”, uma junção de elementos do “The Voice” com “MasterChef Brasil”.

Galinha dos ovos de ouro entre os formatos de cozinha, a competição de culinária comandada por Ana Paula Padrão vem sendo produzida pela Band ao longo dos últimos seis anos e cada temporada rende desdobramentos de novas experiências.

O êxito comercial do “MasterChef”, reality que primeiro soube explorar as benesses do Twitter com parceria de conteúdo, representa o momento em que o talent show encontra a “Cozinha Maravilhosa da Ofélia”, outro ícone da história da TV, pela mesma Bandeirantes, lá nos anos 1980.

A culinária, que desde sempre foi um bom negócio para a televisão brasileira, mantém sua majestade diante das câmeras e se tornou o nicho de reality show mais reproduzido hoje em vários canais, presente na Band, na Globo, na Record e no SBT, alguns deles em parceria com o canal pago Discovery Home & Health.

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