Presidente da Casa de Rui Barbosa nega censura e chora em reunião na Câmara

Letícia Dornelles falou sobre afastamentos de pesquisadores e respondeu às críticas de que não teria perfil para o cargo

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São Paulo

A atual gestão da Fundação Casa de Rui Barbosa foi tema da uma reunião online, transmitida pelo canal do YouTube da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (9).

Na reunião, estavam presentes a presidente da instituição, Letícia Dornelles, alguns dos ex-presidentes —Marta de Senna, José Almiro de Alencar e Lúcia Maria Velloso de Oliveira—, os professores universitários Ana Maria Camargo e Pedro Meira Monteiro, o advogado Técio Lins e Silva, membro do Conselho Consultivo da Casa de Rui Barbosa, e os deputados federais Marcelo Calero, do Cidadania fluminense, Daniel Silveira, do PSL fluminense, Camilo Capiberibe, do PSL do Amapá, Benedita da Silva, do PT PT fluminense, e Jandira Feghali, do PCdoB fluminense.

Em maio deste ano, foi revelada uma proposta de extinguir a Fundação Casa de Rui Barbosa e a transformar num museu vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram. Na ocasião, a bancada do PSOL na Câmara pediu informações ao governo.

Dois meses depois, no entanto, uma nota publicada no site do Ibram falou em arquivamento da proposta, sob o argumento de que os trâmites burocráticos desta medida provisória "impedem a celeridade" da decisão. E, semanas depois, a proposta foi arquivada.

Segundo Dornelles, ela teria procurado o ministro do Turismo pedindo que a Casa não fosse extinta. "Aqui está Letícia, pare de chorar", foi o que o ministro disse à presidente da Casa, segundo ela, ao arquivar a ideia.

Após a fala de deputados que questionaram as polêmicas envolvendo a atual gestão da fundação, que teve cinco servidores afastados de seus cargos em janeiro sem nenhum aviso prévio, Dornelles falou sob lágrimas. A presidente da Casa tem sido criticada pelos funcionários da instituição desde sua nomeação por, segundo eles, não ter perfil para o cargo.

Leticia Dornelles, presidente da Casa Rui Barbosa.
Leticia Dornelles, presidente da Casa Rui Barbosa. - Reprodução/Twitter

Segundo a presidente, assim que ela soube da possibilidade de extinção da Casa, foi averiguar o caso com o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, apresentando a ele um documento que revelaria uma intenção desse processo. Dornelles disse ainda que desde então tem lutado bravamente para que a Casa não seja extinta e diz ter o apoio do ministro.

"Eu fui ao ministro [do Turismo] e disse 'me ajude, salve a cultura, salve a Casa Rui Barbosa'", afirmou ela. "E o ministro salvou a Casa Rui Barbosa, sim."

Segundo Dornelles, um documento vazado do Ibram mostrava que a entidade tinha interesse na proposta de vinculação, mas depois que ela entrou em contato com a instituição para pedir que a Casa não fosse entregue, houve a interrupção do processo.

Em sua fala, o deputado Daniel Silveira disse que Dornelles tem "trabalhado arduamente" na fundação. Segundo Silveira, a presidente investiu R$ 3,5 milhões no espaço cultural, com a realização de atividades como digilitalização do acervo físico, reformas e contratação de brigada de incêndio na Casa.

"Me causou uma estranheza do que foi falado [pelos presentes na reunião] sobre liberdade de expressão. Hoje, a liberdade de expressão não é retirada pelo governo federal, mas pelo próprio STF [Supremo Tribunal Federal]", disse também Silveira, em referência a falas anteriores da reunião que acusavam a atual gestão da Casa de cerceamento da liberdade de expressão e perseguição política.

Segundo o deputado, Dornelles exonerou "três servidores" porque faziam "somente palestras contra o governo e sobre ditadura". No entanto, a presidente afastou cinco pesquisadores que eram considerados "a alma" da Fundação Casa de Rui Barbosa e, na época, não apresentou explicações, apenas afirmando que a medida foi tomada para "uma otimização administrativa" e que se tratava de uma decisão de governo.

Na reunião, quando lhe perguntaram se houve censura nesses afastamentos, Dornelles negou as acusações. "Nunca censurei, nunca proibi nada", disse.

Dornelles, roteirista de novelas e autora de livros infantis, respondeu ainda às críticas de que não teria perfil e formação para o cargo. Segundo ela, embora não tenha escrito livros sobre Rui Barbosa, conhece a obra do jurista e diplomata. Dornelles disse ainda não ser pesquisadora e sim gestora e que sua função na Casa é lidar com dinheiro.

“O meu cargo é mais político. Eu sou gestora pública, eu lido com dinheiro, e não com a parte acadêmica. A parte acadêmica é com eles [aponta para Marta Alonso Ciqueira, diretora do centro de pesquisa, e Mauro Rosa, diretor do centro de memória e informação, que estão ao lado dela, sem máscaras] e está muito bem representada, são pessoas ativas que estão fazendo um trabalho excelente."

A presidente também foi questionada sobre o aniversário de seu filho, Patrick, de nove anos, comemorado em agosto, no gabinete da fundação. "Festa do meu filho? Ele veio me buscar, era aniversário dele e rapidamente encomendei um bolinho, só isso", argumentou Dornelles, que postou fotos da comemoração nas redes sociais.

Dornelles ainda agradeceu a dois funcionários da Casa que, segundo ela, têm mais de 60 anos e estão indo trabalhar na pandemia. "Eles não têm preguiça", disse.

No final do encontro, a antecessora no cargo de Dornelles, Marta de Senna, lamentou o "desmonte cultural" promovido pelo atual governo Bolsonaro e criticou a presidente por não reunir o Comitê de Governança e nem o Conselho Consultutivo da Fundação para a tomada das decisões.

Erramos: o texto foi alterado

Uma versão anterior deste texto afirmava erroneamente que a deputada Benedita da Silva disse na reunião haver boatos de que a atual gestão estaria promovendo queima de arquivos da fundação relacionados ao período escravocrata brasileiro. Contudo, a deputada afirmou que já houve uma ordem dada por Rui Barbosa, entre 1890 e 1891, que teria como resultado a queima dos documentos relativos à escravidão. O texto foi corrigido. 

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