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Ricos são os que mais deixaram de ler no Brasil desde 2015, mostra pesquisa

Taxa de leitores no país caiu 4%, enquanto entre aqueles de maior renda o índice diminuiu 12%

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São Paulo

Desde 2015, a queda mais brusca nos índices de leitura no Brasil ocorreu entre os mais ricos e escolarizados.

É o que mostra a quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, iniciativa do Instituto Pró-Livro e do Itaú Cultural, que identificou uma diminuição de 4% no nível geral de leitura no país.

Hoje, 52% dos brasileiros têm o hábito da leitura —o que define um leitor, para a pesquisa, é ter lido um livro nos últimos três meses, inteiro ou em partes— e três em cada dez pessoas declaram ter dificuldade de compreender um livro.

De todas as faixas de renda familiar, a que mais caiu foi a que recebe mais de dez salários mínimos, com uma redução de 12 pontos percentuais, de 82% para 70%. O estrato de cinco a dez salários mínimos caiu 11 pontos. Todas as faixas inferiores tiveram reduções menores, de no máximo quatro pontos percentuais.

O percentual de pessoas com ensino superior que se declara leitor caiu de 82% para 68%. Também foi a queda mais acentuada entre todos os níveis de escolaridade.

Mulher escolhe livro em pratilheira
Abertura da Bienal do livro no Pavilhao do Anhembi, em São Paulo, em 26 de agosto de 2016 - Zanone Fraissat/Folhapress

"O número de pessoas que usam seu tempo livre com a internet, as redes sociais cresceu muito e vai aumentando conforme a leitura vai caindo", afirma Zoara Failla, coordenadora da pesquisa. "O tempo que se dedicava a outras atividades, inclusive leitura, está sendo atraído."

Para olhar o lado cheio do copo, ela chama atenção para o aumento no número de crianças de cinco a dez anos que se declaram leitoras e dizem que gostam de ler. "É importante para pensar o que está dando certo e o que não se pode abandonar."

Failla diz que umas das explicações possíveis é a boa variedade de literatura infantil de qualidade no Brasil e o maior investimento das famílias na mediação da leitura com os filhos, um estímulo que dá resultado. Em todas as outras faixas etárias, porém, a taxa de leitores caiu.

A pesquisadora cita entre os principais fatores que têm segurado o número para baixo as interrupções em programas de distribuição de livros, a falta de investimento no acervo de bibliotecas e o contexto de crise econômica que faz as famílias apertarem os cintos —em resumo, todos sintomas da dificuldade de acesso ao livro.

É uma situação que pode se agravar caso a reforma tributária de Paulo Guedes passe a taxar os livros, levando as editoras a aumentarem os preços de capa. Para 22% dos brasileiros leitores, o preço é o principal fator na hora de comprar um livro, um percentual que salta para 28% quando se pergunta a quem recebe de um a dois salários mínimos.

Failla afirma que é verdade que, proporcionalmente, as classes A e B leem mais. Mas, quando se olha para número absoluto, de quantas pessoas há em cada estrato, se vê que o número de leitores nas classes mais baixas é maior. "E é esse pessoal que está dizendo que a principal dificuldade para consumo é o preço."

O apoio do Itaú Cultural ajudou a pesquisa a ampliar o número de entrevistas de 5.000 para 8.000, abarcando quase todas as capitais brasileiras. A pesquisa foi feita pelo Ibope e tem margem de erro de 1%.

Eduardo Saron, diretor da instituição, afirma que um dos aspectos que tinham interesse em aprofundar era o comportamento do leitor de livros digitais. Segundo a pesquisa, 17% dos leitores preferem ler neste formato e 16% leem tanto ebooks quanto livros físicos.

"O digital é fundamental para pensar a democratização do acesso. Em que pese a desigualdade que o país também enfrenta nesse campo do digital, entender a dinâmica desses hábitos é essencial."

Segundo a pesquisa, 88% dos leitores de livros digitais baixou o ebook gratuitamente. E apenas 18% pagou para fazer o download, o que indica que essa é uma cultura ainda em formação.

Para embasar a importância de ampliar o acesso à literatura, Saron lembra a visão de Antonio Candido da leitura como um direito humano.

"Imaginar que, quatro anos depois, diminuímos o número de leitores só nos deixa ainda mais preocupados com esta lacuna de desigualdade que o país produz cada vez mais."

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