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Rolling Stones relançam 'Goats Head Soup', mas genialidade fica de fora

Edição especial é lançada nesta sexta e tem participação de Jimmy Page, o histórico guitarrista do Led Zeppelin

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Os cinco integrantes dos Rolling Stones aparecem como centauros, com a parte da barriga para cima fotografada e o corpo de cavalo desenhado

Os integrantes dos Rolling Stones, em arte de divulgação para o relançamento em 2020 do álbum 'Goat's Head Soup', de 1973 Aubrey Powell/Divulgação

GOATS HEAD SOUP

  • Preço Caixa física por 100 libras (R$ 700)
  • Gravadora Universal
  • Lançamento original 1973
  • Banda Rolling Stones

Difícil dizer que um disco dos Rolling Stones nos anos de 1960 ou de 1970 seja ruim. No caso de “Goats Head Soup”, lançado em 1973 e relançado neta sexta-feira (4) em uma caixa de luxo, daremos três estrelas. Isso o define apenas como “bom”, em contraste aos “muito bom” (quatro estrelas) ou “ótimo” (cinco) que a banda inglesa geralmente merece.

Primeiro, as qualidades. O single deste álbum, a balada “Angie”, foi um sucesso mundial e é uma das melhores já feitas pelos Stones e até hoje é uma das favoritas do público. A lenda diz que Angie se referia à modelo Angela Bowie. Sim, a mulher do homem. Outra lenda, no entanto, conta que Angela pegou Jagger na cama com seu marido, e não que Bowie tenha flagrado a esposa com o stone.

Quando questionado, o guitarrista e compositor Keith Richards lembrou que sua segunda filha (a primeira mulher) havia nascido e sido registrada um ano antes como Dandelion Angel Richards e que “Angie, Angie” era apenas um nome que ele cantava de vez em quando nas tentativas de composições.

Mas à parte “Angie”, nada mais nesse álbum ficou para a história. O que não significa que seja todo ruim. Há ainda algumas melodias bastante boas. “A Hundred Years Ago” é uma delas, com uma segunda parte vocal de Jagger marcante, além das guitarras e um órgão que valem a pena.

“Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker)” também é ótima. Aqui, o que chama a atenção é a junção da melodia cantada por Jagger com as guitarras e o sax no refrão.

Vocalista com panos amarelo no rosto
Capa de "Goats Head Soup" (1973), dos Rolling Stones, com foto de David Bailey - Reprodução

Os próprios Stones apostaram em três outras, todas rocks básicos, pois foram as únicas que a banda tocou ao vivo, além da lenta “Angie”, na turnê subsequente. São elas: “Dancing with Mr. D”, “Silver Train” e “Star Star”. A última foi a que envelheceu melhor.

As outras canções não se sustentam hoje, apesar de o disco ter sido bem recebido pela crítica da época. “Uma das mais ricas experiências musicais do ano” e “mais um agradável álbum” foram frases escritas, respectivamente, nas revistas Rolling Stone e Billboard.

Jagger disse em entrevista: “As faixas são muito mais variadas que no último álbum. Eu não queria mais um punhado de canções de rock.” E aqui chegamos ao cerne da questão. Os Stones vinham de seus quatro melhores discos, todos eles preenchidos com legítimos punhados de canções de rock.

Após os excessos psicodélicos da segunda metade dos anos 1960, a banda se voltou às raízes do rock americano e mandou a tetralogia “Beggar’s Banquet”, de 1968, “Let It Bleed”, de 1969, “Sticky Fingers”, de 1971, e “Exile on Main Street”, de 1972. São discos imbatíveis, com uma sucessão de hits e canções que estão na história da música rock.

Em contraste, “Goats Head Soup” ("Sopa de Cabeça de Bode", em inglês) vinha mais “variado, rico e agradável”. Só que a soma das partes pareceu artificial. O crítico Stephen Thomas Erlewine, do site All Music Guide, foi um dos que explicou melhor como esse disco passou a ser visto alguns anos depois de seu lançamento:

“Desistindo do que foi provavelmente o melhor veio de rock da história, os Stones escorregam para a decadência e para os excessos da fama com ‘Goats Head Soup’. Aqui é onde a imagem da banda começou a eclipsar seus feitos, com Mick ascendendo ao jet-set internacional e Keith lentamente se afundando nas drogas, sendo possível ouvir a ambos se movendo nessas duas direções, às vezes na mesma canção.”

A caixa de luxo que está sendo lançada guarda mimos aos fãs, sendo que o principal deles são três músicas inéditas. Elas abrem o segundo CD ou LP, de demos e curiosidades (há um terceiro, com material ao vivo daquele ano).

“Criss Cross” não fede nem cheira. “All the Rage” é boa. O vocal esganiçado de Jagger é surpreendente e a guitarra da abertura se aproxima bastante da que estaria em “Little T&A”, lançada em 1981 no disco “Tatoo You”. É um típico rock alegre, cheio de solos para cima, que poderia ter figurado sem fazer feio em qualquer álbum dos Stones desde então.

E então temos a surpreendente “Scarlet”, lançada como single há algumas semanas, no anúncio do lançamento desta caixa. A guitarra que abre a música não parece vir da lavra stoniana, é muito rock pesado, quase heavy metal. E não vem mesmo: temos aqui a colaboração de Jimmy Page, o histórico guitarrista do Led Zeppelin.

A obra tem também um grande refrão de Jagger, melódica e que fica na cabeça. Page e Richards dizem, em um vídeo recém-publicado no canal dos Rolling Stones no YouTube, que o clima era mais de brincadeira do que de gravar uma canção pronta.

A gravação, na verdade aconteceu um ano depois de “Goats Head Soup”, no segundo semestre de 1974, logo após os Stones lançarem um novo álbum, “It’s Only Rock’n Roll”. A banda de Page havia lançado “Houses of the Holy” em 1973 e era um sucesso mundial absoluto devido à balada “Stairway to Heaven”, do álbum anterior.

Fica difícil, portanto, entender por que os caras não trabalharam um pouco mais para que “Scarlet” se tornasse um grande compacto em meados dos anos 1970. Pelo menos sai agora.​

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