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Sem 'Pantanal', clássicos rurais das novelas não teriam existido

Remake da história de Juma anunciado pela Globo é tentativa de reviver estrondo de 'Renascer' e afins

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São Paulo

“Pantanal” terá um remake na Globo no ano que vem, mas não ficou claro por que produzir agora essa novela quando há três décadas o mesmo canal não quis contar a história de Juma Marruá, obra de Benedito Ruy Barbosa.

Quem acompanhou a resistência da líder de mercado em admitir o êxito de “Pantanal” tomou um choque. Na época, diziam que a novela nunca bateu a Globo. Mas não foi bem o caso. Não bateu na média geral, mas fez história, sim. Na verdade, não há produção que tenha abalado mais a emissora. E são muitos os motivos.

Diante da recusa da Globo, o autor, então contratado do canal, foi bater à extinta Manchete. Profundo conhecedor do interior do país, Benedito disse mais de uma vez que a pesquisa para bancar sua ideia fora conduzida de modo equivocado e de má vontade pelo diretor Herval Rossano. A Globo enviou uma equipe a Mato Grosso na época de cheia dos rios, o que rendeu um diagnóstico de produção inviável.

Na época, a Globo fazia novelas em estúdio e cidade cenográfica, no máximo. Uma parte mínima eram cenas externas —e não muito longe do Rio de Janeiro. A Manchete, que apostava em teledramaturgia, bancou a ideia. O diretor Jayme Monjardim, também ex-Globo, assumiu a missão de fazer “Pantanal” in loco, e não toda em Jacarepaguá.

Os nomes de peso no projeto levaram Cláudio Marzo, José de Abreu, Angela Leal e Cássia Kis da Globo para lá. Marcos Palmeira, querendo construir uma imagem fora do canal dos Marinhos e longe do tio famoso, Chico Anysio, também gostou da ideia. Em resumo, foi um sucesso de “milhões de espectadores”.

Benedito Ruy Barbosa foi seduzido a voltar para a Globo depois do fim de “Pantanal”, lançando, só então, sua primeira novela na faixa nobre. Mais do que isso, “Renascer”, de 1993, que reinaugurou sua presença na emissora, foi excepcionalmente feita quase toda na Bahia, onde a história se passava —e com Marcos Palmeira como mocinho.

Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, que também esteve ao lado de Benedito em “O Rei do Gado”, “Velho Chico” e “Meu Pedacinho de Chão”, “Renascer” é uma das mais belas obras da Globo, e a emissora deve isso ao efeito “Pantanal”.

No fim das contas, a recusa da Globo foi um bom negócio para a TV brasileira. Sem a ousadia da Manchete, que tinha menos a perder e muita sede de se posicionar no ramo, é provável que “Pantanal” não tivesse abusado tanto das cenas de nudez à beira do rio nem de imagens externas, e talvez sem isso, nem “Renascer” nem “O Rei do Gado” tivessem mostrado seu fôlego com cenários fora do comum em horário nobre.

Com todo o zelo que a Globo sempre teve, foi preciso que a coisa ocorresse na concorrência para se mostrar possível.

Segundo Ricardo Waddington, diretor dos Estúdios Globo, e de Rogério Gomes, que assumiu o projeto, o remake será feito fora da época das cheias. Marcos Palmeira, Paulo Gorgulho e Cristiana Oliveira, que foi catapultada para a fama pela personagem Juma Marruá, grande atração da história, falaram sobre a atualização do enredo, assim como Bruno Luperi, neto de Benedito responsável pela adaptação, e o próprio Benedito.

Waddington deu uma pista para a nova Juma Marruá, dizendo que apostaria num lançamento, um novo rosto.

A Globo ainda não confirma que “Pantanal” será produzida para suceder “Um Lugar ao Sol”, de Lícia Manzo, sucessora de “Amor de Mãe”, ainda fora do ar —mas já em gravação de 23 capítulos finais, que só serão exibidos no ano que vem. Até um mês atrás, a trama escalada para ocupar essa vaga após “Um Lugar ao Sol” era a nova novela de João Emanuel Carneiro, que continua trabalhando na trama inédita.

Segundo a comunicação da Globo, as duas novelas —a obra de Carneiro e o remake de “Pantanal”— estão em desenvolvimento. Só cabe a pergunta —se há 30 anos a questão eram as cheias dos rios, por que planejar um projeto fora do Projac sem saber como, quando e com que efeito teremos uma vacina contra a Covid-19 até março de 2021, quando a produção teria de seguir adiante na prática? Para quem chegou com 30 anos de atraso, o que motiva acelerar neste momento?

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