Bill Murray dá vida a pai bon vivant em 'On the Rocks', novo filme de Sofia Coppola

Diretora faz com que o espectador se envolva e sofra junto da protagonista numa comédia melancólica e adorável

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Manohla Dargis
The New York Times

Não surpreende que Bill Murray tome posse de "On the Rocks", a nova comédia de Sofia Coppola —mesmo que esse sequestro na verdade represente uma astuta rendição da diretora. Escalar Murray é uma maneira garantida de conquistar o público. Mas também significa ceder pelo menos parte do filme a ele, o que é exatamente o que acontece neste caso.

O ator interpreta um pai a quem a filha pede ajuda para lidar com os problemas em seu relacionamento com o marido. Se isso parece ser uma ideia duvidosa para uma filha adulta, não podemos esquecer que funciona também como uma brincadeira conceitual para uma diretora cujo pai, Francis Ford Coppola, lança uma sombra considerável.

Murray interpreta Felix, um comerciante de arte aposentado e bon vivant permanente que se deu bem na vida e gosta de ostentar, com um Alfa Romeo clássico na garagem e um trabalho de Ellsworth Kelly sobre a lareira. A filha dele, Laura (Rashida Jones, também filha de um pai lendário, Quincy Jones), é uma escritora que enfrenta dificuldades para pôr palavras no papel e cuidar das duas filhas pequenas. O marido dela, Dean, papel de Marlon Wayans, parece sempre estar beijando a mulher superficialmente ao chegar e sair correndo de casa.

A trama gira em torno do medo, bem razoável, de Laura de que Dean tenha perdido o interesse por ela. Quando o filme começa, o conto de fadas acabou e Laura procura o conselho de Felix, ainda que pedir conselhos matrimoniais a um pai que sempre foi infiel às mulheres seja estranho. Coppola jamais explica por que Laura pede ajuda ao pai, ainda que o amor dele sirva como uma boa justificativa, e também como um refúgio.

E a desenvoltura de Murray no diálogo e sua presença bagunceira irradiam boa vontade suficiente para que o espectador aceite a premissa. Murray não se aprofunda demais em seus papéis e, por isso, a sensação é sempre a de que estamos vendo uma mesma versão do ator, da lenda da comédia (engraçado, seco, impossível de conhecer), o que serve para acalmar as arestas de Felix. Laura talvez ainda se recorde dos pecados do pai, mas eles já não a machucam.

Jones não tem grande alcance como atriz, mas seu rosto torna fácil que nos percamos nele, e ela é sempre uma figura simples e simpática. Quando ela parece estar sofrendo, o espectador quer ajudar.

Por boa parte do filme, Laura é espectadora de sua vida. Ela vai junto, ela vai de carona. No passado, o apego de Coppola à ambiguidade podia parecer uma fuga, um esforço para evitar significado. Mas em "On the Rocks", uma história melancólica e adorável sobre amadurecer, ainda que tarde, não há nada de ambíguo na forma pela qual ela nos leva a ver uma mulher que ficou perdida por muito tempo na sombra da vida.

On the Rocks

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Tradução de Paulo Migliacci

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