Designers discutem futuro e transformação do mundo em festival de criatividade

Maior evento da América Latina na área, Pixel Show 2020 será totalmente online e contará com 190 horas de atividades

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Marcelo Pliger
São Paulo

Como será o futuro daqui 150 anos? A pergunta orienta palestras, oficinas e performances do Festival de Criativade Pixel Show 2020. O evento é o maior da América Latina na área e este ano será totalmente online. Por isso, a organização prevê um público maior do que a média de 50 mil pessoas das edições anteriores.

De 12 a 18 de outubro, criativos terão 190 horas de atividades pagas e gratuitas sobre design, ilustração, arquitetura, negócios, arte, filme, fotografia, game, moda, tecnologia entre outras áreas.

Sobre o futuro, os conferencistas falarão de emoções artificiais, antirracismo, moradias ecológicas, feminismo, educação, pandemia e claro, estratégias de criação.

Entre as principais atrações estão Liza Enebeis, diretora criativa do Studio Dumbar (Holanda), e Abbott Miller, designer sócio da Pentagram (EUA). Ambos estúdios foram fundados na década de 1970 e ainda se mantém entre os mais relevantes do mundo.

A Folha conversou com Abbott Miller, que também é curador e escritor. No ano passado, ele comemorou 20 anos de lançamento do aclamado livro “Design, Writing, Research”, estudo crítico escrito em parceria com a esposa Ellen Lupton, que atualmente é curadora do Cooper Hewitt, museu de design do Instituto Smithsonian.

Para Miller, o mundo foi totalmente transformado, positivo e negativamente, pelo design e isso é uma característica definidora da vida altamente industrializada que vivemos nos últimos 200 anos.

Ele destaca que o desenvolvimento de projetos de design demanda quantidades enormes de pesquisa e curadoria, mas que essa etapa do trabalho é pouco debatida criticamente porque é mais fácil falar apenas do resultado final. Segundo ele, o ensino em design está mudando para refletir a complexidade desse processo.

Para Miller, a maior mudança nas últimas décadas foi a influência “penetrante” das redes sociais. O designer aponta o efeito fragmentador que a profusão de tantos canais efêmeros criou. Não existe nenhum aspecto de criação que não tenha sido de alguma maneira impactado pela tecnologia digital.

Por um lado essa tecnologia agilizou a criação, permitindo explorar muitas ideias rapidamente. Por outro, se tornou mais difícil decidir entre tantos caminhos possíveis.

Como Lupton, Miller ensina design e procura ser uma ponte para os designers-pensadores que o influenciaram: “Quero estabelecer conexões entre design, escrita e curadoria e motivar os alunos a pensarem criticamente”.

“Bom design”, explica, era um termo usado nos anos 1950 para descrever o valor do design a consumidores, empresas e governos. Tornou-se um rótulo que reflete as estratégias estéticas da arte abstrata. Ainda guardamos traços dessa tradição na estética minimalista da Apple, por exemplo.

O design “ruim” pode descrever coisas que são vulgares, kitsch ou simplesmente não funcionam bem. Para ele, “bom” e “mau” estão em constante evolução, mas vêm se afastando de questões estéticas e de gosto para focar em questões de funcionalidade e sensibilidade cultural.

Além de Miller, o evento terá a participação do italiano Mauro Porcini, chefe de design da Pepsi. Ele defende o uso do design como metodologia de transformação positiva do mundo.

Também se destacam o designer israelense Yossi Lemel, criador de cartazes políticos de forte impacto visual, o ilustrador sueco Mattias Adolfsson, criador de cenários futuristas e consultor da Dreamworks e da Disney, e o inglês Ben Eine, artista pioneiro no uso da tipografia no grafite.

Duas participações curiosas são o Estúdio Biomimic, especializado na criação de robôs —alguns deles vistos na última trilogia Star Wars— e Masayoshi Matsumoto, criador de esculturas complexas feitas com balões entrelaçados.

Entre os brasileiros, Marcio Scavone, com 50 anos de profissão e conhecido pelos retratos de forte teor psicológico, e o ilustrador Cristiano Suarez, que no ano passado criou cartaz polêmico para a turnê da banda punk Dead Kennedys.

Na imagem, crítica ao governo Bolsonaro, uma família de palhaços vestindo camisetas da seleção brasileira e armados, aparece sorrindo entre tanques de guerra e favelas em chamas enquanto uma das crianças diz: “Eu adoro o cheiro dos pobres mortos pela manhã”.

Entre estratégias de representação e projetos de futuros utópicos ou distópicos a curadoria do evento parece ter resumido a questão que toma a cabeça de todos neste ano de transformações: como criaremos o futuro?

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