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Estreia na pandemia 'Utopia', uma série sobre o poder de prever novas pandemias

Trama de Gillian Flynn, de 'Garota Exemplar', na Amazon, acompanha grupo de jovens que quer impedir novas doenças

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São Paulo

Imagine se a Covid-19 tivesse sido prevista por um escritor que deixou, escondidas numa história em quadrinhos, dicas de quando e como ocorreriam as próximas pandemias do planeta. É mais ou menos isso o que acontece em “Utopia”, nova série da Amazon Prime Video, que acaba de chegar à plataforma.

Mesmo com esse nome, a trama não se desenrola num cenário de harmonia ou idealismo —muito pelo contrário. Nela, acompanhamos jovens que nunca se conheceram pessoalmente, mas que decidiram formar um grupo online por serem alguns dos poucos leitores de uma HQ que conseguiram identificar nela menções a doenças como ebola e zika.

Quando descobrem a existência de um novo quadrinho do mesmo autor, eles decidem que é hora de se juntar para o encontrar e tentar prever pandemias que ainda estão por vir. Uma milícia perigosa, no entanto, também está atrás da obra, mas por motivos muito menos nobres.

A criadora da série é a americana Gillian Flynn, autora dos sucessos literários “Garota Exemplar” e “Lugares Escuros”, que viraram filmes, e “Objetos Cortantes”, adaptada para a TV. Mesmo já tendo se envolvido com roteiros antes, este é o primeiro trabalho audiovisual no qual ela está no comando.

Ao ser questionada sobre a atual situação pandêmica e a temática de sua nova criação, ela diz que ficou surpresa com o timing da Covid-19, que chegou quando “Utopia” já estava na pós-produção.

“Nós estávamos na sala de edição quando isso tudo aconteceu e ficamos completamente chocados”, diz Flynn por telefone. “Nos Estados Unidos não acontecia uma pandemia em uns cem anos, então foi muito surreal e estranho quando isso se tornou algo global.”

Ela confessa que ficou preocupada com a reação que as pessoas teriam a “Utopia”, já que a realidade as castigava o suficiente com sintomas e caos em escala mundial. Mesmo assim, Flynn sentiu que a atualidade da série seria uma boa maneira de espalhar a mensagem da trama.

“Eu pensava que as pessoas não iam querer ver coisas sobre pandemias, e eu entendo isso. Mas eu também acho que a arte sempre foi uma forma de falar sobre situações reais. Agora com a Covid-19, eu acredito que nós precisamos parar um pouco para pensar no que estamos fazendo com o planeta —não só por causa de pandemias, mas por causa de tudo”, diz a autora, apegada às questões ambientais também suscitadas por “Utopia”.

A autora e roteirista, no entanto, ressalta que sua obra não tem a ambição de educar ninguém —é puro entretenimento, que pode, de certa forma, abrir os olhos das pessoas para questões importantes. “Não é uma série educativa, eu estou mais interessada em fazer as pessoas falarem sobre esses assuntos”, afirma.

Mesmo assinando como criadora de “Utopia”, a ideia que serve de base para a trama não é exatamente de Flynn. Ela adaptou uma outra série, britânica e de mesmo nome, lançada em 2013. A premissa é semelhante, mas a versão da autora americana tem novos episódios e uma abordagem totalmente diferente.

“Quem me apresentou à série original foi o David Fincher”, diz ela, sobre o diretor da adaptação de “Garota Exemplar”. “Depois de assistir, a primeira coisa que pensei foi que eu não precisava fazer um remake só porque tinha gostado do original. Então eu busquei algo interessante e único que pudesse acrescentar àquela história, porque achava que era importante falar mais sobre as questões ambientais que ela traz.”

O rosto mais conhecido desta nova versão de “Utopia” é o de John Cusack, que na série de Flynn interpreta um poderoso empresário metido a estrela, que quer usar sua influência para mudar hábitos e tornar o mundo um lugar menos suscetível a problemas como fome, aquecimento global e, claro, doenças.

“Foi muito bom ser convidado para essa série. A Gillian me procurou e fiquei muito lisonjeado, porque ela é uma escritora incrível. Ela me mandou o roteiro e eu li de uma vez. A escrita era espetacular, então foi fácil aceitar o convite”, diz Cusack, que está no elenco fixo de uma série de TV pela primeira vez. “Foi uma experiência nova, porque eu nunca tinha feito um mesmo personagem por mais de duas horas.”

O ator conta que, enquanto eles preparavam a série, doenças como a gripe espanhola e a Sars ajudaram a guiar os personagens e o mundo pandêmico no qual eles estão mergulhados. E, mesmo que “Utopia” fale sobre como epidemias vêm e vão a todo momento, ele destaca que a realidade de agora é completamente inesperada e terrível.

“Foi perigosamente real demais ver a pandemia começando logo depois de filmarmos a série, isso tudo é muito doido”, afirma Cusack. “É uma obra de ficção, mas esses temas distópicos sempre estiverem por aí no cinema, na TV, no teatro ou na literatura. E agora nós podemos ver isso de forma muito próxima e palpável.”

Com um alto orçamento e uma campanha de marketing impulsionada pela pandemia do mundo real, “Utopia” já tem planos para uma nova leva de episódios, atualmente sendo escritos por Flynn. É isso o que a autora faz enquanto espera pelo fim da Covid-19.

Questionada sobre o nome da produção e sobre como uma utopia seria para ela, a autora não hesita. “Seria uma Casa Branca sem Donald Trump e um mundo com esse vírus sob controle, para que meus filhos e os de todas as outras pessoas possam brincar por aí.”

Utopia

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