Ex-produtor de Renato Russo diz que supostos inéditos do cantor são só rascunhos

Letras alvo de operação policial nunca chegaram a ser musicadas, segundo Carlos Trilha

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São Paulo

Não existe música inédita de Renato Russo que já não tenha sido publicada, embora haja uma série de poemas e letras do cantor, rascunhadas em cadernos, que ainda não vieram a público.

As afirmações são de Carlos Trilha, ex-produtor dos discos solo do vocalista da Legião Urbana, comentando as ações de busca e apreensão realizadas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro nesta segunda (26).

Os oficiais estavam atrás de músicas inéditas do cantor, que o jornalista Marcelo Froes supostamente teria em seus arquivos. Froes produziu três álbuns póstumos de Renato e foi responsável por um levantamento do trabalho do vocalista depois de sua morte.

O vocalista Renato Russo durante show da banda Legião Urbana, no estádio do Parque Antarctica - Adi Leite -12.ago.1990/Folhapress

A denúncia que deflagrou a operação Será —em referência a um dos maiores sucessos da banda— foi feita pelo filho de Renato, Giuliano Manfredini, que hoje cuida do espólio do pai. A polícia afirmou que apreendeu 30 composições supostamente inéditas e levou também HDs, computador e celular de Froes.

Froes postou em uma rede social na segunda-feira de manhã que estará incomunicável pelos próximos dias. Procurado, ele não respondeu.

Trilha afirma duvidar que Froes tenha algo novo a mostrar. “O que o Marcelo Froes teria que a Legião não teria? Que o Dado [Villa-Lobos, ex-guitarrista da banda] não teria, que o Dado não soubesse? Que isso já não teria sido trabalhado e rebuscado anos atrás?”

Segundo Trilha, o que havia de publicável da banda saiu no álbum póstumo “Uma Outra Estação”, lançado em 1997, meses depois da morte de Renato Russo em decorrência de complicações do HIV, e o material inédito do músico foi explorado no disco “Último Solo”, que chegou ao mercado também depois de sua morte.

Por ter trabalhado anos com o artista, Trilha afirma ter algumas sobras, como trechos de arranjos, músicas não acabadas e gravações de Renato com a voz desafinada, mas diz que este material é de uso privado e que nunca disponibilizou “absolutamente nada para ninguém”, em respeito à memória do cantor. Seria “cara de pau” lançar isso como material inédito, acrescenta.

O produtor afirma ainda que Froes comentou com ele há alguns anos que havia muitas letras e poesias inéditas de Renato, mas que nenhuma estava musicada. Esses versos viriam de cadernos nos quais Renato escrevia, conta Trilha, que entrou em contato com esse material ao visitar o antigo apartamento do cantor em Ipanema, no Rio de Janeiro, durante uma pesquisa para o filme “Somos Tão Jovens”, sobre a juventude do cantor.

Trilha diz ainda suspeitar que Froes possa ter entregue algumas dessas letras inéditas para compositores musicarem, mas quando a administração do espólio de Renato passou para seu filho, há dez anos, esse processo teria sido pausado pelo jornalista. Seriam estas supostas novas músicas que teriam motivado Giuliano a acionar a polícia.

Desde que assumiu o espólio do pai, Manfredini cortou o contato com todas as pessoas que até então cuidavam do legado do cantor, afirmou Froes ao jornal O Globo. “É uma pena, porque tem muita coisa inédita para editar. Mas tudo isso não está na minha casa, está no arquivo da EMI [a ex-gravadora da banda]”, ele disse.

A perseguição do filho de Renato a quem supostamente teria material inédito do cantor também foi relatada por Michel Games, um dos administradores da página Arquivo Legião, grupo de fãs da banda no Facebook, com 41 mil seguidores.

Há alguns anos, a comunidade divulgou uma fita rara com Renato Russo cantando ao lado do guitarrista André Pretorius na banda Aborto Elétrico, grupo do cantor de antes da Legião Urbana. Games conta que “Giuliano ficou louco”, que “queria essa fita” e que desde então passou a ameaçar os administradores do grupo.

No ano passado, a casa na Baixada Fluminense de outro administrador da página, Josivaldo Bezerra da Cruz Junior, foi alvo de uma operação de busca e apreensão, na qual a polícia também buscava material inédito do cantor.

“O próprio Giuliano, se ele tivesse noção, pega o Marcelo Froes, que fez o levantamento desse material, junta com o Dado e o com [Marcelo] Bonfá [ex-baterista da banda] e lança alguma coisa interessante para os fãs, não estava tendo essas brigas, não, todo mundo saía ganhando", disse Games.

Também procurado, Manfredini não se manifestou.

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