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Janis Joplin foi um furacão que virou o rock do avesso e irritou o FBI, revela biografia

Cantora namorou rapazes e garotas, foi vigiada pela polícia e causou no Carnaval do Rio em 1970, pouco antes de morrer

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A cantora americana Janis Joplin

A cantora americana Janis Joplin Crawley Films/The Kobal Collection/Folhapress

São Paulo

​A visita de Janis Joplin ao Brasil, no Carnaval de 1970, foi um verdadeiro furacão. Topless na praia, bebedeira nos blocos, presença nos desfiles das escolas de samba e até a tentativa frustrada de organizar um show ao ar livre no Rio de Janeiro.

Naquele mesmo ano, a cantora americana morreria de overdose de heroína, aos 27, no dia 4 de outubro. No cinquentenário de sua morte, neste domingo, fãs podem relembrar Janis com a mais completa biografia já dedicada a ela. A primeira, entre dezenas, a investir num relato vasto e equilibrado entre vida pessoal e a jornada na música.

Uma curta jornada. Janis gravou quatro álbuns, desde a estreia com "Big Brother and the Holding Company", em agosto de 1967, até "Pearl", lançamento póstumo em janeiro de 1971. Foram só quatro anos de estrelato, o mesmo tempo em que a jornalista americana Holly George-Warren trabalhou em "Janis Joplin: Sua Vida, Sua Música".

Na biografia, elogiada pela imprensa americana, a passagem de Janis por Rio e Salvador está reduzida a quatro das 400 páginas do livro. Certamente uma decepção para fãs brasileiros, e a autora pede enfáticas desculpas.

"Eu tinha muito mais a dizer sobre a viagem, mas meus editores consideraram a versão original muito longa, então tivemos que chegar a alguns cortes", diz George-Warren. Segundo ela, a visita ao Brasil, quando Janis tentava largar as drogas, foi um dos períodos mais felizes de sua vida.

Seis meses depois de voltar para casa, Janis ainda falava a toda hora do Brasil. No ano anterior, ela viajou bastante para a Europa, com muito sucesso, mas depois não mostrou o mesmo entusiasmo que o Brasil despertaria nela.

"Ela falou da viagem numa entrevista à revista Rolling Stone, falou bastante do Brasil em talk shows na TV. Espontaneamente começava a recordar a viagem", conta George-Warren. "Ela tentou organizar um pequeno festival nas ruas do Rio, mas a polícia não permitiu. Janis teria feito o primeiro Rock in Rio", brinca a escritora.

Exceto pelo episódio no Brasil, o livro é farto em detalhes. O desafio de Holly George-Warren, jornalista que já trabalhou na Rolling Stone e no New York Times, foi contemplar com a mesma intensidade a vida pessoal e a carreira. Para ela, é um diferencial para as outras biografias famosas da cantora, "Enterrada Viva", de Myra Friedman, e "Com Amor, Janis", de Laura Joplin.

"Myra foi assessora de imprensa de Janis. E o outro livro foi escrito pela irmã dela. Pessoas muito próximas. Escreveram com tristeza, acho que não conseguiram captar a imagem completa de Janis, e nem era a intenção delas", comenta George-Warren.

"Busquei objetividade, tentei entender Janis por vários ângulos. Ela foi tratada como um símbolo, uma mulher em confronto com a América de seu tempo. Mas não teve o crédito devido a seu lado criativo na música. Como uma garota sai de um lugar tão conservador no Texas e se torna aquela cantora incrível, brilhando em Woodstock? Foi meu foco."

Ao relatar a convivência de Janis na adolescência com o grupo dos meninos mais descolados de sua cidade, George-Warren comenta que ela cresceu numa época em que as mulheres não tinham os mesmos direitos dos homens.

"Uma garota destemida entre meninos intelectuais, fãs de música. Isso deu a ela confiança. Ela tinha o que contribuir nas discussões. Usava seu cérebro e seu talento. Outras meninas queriam ser atraentes. Janis desde sempre queria desafiar os garotos."

"A ebulição que se vê hoje nas ruas, nos protestos, é um cenário para vozes desafiadoras como a de Janis", prossegue a biógrafa. "Veja que, 50 anos depois, a América está dividida na disputa por direitos civis, como estava na Guerra do Vietnã. É assustador voltar a isso meio século depois."

Segundo George-Warren, Janis sabia de sua força. "O rock era uma plataforma. Tinha poder de atrair a mídia e fazer declarações, era muito articulada. Janis falou à revista Time sobre os episódios de racismo que testemunhou tendo crescido no Texas. Namorava rapazes e garotas, sem se esconder. Perigosa? É claro! Ela era vigiada pelo FBI!"

A escritora vê Janis muito ambiciosa e concentrada no estúdio e no palco, mas longe dali o ambiente a empurrava para álcool e drogas. "Acho que isso aconteceu principalmente em 1969, foram tempos difíceis. Ela largou o Big Brother, o grupo com o qual despontou para o sucesso, e foi criticada fortemente pela imprensa e por fãs. Ela teve medo de ter cometido um erro, achava que as pessoas não iriam mais gostar dela."

A overdose de Janis foi acidental. Depois de meses longe das drogas, teve uma recaída e consumiu heroína com alto grau de pureza. George-Warren acredita que ela teria chance de seguir crescendo na carreira. "Ela queria se tornar uma produtora de discos, coisa que as mulheres não faziam. Estava frequentando aulas de piano dias antes de morrer. Ela queria mais e mais."

A biógrafa diz ter certeza que Janis nunca pararia. "Talvez se aproximasse do country rock. Ela admirava Nina Simone, poderia se aproximar do jazz. E iria morar no Brasil, sem dúvida. Ela falava isso, estava decidindo em que lugar do Brasil gostaria de morar."

Holly George-Warren já escreveu livros sobre Woodstock e sobre a vida do roqueiro cult Alex Chilton. Agora diz estar de dedos cruzados para viabilizar seu próximo projeto, que vai focar uma das maiores influências de Janis. A escritora já tem em mãos um vasto arquivo de cartas, diários e outros manuscritos do autor beat Jack Kerouac. O livro está em fase final de negociação.

Janis Joplin: Sua Vida, Sua Música

  • Preço R$ 69,90 (400 págs.)
  • Autoria Holly George-Warren
  • Editora Ed.: Seoman
  • Trdução Martha Argel e Humberto Moura Neto
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