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Livros

Nova antologia de Szymborska é menos impactante que as outras

Hoje mais familiar aos brasileiros, polonesa ainda seduz o leitor por sua perspicácia, sem perturbar a língua

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Laura Erber

Escritora, editora e coordenadora do programa de pós-doutorado do Instituto Internacional de Estudos Asiáticos da Universidade de Leiden

Para o Meu Coração num Domingo

  • Preço R$ 74,90 (344 págs.); R$ 39,90 (ebook)
  • Autoria Wislawa Szymborska
  • Editora Companhia das Letras
  • Tradução Regina Przybycien e Gabriel Borowski

“Para o Meu Coração num Domingo” é a terceira antologia de poemas da polonesa Wislawa Szymborska publicada no Brasil. As anteriores, também pela Companhia das Letras, juntas traziam 129 poemas, selecionados e traduzidos por Regina Przybycien que, na antologia agora lançada, divide o trabalho com Gabriel Borowski.

A primeira cumpria muito bem o papel de apresentar ao leitor brasileiro a premiada com o Nobel, com poemas de 1957 a 2002. A segunda cobria um arco de tempo maior, de 1957 a 2012. Sua poesia até então circulava de maneira esparsa e restrita, embora não se possa omitir a importância da edição portuguesa da Relógio D’Água aos primeiros admiradores no Brasil.

Neste ano a Âyiné lançou “Quinquilharias e Recordações”, extensa biografia de Szymborska, de modo que a recepção à nova antologia pode contar com um contexto de mais familiaridade.

A terceira antologia reúne 85 poemas e é menos impactante que as precedentes, mas importa por ensejar conhecimento mais amplo da obra de Szymborska, nem tão vasta assim, cerca de 250 poemas.

É possível notar a força dramática rente ao mundo, que dá concretude às perguntas sobre o ser de cada coisa e consistência à verdade dos sonhos. Em lugar da expressão imediata da intimidade e da emoção, Szymborska prefere a eloquência das imagens e o gesto descritivo-meditativo.

O lirismo é contido pelo ímpeto analítico, o mundo emerge pela observadora aturdida, mas que se mantém sempre em plena posse de suas faculdades críticas e poéticas.

A dimensão laboriosa se deixa entrever no modo como é produzida a sensação de uma correlação perfeita e estável entre a coisa observada e o seu dizer. Surge daí uma poesia aprumada, de rara legibilidade, que seduz o leitor por sua perspicácia sem chegar a perturbar a prosa da língua.

Os discursos de apresentação de seus livros destacam o caráter coloquial e não retórico de sua poesia. E coloquialidade é fruto de uma construção, visando mais à clareza e à limpidez que ao registro poluído do falar ordinário.

Szymborska se disse, em 1996, não muito apta para refletir ou falar sobre sua poesia, mas ofereceu uma chave importante. “Todo conhecimento que não leva a perguntas novas se extingue depressa: não consegue manter a temperatura necessária para a conservação da vida.”

Os melhores poemas da antologia nos fazem sentir essa temperatura vital e mostram que a poesia não é aplicação de um conhecimento prévio sobre o que observamos e nos causa espanto. Seria um gesto de interrogação tão ágil quanto paciente. E nisso se irmana à arte do acrobata, tão dependente da precisão quanto da “inspiração calculada”.

O poema dedicado ao acrobata poderá ser lido como descrição do que faz a autora. Como ele, Szymborska lança mão de astúcias para “agarrar na mão o mundo balouçante”.

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