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'Industry', nova série da HBO, decifra o mundo dos bancos de investimento

Produção acompanha o início da carreira de jovens da geração Z numa Londres pós-Brexit

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Ellie Austin
The Wall Street Journal

“Você está pronta para a sessão de doutrinação?”, um executivo sênior pergunta à nova recruta Harper Stern, papel de Myha’la Herrold, numa reunião de café da manhã com um grupo de principiantes.

É o primeiro episódio da série “Industry”, da HBO, mas a terceira semana de trabalho dos novos recrutas no Pierpont & Co., um banco de investimento fictício no distrito financeiro de Londres.

Harper é parte de um grupo de profissionais inexperientes, mas dispostos a tudo para agradar. Jovens de 20 e poucos anos, eles conseguiram uma vaga no prestigioso programa de graduação do banco, que combina elementos de um primeiro emprego, no degrau inicial da hierarquia da empresa, e de um processo de treinamento estruturado. Mas eles mal têm tempo para desfrutar do seu sucesso.

Quando se acomodam numa sala de reuniões que mais parece um auditório, os recrutas, vestindo roupas alinhadas e com cara de novas e coletes acolchoados portando o logotipo do banco, são instruídos a olhar para a pessoa sentada ao lado deles. “Você se acha melhor que essa pessoa? Talvez seja mesmo. Mas metade de vocês não estará aqui dentro de seis meses.”

E isso dita o tom para um processo que parece o meio do caminho entre um reality show que elimina candidatos a cada episódio e a admissão a um culto. A questão para os espectadores, porém, é outra. O que cada um daqueles jovens ambiciosos está de fato fazendo lá?

O que sabemos é que temos diante de nós um grupo de pessoas bem-sucedidas e implacáveis, de diferentes origens socioeconômicas e culturas, competindo pelo número limitado de empregos disponível numa empresa descrita como “a mais importante instituição financeira do planeta”.

Dentro de seis meses, eles serão avaliados por meio de um processo chamado RIF —abreviatura de “redução de função” — no qual seus supervisores determinarão se vale a pena os contratar em definitivo.

Mas os detalhes do processo de seleção são mais difíceis de desemaranhar.

Os cinco personagens principais da série —Harper, Robert, Yasmin, Hari e Gus— se dividem por três departamentos diferentes. Yasmin parece ser a única participante do programa a ser encaminhada à área de câmbio; Harper e Robert são designados para a área de venda de produtos cruzados; Hari e Gus se sentam um ao lado do outro no departamento de fusões e aquisições.

Qualquer pessoa que tenha trabalhado por alguns anos numa mesa de operações vai entender e encontrar defeitos na representação do mundo em que os jovens da geração Z estão operando. Para todo mundo mais, é provável que restem dúvidas no final do primeiro episódio.

Os criadores da série, Mickey Down e Konrad Kay, trabalharam no ramo de finanças antes de serem excluídos de processos semelhantes aos que a série mostra. As experiências deles nos bancos Rothschild & Co. e Morgan Stanley, nesta ordem, orientam a dinâmica da série. Com algumas informações oferecidas pelos dois, encontre abaixo algumas dicas sobre o que cada um dos personagens faz e por que isso importa.

Vendas de produtos cruzados: o destino dos garotos espertos

A área é onde Harper e Robert, papel de Harry Lawtey, trabalham. O objetivo é vender múltiplos produtos financeiros a clientes existentes do banco. Por exemplo, se você tem um cliente que costuma comprar títulos de dívida, pode tentar fazer com que se interesse em investir num produto de ações. Essencialmente, se você trabalha nessa área, seu trabalho é vender serviços adicionais do banco como forma de gerar mais receita.

“No banco onde trabalhei, a área de CPS costumava atrair o pessoal mais inteligente”, disse Kay. “Os diretores executivos que chefiavam essa área costumavam ter mais estilo e ousadia.”

Esse é certamente o caso de Eric, papel de Ken Leung, que comanda a área de CPS do Pierpont. Ele conta histórias dramáticas sobre as grandes transações que conduziu no passado e, um minuto depois, está incentivando os subordinados a brandir bastões de beisebol como forma de ganhar energia para uma reunião importante.

Harper, que Kay e Down descrevem como “a mais inteligente” dos novatos, era uma escolha natural para a área de CPS. Eles decidiram pôr Robert ao lado dela porque achavam que introduzir um número muito grande de áreas de operações na história poderia complicar as coisas para os espectadores.

“Na vida real, um cara como Robert terminaria na área de venda de ações”, disse Down. (É o departamento no qual corretores ajudam clientes a selecionar e comprar ações.)

“Ele é um cara que se formou em arte em Oxford, e o banco não sabe onde o encaixar. Tem jeito para vendas, teria bom relacionamento com os clientes, e provavelmente leva jeito para se comunicar ao telefone”.

Câmbio: o oeste selvagem

Yasmin, papel de Marisa Abela, é designada para a área de câmbio, ou FX, onde seu senso de moda muito feminino —saias justas, saltos altíssimos e faixas de veludo para prender os cabelos— conflita com a cultura machista imposta pelo chefe da mesa, o “bully” Kenny, papel de Connor MacNeill.

“Nós achamos que seria o maior batismo de fogo para uma personagem como Yasmin trabalhar em uma área com jeito de oeste selvagem, onde a política com relação a gêneros não é tão progressista quanto em outras partes do banco”, diz Kay. “Parecia que a área de câmbio era a ideal para isso.”

Como o nome indica, o trabalho da área é comprar e vender moedas estrangeiras para os clientes do banco. Muitas dessas transações acontecem no mercado Forex, uma rede eletrônica de bancos, corretoras e instituições onde trilhões de dólares mudam de mãos a cada dia.

Os bancos ajudam os clientes a decidir que moedas negociar e quando, a depender das flutuações nas taxas de câmbio.

Fusões e aquisições: a torre de marfim

É Hari, papel de Nabhaan Rizwan, que introduz a ideia de que a área de fusões e aquisições é a mais prestigiosa do Pierpont, um conceito reforçado por sua localização num andar separado dos demais vendedores. “Estou aqui na torre de marfim e vocês lá embaixo com os camponeses”, ele diz para Harper, quando se encontra com ela por acaso.

Na área de fusões e aquisições, os analistas assessoram companhias sobre as melhores maneiras de se consolidar, adquirir outras companhias ou adquirir ativos. É um setor no qual os bancos têm a possibilidade de ganhar muito dinheiro, o que explica por que as pessoas que trabalham no departamento desfrutam de certo status.

Gus, papel de David Jonsson, e Hari recebem a tarefa de ajudar seu chefe neurótico a preparar uma apresentação para uma empresa de delivery de comida chamada Hunger Fix, que quer se consolidar. Ainda que os personagens trabalhem lado a lado, o caminho que conduziu cada um deles ao Pierpoint difere muito.

Gus estudou em Eton, uma das escolas particulares mais prestigiosas do Reino Unido, que tem entre seus ex-alunos o primeiro-ministro Boris Johnson e os príncipes William e Harry. Hari foi a uma escola pública e sente que precisa compensar essa desvantagem trabalhando até despencar. A coisa não acaba bem.

The Wall Street Journal, tradução de Paulo Migliacci

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