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PlayStation 5 traz Homem-Aranha negro inspirado em Obama, mas evita política

CEO Jim Ryan diz que marca mostrou 'vontade de abraçar a diversidade' com títulos como 'The Last of Us'

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Belo Horizonte

“Uma coisa que eu não vou fazer de novo é lançar um console no meio de uma pandemia.” O CEO da PlayStation, Jim Ryan, começa a entrevista dizendo que a sua vida não está sendo fácil.

A aguardada nova geração de consoles da Sony será lançada no Brasil no próximo dia 19.

Ryan tem dito que o PlayStation 5 vai trazer uma mudança de paradigma no mundo dos videogames —e com isso ele quer chamar a atenção para inovações no áudio, no armazenamento de dados, na velocidade e nas funcionalidades do novo controle.

Na indústria cultural como um todo, porém, está sob tensão um paradigma que tem menos a ver com bytes e mais a ver com gente —a crescente demanda por inclusão de mulheres, negros, LGBTs e outras minorias nas narrativas dos produtos culturais, mas também no seu processo produtivo.

No ano em que a morte de um homem negro por policiais nos Estados Unidos tomou os holofotes do debate público, o Oscar anunciou que passará a adotar exigências de diversidade e representação. No Brasil, a São Paulo Fashion Week passou a exigir que metade dos modelos de cada grife seja de negros, afrodescendentes ou indígenas.

“Acho que, como empresa [Sony], demonstramos uma vontade de abraçar a diversidade”, diz Ryan. Ele menciona a franquia “The Last of Us”, que explorou “alguns assuntos que a indústria de games até agora não estava disposta a confrontar”.

O jogo que ele menciona, “The Last of Us Part 2”, foi lançado em junho deste ano e, além de trazer gráficos de última geração e roteiro robusto, mexeu com os ânimos de gamers mais conservadores ao trazer uma protagonista lésbica, um personagem trans e pôr um culto religioso no território dos vilões.

Mas o carro-chefe desta primeira leva de jogos do PS5 é “Spider-Man: Miles Morales”, que traz um Homem-Aranha negro e latino como protagonista. Mas, como games demoram anos para serem produzidos, seria exagero dizer que há uma influência direta entre a morte de George Floyd no jogo —mas o tema da brutalidade policial contra negros, que não é nada recente nos Estados Unidos, não é explorado ali.

Homem negro vestido de homem aranha
Imagem de jogo do jogo 'Spider-Man: Miles Morales' - Divulgação

“O grosso do game [“Miles Morales”] foi feito antes dos trágicos eventos ocorridos neste ano. Mas esses acontecimentos nos deram uma percepção e um desejo de que precisamos melhorar tanto em termos da forma como gerenciamos, desenvolvemos e contratamos força de trabalho e, em segundo lugar, nos produtos que levamos aos nossos consumidores e no conteúdo dos jogos”, diz Ryan.

Vale lembrar que Morales não é um personagem novo —ele protagoniza o filme "Homem-Aranha no Aranhaverso" e está no jogo “Marvel’s Spider Man”, do PlayStation 4, ambos de 2018. Ele apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em 2011 e sua concepção foi inspirada pela ascenção de Barack Obama à Casa Branca e no artista Donald Glover, ou Childish Gambino —que anos depois quebraria a internet com o clipe “This Is America”, falando justamente sobre brutalidade policial e racismo.

Mesmo assim, quando questionado se os temas e narrativas dos jogos exclusivos do PlayStation 5 serão mais políticos —seguindo uma tendência mundial na cultura—, Jim Ryan prefere não responder. “Hoje eu só quero falar sobre o PS5 e sobre o ecossistema de games.”

Seja lendo Norberto Bobbio ou até escritores de textões de Facebook, é fácil perceber que política nem sempre se limita aos assuntos da administração pública. Nesse sentido, falar de representatividade é falar de política.

De fato, o tema está na pauta de muitos jogos desta temporada, ainda que muitas vezes de forma não escancarada como em outras mídias. “Watch Dogs: Legion”, por exemplo, se passa numa Londres distópica.

Na E3 do ano passado, o maior evento de games do mundo, o diretor criativo do jogo relaciona a história do jogo ao brexit —ele se passa num futuro em que a cidade estaria em decadência, transformada num Estado policial, onde “a liberdade foi substituída por medo”, disse Clint Hocking na ocasião. O jogo, porém, não traz referências diretas ao brexit.

“Call of Duty: Black Ops Cold War”, que trará Ronald Reagan como personagem do jogo, criou polêmica ao soltar um teaser com imagens de uma entrevista real com um desertor da KGB —que dizia que o movimento de direitos civis nos Estados Unidos funcionava como espécie de fantoche da União Soviética para desestabilizar o país.

O Xbox Series X, principal concorrente do PlayStation, chega na semana que vem anunciando velocidade, poder de processamento, gráficos de última geração, além da continuidade do serviço Game Pass, que tem sido chamado de “Netflix de games”, um de seus grandes diferenciais.

Mas, em termos de diversidade, a marca pode enfrentar um caminho mais tortuoso, uma vez que se envolveu em polêmicas este ano. Em junho, um conhecido streamer que usava o Xbox no nome de seu canal postou uma piada racista nas redes sociais em reação a manifestações do Black Lives Matter nos Estados Unidos.

A Xbox Brasil disse que o conteúdo do canal não refletia os “valores fundamentais de respeito, diversidade e inclusão” da empresa e pediu a remoção de sua marca dos canais do streamer.

Mais recentemente, a empresa demitiu Isadora Basile, a apresentadora do canal da Xbox Brasil no YouTube, depois de pouco mais de um mês no cargo. Segundo a youtuber, a decisão ocorreu após ela receber ataques virtuais de usuários, incluindo ameaças de estupro. Nas suas redes, a Xbox afirmou que a mudança se deu por “mudanças em estratégias de conteúdo”.

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