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Vida pós 2020 é retratada com poucas máscaras em filme exibido na Mostra

'Neon Através do Oceano', de Matthew Pastor, foi montado durante o lockdown na Austrália

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São Paulo

Máscaras faciais, obsessão por limpeza e ausência de contato físico vêm à tona quando o assunto é o futuro da vida em sociedade, considerando os impactos da pandemia de Covid-19. No universo criado por Matthew Pastor em “Néon Através do Oceano”, exibido na 44ª Mostra de Cinema de São Paulo, nenhuma dessas especulações se concretiza.

A principal cicatriz deixada por este ano de 2020, segundo o filme, será a distância. A sensação está presente ao longo de toda a narrativa, que se passa em Melbourne, na Austrália, num futuro próximo e indeterminado no qual as ruas são mais vazias e as pessoas passam a maior parte do tempo em casa.

Segundo Pastor, que também é responsável pelo roteiro e pela montagem, o distanciamento teve impacto direto no filme, finalizado durante o período em que a Austrália estava em lockdown.

Boa parte das cenas foram filmadas no início do ano, quando os efeitos da pandemia não eram tão claros e as regras de convivência, ainda indefinidas. Por isso, as poucas pessoas que circulam nas ruas não usam máscaras.

Para as tomadas internas, Pastor recorreu aos apartamentos de amigos —a última cena foi concluída em julho. “Mesmo com o confinamento e apesar das regras, eu encontrei novos meios de contar histórias”, diz o diretor.

Os registros nas Filipinas são de viagens anteriores do diretor e a narração que acompanha essa passagem do filme foi gravada por telefone, já que era impossível encontrar pessoalmente a atriz que faria essa intervenção.

Pastor, que sempre está trabalhando em ao menos duas produções ao mesmo tempo, teve a ideia de fazer “Néon Através do Oceano” há cinco anos e adaptou a narrativa para o contexto atual. “Eu já queria falar sobre duas pessoas separadas, mas veio a pandemia e eu pensei ‘OK, então essa é a história’.”

No longa-metragem, uma adolescente de origem australiana e filipina, como Pastor, se vê sozinha em meio ao divórcio dos pais e às incertezas sobre seu futuro, já que está prestes a terminar o colegial. Ela começa, então, a se interessar por suas origens.

Em oposição ao vazio e à arquitetura minimalista australiana que cercam a protagonista, há cenas das
madrugadas em Manila, nas Filipinas, com ruas e bares cheios iluminados pelos néons que dão nome ao filme.

A relação entre passado, presente e futuro é algo íntimo para o diretor, que diz ter a sensação de sempre viver os três momentos ao mesmo tempo. Foi esse incômodo o que o motivou a conceber “Néon Através do Oceano” como parte de uma trilogia.

Enquanto o filme que está na Mostra retrata o mundo pós-crise do coronavírus, “Lápis na Jugular”, que está em fase de pós-produção, fala sobre 2020 no presente, e “Planos que Eles Fizeram”, ainda em estágios iniciais, apresenta uma época em que a pandemia era algo inimaginável.

Inverter a ordem da narrativa, começando pelo filme sobre o futuro, foi algo intencional. Segundo Pastor, é mais interessante fazer especulações e brincar com inseguranças do que esperar para fazer um registro posterior.

“Néon Através do Oceano” faz sua estreia mundial na Mostra e é o primeiro trabalho do cineasta australiano a participar do festival paulistano—que faz uma edição com exibições online justamente por causa da pandemia.

O fato de não poder exibir seu filme para o público de uma forma tradicional não desanima Pastor . “Este é o jeito mais adequado de ter a experiência da obra nesse contexto, em que realidade e a ficção estão tão conectadas. É quase poético”, afirma.

Neon Através do Oceano

  • Quando Em exibição na 44ª Mostra de Cinema de SP
  • Elenco Waiyee Rivera, Chi Nguyen e Gregory Pakis
  • Produção Austrália/Filipinas, 2020
  • Direção Matthew Victor Pastor
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