Falta de público em show de Rennan da Penha na Virada expõe fragilidade do funk

Encontro entre DJ e MC Kekel no evento, que neste ano acontece quase todo online,

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São Paulo

Entre as 400 atrações gratuitas da 16ª edição da Virada Cultural, que acontece entre este sábado (12) e domingo (13), um dos eventos no mínimo foi revelador —o encontro do DJ carioca Rennan da Penha com o MC paulistano MC Kekel.

A apresentação dos dois artistas, cada qual uma forte referência em suas respectivas praias, rolou no palco do Theatro Municipal —assim como diversas outras apresentações musicais do evento— na noite de sábado e foi transmitido online, com início às 23h e término às 23h58.

Rennan da Penha e MC Kekel em show na Virada Cultural 2020. (Foto: Reprodução)
Rennan da Penha e MC Kekel em show na Virada Cultural 2020. (Foto: Reprodução) - Reprodução

Com o tema “Tudo de Arte, Nada de Aglomeração”, boa parte da programação desta Virada Cultural não contou com a presença física do público, força motriz do funk. Público este que dá sentido à palavra aglomeração e ao próprio gênero musical. Com isso, a apresentação de Rennan da Penha e de Kekel, sem as pessoas presentes, perdeu sentido.

Os artistas não têm pouca prática. Sempre fizeram bem o que se propõem, enfrentando constantemente um preconceito descabido, que já foi enfrentado um dia pelo samba, pela capoeira e, ainda o é, pelo rap, pois suas músicas mobilizam massas.

Rennan é o criador do baile funk de rua mais conhecido do Rio de Janeiro, o Baile da Gaiola. O nome do baile é citado em inúmeras letras, em uma espécie de “merchan”, que nas letras agrega valor à música.

Contudo, sem a presença da massa, o DJ estava mais para uma professora do jardim da infância, conduzindo crianças em uma dança de quadrilha, do que para o exímio líder que aglomerava mais de 20 mil pessoas por baile.

Entre seus comandos, frases ditas para animar a live, como “Vocês que estão em casa, quero ver vocês cantando”, “Mãozinha no joelho, vai”, “Agora chegou o momento desliza e joga vai”, “Você que está em casa, não quero ver ninguém parado. Vai, vai, vai...”, não surtiram efeito.

Nem os vários hits como “No Talo”, que abriu o show, fez com que Rennan da Penha, que ainda passou por “Aquecimento Sax Challenge”, “Amor de Quê”, “Na Raba Toma Tapão”, “Combatchy”, “Seu Gostoso Rebola e Joga”, “BPM 170”, “Hoje Eu Vou Parar na Gaiola”, “Deslizo e jogo”, “Tudo Aconteceu”, “Baila Comigo Original”, “4 Coisas que as Bandidas se Amarra”, “Talarica”, entre outros, conseguisse animar o “baile” pela tela do computador.

Às 23h30, da Penha passou o palco para seu “chegança” MC Kekel com o hit “Cinderela”, seguido por “Solteiro até Morrer”, “Namorar pra Quê”—na qual Kekel errou e pediu para o DJ que o acompanhava voltar ao começo—, “Quem Mandou Tu Terminar”, “Desencana” e mais "uma pá" de músicas nas quais o MC desafinou, atravessou e deixou claro que, sem a zoeira do público, sua arte de amealhar os sons é frágil.

A revelação? No funk, o público é quem dá liga e significado ao som, que, mesmo sendo executado precisamente, dentro do beat, mas sem gente para dançar e cantar junto, fica meia boca, chocho, sem sentido, desarrazoado, enfadonho, igual aos discursos que criminalizam o gênero.

Rennan da Penha e MC Kekel em apresentação no Theatro Municipal durante a Virada Cultural
Rennan da Penha e MC Kekel em apresentação no Theatro Municipal durante a Virada Cultural - Reprodução
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