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Jogo brinca com a origem soviética do 'Tetris', um dos maiores clássicos dos games

Irônico e bem-humorado, 'Kosmokrats' faz piada com burocracia da URSS e também com os dias atuais

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Belo Horizonte

Jogar videogame e ao mesmo tempo contribuir para o sucesso e a glória da mãe Rússia na corrida espacial contra os inimigos capitalistas em meio à Guerra Fria. Essa é a premissa do game “Kosmokrats”, uma bem-humorada e irônica homenagem a um dos maiores clássicos dos videogames de todos os tempos, o “Tetris”, criado na Rússia em 1984, antes da era Gorbachev, que marcou o início do fim do regime soviético.

O famoso jogo de encaixar bloquinhos foi inventado pelo engenheiro russo Alexey Pajitnov, em seu tempo livre, no período em que ele trabalhava na Academia de Ciências da União Soviética.

No fim dos anos 1980, o jogo cruzou a cortina de ferro e virou hit mundial com o Game Boy.

Quando o sueco Carl Granberg criou “Kosmokrats”, mais de três décadas depois, ele não havia pensado em envolver seu jogo na roupagem de uma União Soviética fictícia em meio à corrida espacial. Toda a mecânica do game recém-lançado foi criada em menos de 24 horas, numa game jam —uma espécie “intensivão” de desenvolvimento de games.

“O conceito era ‘Tetris’ em gravidade zero”, conta Granberg. Em vez de encaixar blocos que caem aleatoriamente da parte de cima da tela, em “Kosmokrats”, o jogador tem que encaixar peças flutuantes predeterminadas com a ajuda de um drone, que empurra as estruturas para o encaixe. Tudo isso tem um
limite de tempo para ser feito, antes que o arranjo atinja a estratosfera e pegue fogo.

“A princípio, a ideia era fazer um jogo mobile, mais direto e rápido”, diz Granberg. Mas, com o tempo, ele percebeu que as inúmeras fases e diferentes encaixes precisavam de algo que os amarrasse uns aos outros, para dar unidade ao jogo e motivação ao jogador. Foi aí que Granberg decidiu fazer uma “historinha”. “E, por causa da origem do ‘Tetris’, nós decidimos ambientar na União Soviética, numa realidade alternativa”, diz.

Na montagem das estruturas espaciais, pode ser que um ou outro cosmonauta acabe morrendo esmagado pelo drone, mas isso não é lá um grande problema. Basta poupar algumas sacas de batata inglesa e se esquivar de um certo cosmonauta estrelado chamado Yuri que tudo termina bem.

A sátira política permeia o jogo todo, mas não espere piadas escrachadas como as de “Borat”. “Esse jogo tenta usar um humor seco dos russos”, diz Granberg, que tentou fazer paralelos irônicos com o mundo atual. Por exemplo, no game, há uma eleição russa, que é rodeada por suspeitas de interferências americanas —o oposto do que aconteceu em 2016, nos Estados Unidos, quando o Kremlin foi acusado pela CIA de ajudar Donald Trump a se eleger presidente.

Mesmo com gráficos simples, a produção aposta numa direção de arte bem pensada. O interior da estação, de onde o jogador controla os drones, tem ares de retrofuturismo, com computadores com tela de tubo e jornal impresso. Munidos de bigode e sotaque caricato, os personagens lembram fantoches —lembram também a forma como os canadenses são representados em “South Park”, com bocas que atravessam horizontalmente quase a cabeça toda.

A ironia com a burocracia soviética é outra constante. Em “Kosmokrats”, o jogador controla um funcionário de uma estação espacial russa, responsável por descascar batatas, que acaba sendo destacado para substituir emergencialmente um piloto de drones. A partir daí, a narrativa tem várias bifurcações que vão depender das escolhas e da habilidade do jogador.

Kosmokrats

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