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Minissérie sobre Menudo ignora os escândalos e só vai conquistar ex-fãs do grupo

Atração disponível no streaming cobre os 20 anos em que a banda existiu de maneira ininterrupta, de 1977 a 1997

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São Paulo

Súbete a Mi Moto

Em 1984, um fenômeno pop que já consumia toda a América Latina chegou ao Brasil com força total. Cantando musiquinhas grudentas em português com sotaque, a boy band portorriquenha Menudo enlouqueceu crianças e adolescentes por aqui.

Foi, literalmente, um massacre. Duas pessoas morreram pisoteadas durante o show do grupo no estádio São Januário, no Rio de Janeiro, em março de 1985. O lugar comportava 60 mil espectadores. Dos 130 mil que compraram ingresso, segundo os próprios organizadores do espetáculo, 80 mil conseguiram entrar. Deu no que deu.

menino de camiseta vermelha com amigos ao fundo
Cena da série Súbete a mi Moto, do Amazon Prime Video - Divulgação

Este episódio dramático é contado na minissérie “Súbete a Mi Moto”. Serve até de gancho para um dos 15 episódios, mas não é explorado a fundo. Como quase tudo nesta produção, recebe uma abordagem superficial, que em nenhum momento questiona a integridade do verdadeiro protagonista do programa, o empresário Edgardo Díaz.

“Súbete a Mi Moto” cobre os 20 anos em que o Menudo, ou miúdo, em espanhol, existiu de maneira ininterrupta, de 1977 a 1997. A série ostenta exuberante riqueza de detalhes, além de várias perucas assustadoras, mas também passa ao largo das muitas denúncias de exploração de trabalho infantil e abuso sexual.

É uma versão chapa-branca da história de um grupo que marcou a infância de milhões de garotas, hoje mulheres de meia-idade. É só a elas que “Súbete a Mi Moto” se dirige.

O roteiro até tenta mostrar o ponto de vista das fãs. A ação se passa em dois tempos diferentes. No passado, vemos o ambicioso Edgardo Díaz, papel de Yamil Urena, buscando uma fórmula infalível de sucesso, depois de alguns fracassos musicais. O conceito a que ele chega era revolucionário para a época e cruel até hoje —um grupo vocal com elenco rotativo. Ao completar 16 anos, o integrante sai sem a menor cerimônia e é substituído por outro, mais jovem. Foram 33 ao todo.

No presente, um Edgardo envelhecido, vivido por Braulio Castillo, dá entrevista à blogueira mexicana Julieta, papel de Josette Vidal, numa trama paralela ficcional. A adolescente está desobedecendo à mãe, Renata, vivida por Rocío Verdejo, que foi uma fã do Menudo, mas hoje quer que a filha se afaste de qualquer coisa que tenha a ver com a banda. Por quê? O segredo não é dos mais convincentes.

Mais interessante é ver o processo de seleção de novos membros. Ricky Martin —o único que emplacou uma carreira solo de sucesso mundial— só é aprovado no terceiro teste, porque antes ainda era pequeno demais. Mas passa a dominar a cena desde logo, como se tivesse nascido pronto. Martin é interpretado por dois atores, em idades diferentes, Ethan Schwartz e Felipe Albors.

Mesmo sendo um produto de nicho, “Súbete a Mi Moto” poderia ter um alcance maior no Brasil, se a plataforma de streaming não tivesse mantido o título original, que também é o nome de uma canção do grupo. Muito mais apropriado para nós seria “Não se Reprima”, o maior hit que o Menudo teve por aqui.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior desta crítica dizia que Ricky Martin é vivido no seriado pelos atores Ricardo Alvarez e Felipe Albors​, e que ele era o único membro da banda a ser interpretado por dois atores. Também afirmava que as fãs do Menudo, sucesso nos anos 1980, hoje são mulheres idosas.​ O texto foi corrigido.

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