Acompanhada de um time vigoroso, a cantora Elza Soares se apresentou na noite deste sábado (12), às 20h, como parte da programação da Virada Cultural. Ela apresentou o show “Onda Negra”, em parceria com o cantor e compositor Flávio Renegado.
Aos 90 anos, e cantando sentada como já vem fazendo desde 2017, Elza comandou uma performance empolgante. De cima de seu praticável centralizado no palco, reinou entre os cinco músicos.
“Onda Negra” aconteceu no Theatro Municipal, em transmissão com o palco virado, de modo que as câmeras também mostravam a plateia sem público, mas com um desenho de iluminação ao mesmo tempo impecável e eficaz em preencher o espaço.
O espetáculo abriu com “Coração do Mar”, apoiado em um sample de cordas. Ao vivo, a banda contou com percussão de Dalua e violão de J. P. Silva.
Elza seguiu com “Mulher do Fim do Mundo”, canção com o mesmo nome de seu 32º álbum de estúdio, lançado em 2015. Ao fim dos versos, Elza agradeceu à cidade de São Paulo, e disse se sentir honrada. “Amo você demais.”
O repertório trouxe “Volta por Cima”, de Paulo Vanzolini, samba com o famoso refrão sobre levantar e “sacodir a poeira”. “Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava”, cantou Elza, que também aproveitou para adaptar a letra para o gênero feminino.
Uma versão funkeada de “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho, antecedeu “Maria da Vila Matilde”, com seu refrão sobre “se arrepender de levantar a mão pra mim”. E que, não importa quantas vezes Elza a entoe, consegue arrepiar invariavelmente. “Denunciem, mulheres, por favor”, disse.
Em seguida, o roteiro veio com “Sei Quem Tá Comigo”, de Flávio Renegado. Aos 38 anos, o mineiro tem quatro discos gravados, o primeiro de 2008. Ele nasceu e cresceu na favela do bairro Alto Vera Cruz, uma comunidade de Belo Horizonte, e sua origem está frequentemente refletida em suas composições.
Em “Malandro”, de Jorge Aragão e Jotabe, Dalua tocou cuíca de joelhos ao lado de Elza. Um dos pontos altos foi também “Meu Guri”, de Chico Buarque, com Elza acompanhada do violão de Silva e inserções de Renegado na guitarra fazendo as vezes de um bandolim. Terminou aplaudida pela banda
“Renegado, o que precisamos fazer para não nos matarem mais?”, perguntou Elza. “Elzinha, nós temos que gritar por justiça e por respeito, porque a nossa carne não é mais a mais barata, nem está de graça. A gente vai continuar resistindo”, respondeu Renegado.
A dupla apresentou, então, “A Carne”, com a letra adaptada para o passado –“a carne mais barata do mercado foi a carne negra, agora não é mais”.
“Eu tenho um sonho, de poder ir ao mercado sem medo de bala perdida ou bala achada, sem medo de sofrer injustiça”, declamou o artista para abrir a sua “Black Star”. Em seguida, emendou com “Negão Negra”, single lançado em julho deste ano junto com Elza.
Na letra, um hino à resistência, é sublinhado o desejo de que “a escravidão não volte nunca, nunca, nunca mais”. A apresentação se encerrou com uma sequência de “Minha Tribo É o Mundo”, de Renegado, e da arrebatadora “Banho”, de Tulipa Ruiz.
No show anterior, o Terceiro Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba, com participação de Martnália e Fabiana Cozza, Elza havia sido homenageada no encerramento, com “Lata D’água”.
A marchinha de Carnaval, composta há mais de 60 anos como crítica à falta d’água no Rio de Janeiro, foi eternizada pela cantora em sua carreira.
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