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Cinema

'Soldado Estrangeiro' evita psicologismo rasteiro e maniqueísmo

Documentário tem propósito antibelicista e destaca vida de brasileiros que se alistam em Exércitos estrangeiros

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Soldado Estrangeiro

  • Quando A partir de 3 dez.
  • Onde Nos cinemas
  • Produção Brasil, 2019
  • Direção José Joffily e Pedro Rossi
  • Duração 86 min.

José Joffily tem feito uma carreira bem-sucedida na direção de documentários que têm as vocações como tema. Talvez seu melhor filme nessa seara seja “Vocação do Poder”, de 2005, que investiga as motivações para alguém se dedicar à vida política. Codirigido por Eduardo Escorel, a produção acompanha seis candidatos a vereador no Rio de Janeiro, na reta final da campanha para as eleições de 2004.

Dez anos depois, desta vez em parceria com Pedro Rossi, Joffily apresentou “O Caminho de Volta”, que registra o cotidiano de dois brasileiros que deixaram o país há muitos anos e que desejam retornar. Nesta quinta (3), estreia nos cinemas “Soldado Estrangeiro”, em que Joffily e Rossi voltam a assinar a direção juntos. Eles acertam mais uma vez ao optar por uma câmera que só observa, sem interferir diretamente na ação.

Os diretores têm um mote bem definido, a vida de três brasileiros que se alistam em Exércitos de outros países. Mas eles escapam de uma armadilha recorrente, que é partir de uma tese de antemão sobre o caráter e o temperamento dos rapazes para, em um segundo momento, formar juízos definitivos sobre a vocação militar.

É, portanto, nesse campo aberto, mais sutil e mais sujeito a surpresas, que “Soldado Estrangeiro” evolui.

O primeiro personagem é Bruno Silva, que vive na periferia do Rio de Janeiro. Junta o dinheiro guardado ao longo de anos para viajar para Paris a fim de servir na Legião Estrangeira, que adota métodos rigorosos de seleção. Ao deixar o país, Silva deixa a filha pequena com a avó.

Bem diferente é a condição de Mário Wasser, o mais jovem entre os personagens do filme. Nascido numa família paulista de classe média, é combatente no Exército de Israel numa base na Cisjordânia. Ao contrário de Silva, demonstra fluência na língua do país que escolheu e parece mais à vontade.

Silva está prestes a participar de um combate, Wasser vive uma situação de guerra todos os dias, e o terceiro retratado pelo filme, Felipe Nascimento, já passou por batalhas. Atuou como fuzileiro naval do Exército dos Estados Unidos na Guerra do Afeganistão e hoje vive em Nova York, sem emprego. Embora distante da rotina militar, Nascimento carrega marcas dos episódios sangrentos que vivenciou no front.

O documentário é testemunha dessas angústias, mas não se arrisca num psicologismo rasteiro. Evita o maniqueísmo de acomodar três homens de trajetórias complexas em classificações generalizantes.

As citações do romance “Johnny Vai à Guerra”, de 1939, de Dalton Trumbo, não deixam dúvida de que “Soldado Estrangeiro” tenha um propósito antibelicista. Mas os diretores passam longe de julgamentos peremptórios sobre os personagens que acompanham tão de perto.

Como sinal de respeito, os diretores deixam as conclusões para o espectador.

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