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'Vim ao mundo para deixar uma marca', disse o estilista Pierre Cardin à Folha

Morto nesta terça aos 98 anos, o francês relembrou suas passagens pelo Brasil em entrevista de 2011

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São Paulo

Morto nesta terça-feira (29), aos 98 anos, o estilista Pierre Cardin fez fama ao dedicar boa parte de sua vida à moda. Visionário, ele lançou o prêt-à-porter feminino, os terninhos sem colarinho e, ao lado de André Courrèges e Paco Rabanne, o conceito de futurismo no vestuário.

Suas criações marcaram profundamente a moda mundial —e era exatamente esse o objetivo do estilista francês. Em entrevista à Serafina, publicada pela Folha em 2011, Cardin brincou com o significado da palavra francesa "griffe", o equivalente a garra ou arranhão.

"Não vim ao mundo para fazer uma grife, e sim para deixar uma marca", afirmou ao repórter Danniel Rangel, que o entrevistou em ocasião da abertura da exposição "Pierre Cardin - Criando Moda Revolucionando Costumes", idealizada por Kalina Bourgeois, com curadoria de Denise Mattar.

Três mulheres vestem vestido coloridos. Uma veste vermelho, a outra verde e a outra laranja. A mulher da esquerda aponta para homem ao fundo
Cena do filme "House of Cardin", sobre a carreira de Pierre Cardin - Divulgação

Não é só à moda que se estende o legado de Cardin. O artista e empresário francês concebeu de roupas e acessórios até projetos arquitetônicos, chocolates, água mineral e avião. Quando recebeu a Folha, em seu escritório na avenue Marigny, em Paris, ele estava justamente desenhando. "Antes de estar aqui, eu estava no estúdio, criando um vestido. Desenhar é minha droga, o que me permite sonhar", disse.

Entre as personalidades que Cardin vestiu estão grandes ícones do século passado, como Jackie Kennedy Onassis, Jeanne Moreau, madame Georges Pompidou, Lauren Baccal e os Beatles. No Brasil, assinou modelitos usados pela socialite brasileira Carmen Mayrink Veiga.

Sobre sua primeira passagem pelo Brasil, há cerca de 60 anos, Cardin se lembrou de ter inaugurado a primeira feira de moda do país, a Fenit, ao lado do ex-presidente Juscelino Kubitschek. "Dessa época, me lembro de um Nordeste muito pobre e de uma São Paulo que começava a se desenvolver —não era essa coisa gigantesca de hoje", afirmou.

No Brasil, ele ainda esteve ao lado da então companheira Jeanne Moreau, quando a atriz gravava "Joanna Francesa", filme dirigido por Cacá Diegues em 1973. A música era de Chico Buarque e os figurinos, do próprio Cardin.

"Quando terminaram as filmagens, eu e Jeanne viajamos para a Bahia, Fortaleza, Manaus e depois ainda fomos para o Sul. Como vê, conheço bem o país, para onde já viajei umas 15 vezes, tanto de férias como a trabalho. Desfilei em São Paulo, no Rio, em Brasília. Cheguei a apresentar uma coleção para o presidente Juscelino e sua mulher, no palácio. Depois fomos passear de barco pelo lago artificial. Muito divertido!"

Cardin também conheceu o ex-presidente Fernando Collor, que contou ter pedido para servir de modelo, ainda muito novo. Anos mais tarde, o reencontrou quando o político já ocupava o Planalto.

Foram várias as figuras vestidas pelo estilista francês, que até em personalidades brasileiras desfilou suas criações. A família Matarazzo, por exemplo, também era cliente de Cardin, que disse na entrevista à Folha que, em certo momento, se cansou de vestir apenas os muito ricos. Foi quando inventou o prêt-à-porter e criou uma coleção para uma loja de departamentos —algo habitual hoje em dia, mas chocante na época.

"Eu era muito moderno, e tudo que é moderno assusta ou intriga as pessoas. Meu trabalho sempre foi baseado no contemporâneo mas também no futurista, no avant-garde. Ao mesmo tempo, todo ele é muito simples. Isso corresponde ao que as pessoas buscam nos dias atuais. Minha moda não é uma tendência, não é algo efêmero", afirmou.

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