Boca Livre racha de vez com saída de mais um integrante por causa da vacina

David Tygel anunciou sua saída pelos mesmos motivos políticos que levaram Zé Renato e Lourenço Baeta a deixarem o quarteto

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Belo Horizonte

Quatro dias após os músicos Zé Renato e Lourenço Baeta anunciarem que estavam deixando o Boca Livre, foi a vez de David Tygel sair do grupo. “Depois de pensar, de sofrer, de me reservar ao direito de sonhar, de me respeitar, abandono esse projeto que criei com tanto carinho”, escreveu o artista numa rede social, nesta quarta-feira (20).

Assim como seus ex-colegas de quarteto, Tygel disse ter tomado a decisão por divergências ideológicas com Maurício Maestro, que teriam chegado ao limite após o músico dizer que não iria se vacinar contra o coronavírus.

Segundo Tygel, a presença de uma pessoa no grupo que se identifica com uma postura antivacina encerra qualquer possibilidade de eles trabalharem juntos. "Eu sou totalmente a favor da vacina, então houve um corte na relação com o Maurício. Esse Boca Livre que as pessoas tanto se identificaram, e para o qual eu dei 40 anos da minha vida, esse Boca Livre não existe mais", disse por telefone.

Maestro é apoiador de Jair Bolsonaro e, nas redes sociais, costuma compartilhar publicações de aliados do presidente. Entre as mais recentes, há um vídeo do blogueiro Allan dos Santos, que é investigado no inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal, e outro de Olavo de Carvalho, considerado um guru dos bolsonaristas.

Procurado, ele disse que não iria comentar a saída de Tygel do grupo, o que chamou de “decisão pessoal”.

David Tygel durante show do Boca Livre, no Canecão, em 2006 - João Cordeiro Jr/Folhapress

Parceiros mais antigos do quarteto, David Tygel e Maurício Maestro frequentaram o mesmo colégio no Rio de Janeiro e, em 1966, formaram o grupo Momento 4uatro. Após o encerramento do conjunto, os dois ficaram um período separados antes de fundarem o Boca Livre em 1978.

Tygel explica que foi essa relação de longa data com Maestro que o fez pensar duas vezes antes de deixar o quarteto com Zé Renato e Lourenço Baeta. Segundo ele, ainda passava por sua cabeça a possibilidade de continuar com o Boca Livre apesar das discordâncias. “Isso era uma loucura minha obviamente, mas fez com que demorasse alguns dias até tomar minha decisão”, afirmou.

O músico disse que telefonou para o colega para conversar sobre a situação. “Eu disse ‘Maurício, essa sua posição realmente nos afasta ideologicamente, nos afasta politicamente e nos afasta pessoalmente, porque é impossível conciliar a arte e a vida num momento em que você está defendendo uma posição que não é nem uma questão de política, é uma discussão de genocídio'", disse.

homens de blazer posando para foto
Grupo Boca Livre. Da esquerda para a direita: Maurício Maestro, David Tygel, Zé Renato e Lourenço Baeta - Frederico Mendes/Divulgação

Com isso, o quarteto vocal carioca formado há mais de 40 anos perde três integrantes. Como a marca pertence a Maestro, ainda não se sabe se ele vai manter o Boca Livre ativo.

Por enquanto, Tygel diz que seguirá com os trabalhos de professor universitário e como compositor de músicas para filmes.

“Eu estou fazendo trilhas para dois longas-metragens e sou um professor realizado. Tenho mais de 150 alunos por semana aqui no Rio de Janeiro. No momento, não tem nem como pensar em trabalhar em um [novo] grupo vocal”, afirmou.

Já em relação a Maurício Maestro, que chama de “um gênio musical e grande companheiro”, ele diz ter esperança de que as coisas mudem. "Espero que um dia caia a ficha do Maurício e ele possa seguir a vida dele com mais abertura, revendo essa posição em que ele se encontra, mas eu não tenho controle sobre isso. E, como eu não tenho esse controle, a melhor decisão foi sair do grupo", disse.

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