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Figurino de 'Bridgerton' é versão tecnicolor de universo de Jane Austen

Cerca de 7.500 roupas e acessórios da produção acompanham a trama ao misturar elementos de várias épocas

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São Paulo

Quem é fã das adaptações cinematográficas dos romances de Jane Austen talvez tenha ficado com a pulga atrás da orelha ao assistir à série “Bridgerton”, da Netflix.

Os vestidos que as debutantes usam nos bailes até parecem com aqueles das irmãs Bennet em “Orgulho e Preconceito”, com suas mangas curtas, decotes profundos e cinturas lá em cima. Mas são quase uma versão em tecnicolor deles, com camadas extras de brilho e saturação.

Isso porque, da mesma forma que a série se distancia do real ao mostrar negros como nobres no início do século 19, quando a escravidão ainda era vigente no Reino Unido, os figurinos também extrapolam todo esse contexto histórico.

Em entrevista à revista Harper’s Bazaar, a figurinista da produção, Ellen Mirojnick, afirmou que buscava na série a visualidade das publicações de moda atuais, cheias de contraste e matizes vibrantes.

Essa discrepância em relação ao período é especialmente clara nas cores dos figurinos, segundo Carolina Casarin, professora de história da moda e indumentária e doutora pela Escola de Belas Artes da a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ.

Ela afirma que tons estridentes como o amarelo-ovo que Penelope, a caçula dos Featherington, é obrigada a usar pela mãe, nem eram viáveis para a tecnologia têxtil da época. Elas só começaram a aparecer nos tecidos em meados daquele século, com a criação de pigmentos artificiais.

“É claro que já existia o roxo, por exemplo”, afirma Casarin. “Mas ele significa luxo e poder justamente porque era muito difícil de conseguir.”

O mesmo vale para as roupas suntuosas do playboy duque de Hastings. Seus coletes bordados e casacas coloridas chamam atenção justamente por não adotarem as cores neutras que então viravam norma no guarda-roupa masculino —preto, cinza, marrom.

No caso dele, porém, a equipe de arte parece voltar no tempo, em vez de avançar, diz Casarin. Eram os nobres do Antigo Regime que vestiam tecidos coloridos e estampados, o que resultava em roupas bem parecidas com as das mulheres da mesma época, segundo a professora. “É só depois da Revolução Francesa que as vestes masculinas e femininas ficam diferentes.”

Já os tons claros que a mocinha Daphne desfila eram os mais comuns então. E não só para transmitir a pureza de uma jovem dama em busca de um pretendente.

Casarin diz que peças brancas eram valorizadas nos guarda-roupas de ambos os sexos porque comunicavam asseio e, desse modo, riqueza —como os nobres não trabalhavam, significava que alguém tinha limpado aquilo tudo.

A quantidade de trocas de roupa da protagonista também é bem fiel aos tempos. Mirojnick afirmou à Harper’s Bazaar que Daphne tem 104 figurinos diferentes. Roupas e acessórios da série somam em torno de 7.500 itens.

“Temos que lembrar que as mulheres mudavam de roupa a cada evento que frequentavam, inclusive os que aconteciam dentro de casa ”, diz Casarin, acrescentando que isso se prolonga até o século 20.

Ela afirma, porém, que mesmo produções que são mais fiéis a uma reconstrução histórica não poderiam ser tachadas de realistas. Em parte, porque muitas vezes as referências usadas para a elaboração delas são também representações, como pinturas e relatos.

Mesmo vestidos armazenados em museus podem servir como documentos sobre modelagem e costura, por exemplo, mas não são a mesma coisa que vê-los num corpo real, acompanhado dos devidos adereços.

Além disso, “quando mais para trás vamos, pior as roupas vestiam”, conta Casarin. Por isso, qualquer figurino bem-ajustado no corpo não é realista. “Mas é claro que ninguém vai pôr roupas mal-ajambradas nesses atores.”

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